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A afronta

Por Abdon Marinho

Como já disse tenho dificuldades em processar as coisas que acontece no nosso Maranhão. Essa dificuldade decorre do fato de não conseguir me acostumar com muitas coisas que acontecem por aqui e também por não acreditar na maioria delas. Esse novo escândalo chamado de “bolsa-eleição” é um exemplo disso. Estou esses dias tentando entendê-lo, não que tenha ilusões que isso não ocorra, acho até que esses duzentos e poucos é apenas uma pequena parte das inúmeras sinecuras existentes na máquina estatal, que deve ter centenas de outras, assim como no nos municípios, quem não lembra dos milhares de contratados no serviço público municipal de São Luís? Pois é, retiraram um bocado mas ainda faltam muitos. E na Câmara Municipal, quantos estão lá sem trabalhar? E na Assembleia Legislativa, também não existem centenas? E nos municípios do interior, quantas não são as sinecuras? Como vemos, a tal “bolsa-eleição” está muito mais presente do que podemos imaginar. São milhares de pessoas encasteladas nos cargos públicos sem trabalhar, recebendo pelos votos que deram ou que ainda poderão dar. Não fazem nada vezes nada. Se algum gestor reclama ouvem logo isso: mas eu votei no senhor! Pronto. Está justificado o emprego para si, para os seus. Enquanto sobram servidores, faltam serviços públicos, saúde, escolas, etc.

O ‘”bolsa-eleição” de Roseana não é uma novidade. Sequer chega a ser uma ideia original. O programa já existia e existe no Maranhão inteiro à vista de todos deste muito tempo.

A única novidade que há na bolsa do governo estadual é o momento. Vejam que vieram na cara dura, no instante em que todos cobram moralidade, ética, um basta na corrupção e nos desmandos e lançam o tal “programa”. O que surpreende é a afronta, o destemor, o desrespeito.

Fiquei esperando as explicações do governo. Elas vieram. O governo deu uma nota que vazia de conteúdo faz revelações surpreendentes. Lá está dito: “Essas lideranças trabalham todos os dias e o dia todo, dentro das suas comunidades. A reunião de todos esses representantes é que se dá uma vez por mês”. Trata-se de assumir claramente que essas pessoas exercem para os governantes a nobre função de “cabo eleitoral” se bem, que o salário que percebem, estão mais para “generais eleitorais”.

A nota revela nas entrelinhas outra coisa leiam: “A inclusão de lideranças dos diversos municípios, indiscutivelmente conhecedoras das realidades regionais de um estado tão grande como o nosso, significa trazer para a mesa de discussão uma ampla representatividade do nosso povo.”

Trata-se de uma frase de efeito de largo impacto. Uma ideia formidável para representatividade do nosso vasto estado. Mas me permitam uma indagação: se é esse conselho que trará para a mesa a discussão ampla, pois conhecem as “realidades regionais”, qual é mesmo o papel dos quarenta e dois deputados estaduais que nos custam uma fortuna todos os meses? O governo está nos dizendo que estamos mal representados e por isso precisamos dos conselheiros, é isso? Não discordo do governo ao externar essa opinião, estamos mesmo mal representados, tanto que os deputados aceitam a afronta sem esboçar qualquer reação. Acho até que poderíamos trocar a Assembleia Legislativa pelo conselho, seria bem mais econômico e o estado estaria bem melhor representado, segundo a opinião do governo. O que acham?

Agora falando sério. Tudo que vem acontecendo no Maranhão e no Brasil, a forma como os donos do poder o exerce, o patrimonialismo, a falta de zelo com os recursos públicos, os gastos desnecessários, o favorecimento de parentes e aliados e por ai vai. A próxima eleição nos trará outros tipos de bolsas, tais como “bolsa amante”, muitas outras que não se pode dizer por aqui.

O “bolsa eleição” como disse, não é o primeiro, não é o único e não é a derradeira prova das coisas absurdas que os nossos representantes julgam que podem fazer com os recursos dos nossos impostos. É só mais um exemplo de lamentável vergonha.

Abdon Marinho é advogado eleitoral

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