Por Milton Corrêa da Costa
O que só era imaginável, até os dias de hoje, em violentos protestos e rebeliões ocorridos em países árabes e europeus, na luta por ideologia política partidária, fundamentalismo religioso, lutas por territórios, repulsa a regimes ditatoriais e diferentes manifestações contra crises no sistema econômico, agora chegou ao Brasil. Impressionantes as lamentáveis cenas de depredação do patrimônio público e privado vistas na última quinta-feira, 20 de junho, em diversas cidades do país, num movimento que tem ao mesmo tempo os dois lados da moeda; o pacifismo e o anarquismo. A Copa das Confederações virou a Copa das Manifestações.
Alguns episódios desse contexto violento, com contaminação progressiva, chamaram atenção para as ações descontroladas onde manifestantes radicais atacam diferentes alvos pela violência e onde cada um age por si e ao mesmo tempo por todos, aproveitando o anonimato da turba, onde as lideranças são descentralizadas, se comunicam em rede pela Internet e não aparecem para negociar se declarando desvinculadas de partidos políticos. A ideia- força é a luta pela melhor qualidade de vida para o povo e o fim da corrupção. .
Estamos, portanto, diante de um fato de características sui generis onde cientistas sociais e políticos não conseguem explicar. Observem que até um carro de uma emissora de TV, no Rio, foi incendiado. Se querem repercussão de mídia sobre as manifestações que se apresentavam primeiramente contra aumento de passagem de transportes, por que danificar um carro da imprensa?
Em Brasília, durante as ações de vandalismo desta quinta-feira, uma senhora, que acompanhou com os dois filhos menores, de 8 e 10 anos, as manifestações, disse a uma emissora de rádio que a partir de agora, após assistir as cenas de tentativas de destruição, “se orgulhava de seu país e do que os filhos testemunharam”. Difícil entender uma reação como essa.
O fato é que os governos e suas estruturas de inteligência policial, e principalmente a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) foram surpreendidos pelo fato novo e não se sabe ao certo quem são os líderes negativos que empreendem ações de terrorismo urbano arremessando bombas incendiárias contra tudo que vem pela frente, com os rostos encobertos. O que é pior: não se sabe quem comanda e até onde o preocupante contexto vai se estender e a que nível a ordem institucional estará ameaçada.
Ninguém, num estado democrático de direito, está impedido de manifestar-se livremente dentro dos limites da ordem pública. Reivindicar saúde eficiente (morrer sem atendimento médico num corredor fétido e superlotado de um hospital é desumano), moradia digna, educação, segurança relativa, transporte público de qualidade e o fim da corrupção que desvia dinheiro público para o bolso dos ladrões. além de leis mais duras contra os criminosos é um direito que todos reivindicam, desde que os movimentos reivindicatórios se desenvolvam pacificamente.
A persistir os atos de vandalismo- a porteira foi aberta- com perigosa ameaça à ordem pública e à ordem institucional, não restará outra alternativa aos governos estaduais e ao governo federal em especial, fazer uso dos remédios constitucionais com adoção de medidas necessárias para a manutenção da lei e da ordem, inclusive com o emprego das Forças Armadas. Nesse caso aumenta-se o poder do estado e restringe-se direitos e garantias individuais. Os tanques de guerra então sairão às ruas para conter a desordem. Incômoda decisão para Partido dos Trabalhadores. O anarquismo virou fato real. O capitalismo selvagem e excludente é a causa principal das rebeliões no mundo.
Milton Corrêa da Costa é analista de conjuntura de violência urbana