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Agiotas ameaçam, agridem e até debocham para cobrar dívidas

Do Fantástico

O Fantástico volta a falar de um assunto que chocou o Brasil esta semana. Uma idosa, de 79 anos, foi brutalmente agredida dentro de casa por um agiota que cobrava uma dívida do neto dela.

Infelizmente, a violência desses bandidos não é novidade – como mostram escutas telefônicas gravadas pela polícia.

Policiais vasculham uma favela em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. No lugar de casas simples, um sobrado chama a atenção. No local, Marcelo Jeremias vivia cercado por aparelhos eletrônicos comprados com dinheiro do crime. Era extorquindo pessoas que Marcelo ganhava a vida até ser preso na última quinta-feira (5).

A ascensão dele começou no fim de outubro de 2011, quando a policia desmontou uma quadrilha de agiotas e prendeu 15 bandidos.

“Nós apreendemos, debaixo da cama do então líder da quadrilha, algo em torno de R$ 800 mil. Notas promissórias, cheques, alcançando uma quantia superior a R$ 5 milhões de valores consignados”, diz o delegado Marcos André Buss.

Na época, Marcelo era apenas um dos gerentes do bando. Mas no dia da operação policial, enquanto os chefes eram presos, ele assumia o negócio criminoso, como mostra uma escuta autorizada pela Justiça. “Para mim, nada. Deu m… para os grandes”, diz ele na gravação. “Estou em casa, graças a Deus, agora eu sou empresário. Sou patrão agora”, diz Marcelo.

“Nós temos notícia de que uma conta bancária que passou a ser utilizada no mesmo dia da prisão, passou de R$ 0 para R$ 7 mil em algo em torno de quatro ou cinco horas. Porque esse Marcelo que está preso hoje já passou a ligar para as vítimas realizarem os depósitos em outra conta”, conta o delegado.

A oferta é grande, feita em jornais, distribuída em panfletos, no meio da rua mesmo. Dinheiro fácil, entregue sem burocracia. Parece a solução dos problemas, mas é, na verdade, uma armadilha. A entrada para um mundo de pavor e desespero.

Um homem que prefere não ser identificado é uma das vítimas dos agiotas. Ele pegou R$ 100 emprestado e não consegue saldar a dívida.

“Eu fui pagar, mas eles não querem R$ 100. Eles querem R$ 1,5 mil. Primeiro, invadiram a minha casa. Se não é meu vizinho que entra para separar a briga, ele tinha me matado”, conta o homem.

É uma história parecida com a da aposentada Lyriasiria dos Santos Gomes. No rosto da senhora de 79 anos, as marcas da violência de um agiota.

“Eu estava deitada, ele chegou e me abordou. Começou me bater, me bater, me bater. Aí eu comecei a lutar com ele. Aí comecei a gritar a minha filha. Ele ficou com medo e foi embora”, relata a aposentada.

Por causa de R$ 150 que o neto dela devia, a aposentada ficou cega de um olho. “Foi uma coisa horrível, mas não surpreende, na medida em que nós temos notícias de homicídios que são praticados por quadrilha de agiotas. São pessoas cruéis, que fazem de tudo para recuperar esse crédito”, diz o delegado.

Durante as investigações, os policiais civis do Rio descobriram o mundo aterrorizante das cobranças dos agiotas.

“Cátia, você está me ouvindo, não está? Você acha que para chegar onde eu cheguei, eu cheguei como? Eu matei gente, eu vendi arma, eu fiz tudo que a senhora imagina que tem de ruim”, afirma um agiota.

Quando a pessoa faz um empréstimo, tem que deixar telefone e endereço de parentes. Assim, os bandidos conseguem ameaçar a família toda. “Está de gracinha? Eu pego seu filho, arrebento o seu filho”, ameaça a voz em uma gravação.

Em outra escuta, um cobrador está na casa da vitima. Por telefone, discute a cobrança com o chefe. “Terça-feira eu estou aguardando essa vagabunda com R$ 1 mil no escritório”. O chefe orienta: “Se ela não aparecer, você não vai aí à toa, não. Vou mandar a caminhonete tomar tudo, tudo que essa vagabunda tem de valor. Se nada me interessar nessa p… também, taca logo fogo nessa p… desse barraco”, grita o chefe do cobrador.

A dificuldade de pagar a dívida tem motivo: juros altíssimos. Em uma escuta, o agiota diz que os juros são de 48% e começa a cantar: “Pegou, tem que pagar, senão o bonde brota. Nunca confunda idiota com agiota. Seu tempo passou, nós vamos pedalar sua porta. Nunca confunda idiota com agiota”, fala um agiota.

Jonatas Silva Correia, que canta o funk, era um dos chefes da quadrilha e também foi preso. A polícia já encaminhou o pedido de mais 36 prisões ao Ministério Público.

“O ideal é que as pessoas não contraiam empréstimo para não caírem nesse ciclo, porque aí elas ficam vinculadas e dificilmente vão conseguir se libertar. Depois que já estiver nessa situação, ela não tem outra opção: tem que procurar a delegacia de polícia porque senão vai se submeter às exigências do agiota”, recomenda o delegado.

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