Por Milton Corrêa da Costa
Como se não bastassem os tumultos causados com a realização das chamadas ‘Marchas da Maconha’, um blog da Coordenação de Saúde Mental, programa da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio, recomenda -é inacreditável a tamanha desfaçatez- e orienta usuários de maconha ao plantio da erva para consumo próprio, além de orientar também a frequência ao culto da seita do Santo Daime, como formas de redução de danos à saúde, tudo isso com a logomarca da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, conforme matéria de destaque do Jornal ‘O DIA’/RJ, de sábado, 12/05/12.
Ou seja, apologia explícita e oficializada ao uso de droga ilícita, crime previsto no artigo 33, parágrafo segundo, da Lei 11343./06, a Lei Antidrogas, em pleno vigor em território nacional.( “CONSITUI CRIME INDUZIR, INSTIGAR OU AUXILIAR ALGUÉM AO USO INDEVIDO DE DROGAS”), lembrando que o uso e o plantio da cannabis e outras formas, também são proibidos pela citada lei.
Inacreditável e inadmissível tal prática permissa, via Internet, arquitetada através de um órgão oficial da prefeitura municipal, num total desrespeito à lei e à ordem.Uma grave e perigosa ameaça à sadia juventude, cuja prevenção ao não uso de drogas é a estratégia recomendável, não a permissividade e o incentivo ao uso. Será que a Secretaria Municipal de Educação também segue, oficialmente, tais orientações (“pedagógicas”) e recomendam para alunos da rede de ensino, envolvendo crianças e adolescentes. É preciso apurar. O que realmente estará por trás disso?
É por demais sabido, inclusive, que a maconha, tal e qual o álcool, são comprovadamente portas abertas ao consumo de drogas mais pesadas. O incrível é que a orientação e o incentivo para a prática criminosa parte de um órgão que trata de saúde mental. Um recente estudo, elaborado pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) concluiu que o hábito de fumar maconha, mesmo em pouca quantidade, PODE DANIFICAR A MEMÓRIA. Quando o uso é crônico e se inicia antes dos 15 anos de idade, o risco é ainda maior, devido ao efeito tóxico e cumulativo do tetrahidrocanabinol(hoje mais potente pelas mutações genéticas), no desempenho cerebral, afirma a pesquisa.
Um outro estudo, coordenado pelo médico Killian A, Welch, da Universidade de Edimburgo, observou os efeitos do uso da maconha e sua relação com a esquizofrenia onde foram estudadas as mudanças estruturais no tálamo e na amígdala-hipocampo ao longo do tempo, em 57 pessoas, com idade entre 16 e 25 anos que estavam bem, passando por uma avaliação completa, incluindo um exame deressonância magnética. Dois anos mais tarde, cada um deles retornou para outra ressonância magnética e responderam a perguntas sobre o uso de drogas ilícitas, inclusive a maconha, bem como seu uso de álcool e tabaco no período entre os exames. Dos 57 participantes, 25 tinham usado maconha entre as duas avaliações.
Conclusão da pesquisa: “Os pesquisadores descobriram que osparticipantes que tinham usado maconha mostraram redução do seu volume talâmico que foi significativo no lado esquerdo do tálamo (F = 4,47, P = 0,04), e altamente significativos à direita (F = 7,66; P = 0,008). No entanto não se observou nenhuma perda de volume do tálamo naqueles que não fizeram uso demaconha durante o período de 2 anos.”
Em entrevista ao site Medscape Medical News, afirmou o autor da pesquisa , dr. Kilian Welch: “Já é aceito pela maioria dos psiquiatras que fumar maconha AUMENTA O RISCO DE PSICOSE no indivíduo, e mais especificamente a esquizofrenia . Este é o primeiro estudo longitudinal a mostrar que o consumo de cannabis por indivíduos com riscoaumentado de esquizofrenia resulta em desenvolvimento cerebral de maneira diferente daquela como se desenvolve se não usar a droga,” observou o Dr.Welch.
Nesse contexto de apologia oficializada ao uso de drogas, questiona-se ainda a recomendação da página em questão para frequência aos cultos da seita Santo Daime, lembrando que um dos frequentadores, o jovem Kadu, com 24 anos à época, sob o efeito de maconha, conforme comprovado em exame toxicológico, matou,em São Paulo, no ano de 2010, o criador da citada seita, o cartunista Glauco Vilas Boas e o filho deste. Kadu fumava maconha desde os 15 anos de idade, tendo o uso contínuo da droga acelerado seu processo de esquizofrenia, segundo relato do próprio pai.
Aqui vale ressaltar o importante depoimento do presidente da Associação dos Dependentes Químicos em Recuperação, ao jornal ‘O DIA’, não poupando críticas ao conteúdo do blog, que estampava o conteúdo do livro “Drogas: Clinica e Cultura/Toxicomanias, Incidências Clínicas e Antropológicas”, e recomendado pela Coordenação de Saúde Mental, programa da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil: “O que está por trás disso é uma política nefasta de legalização das drogas. Defendemos ajuda para quem, por algum motivo, acreditou que seria bom usar drogas, e teve suas vidas e de suas famílias destruídas, mas agora quer recomeçar tudo sem usar drogas”, afirmou.
O blog em referência, às 22h da sexta-feira 11/5, depois de questionamentos feitos pelo Jornal ‘O DIA’, com 105 mil visitações, tirou o conteúdo do livro do ar, onde num trecho (pasmem) afirmava: “Permitindo ao usuário produzir a droga que consome, estaria contribuindo com sua saúde”. Acho que tal permissividade estaria em verdade contribuindo ainda mais para a desgraça e o desrespeito familiar, onde filhos drogados cultivariam a maconha em suas residências para depois fazerem uso da droga e permanecerem em estado letárgico, amotivados para a vida saudável. Alguns viram, em realidade, ‘trapos humanos’ pelo uso e dependência de drogas e destroem famílias inteiras.
Absurdo e ousadia com todas as letras. Espera-se agora que a Polícia Civil e o Ministério Público apurem a infringência à Lei Antidrogas e possivelmente ao Estatuto da Criança e do Adolescente, observado o explícito incentivo ao uso de droga ilícita.
Milton Corrêa da Costa é coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro.
Temos que nos unir para investigar até onde os funcionários da coordenadoria de saúde do Rio levaram esta apologia. Se esta prática é levada para dentro do atendimento dos ambulatórios de atendimento a dependentes químicos da cidade nos CAPSad