Como prometi ontem, esperei por vinte quatro horas uma explicação para saída de um preso da cadeia pela porta da frente, antes de escrever este texto pesquisei no site do governo do Maranhão, no da Secretaria de Segurança (nestes dois nem tem a notícia da vergonha), nos principais sites de notícias do estado, como imirante, jornal pequeno, principais blogues, em nenhum destes lugares encontrei a nota oficial do governo ou da secretaria explicando como um preso de alta periculosidade, agiota, agenciador de assassinatos, sai da cadeia, pela porta da frente. Um dos blogues que li informa que ele teria pago R$ 150,00 (cento e cinquenta reais) pelo passe-livre para delinquir. Isso mesmo, pagou essa quantia para o vigilante e foi delinquir, continuar seu oficio de agiota, extorquindo e sequestrando.
Soube que a delegada geral concedeu uma entrevista, soube também de um colóquio na secretaria hoje cedo. Louvo a atitude da delegada, ao menos isso. Entretanto, me perdoem, isso é muito pouco para a gravidade do acontecido.
Vejam, toda a vida é valiosa e tem igual valor, porém o assassinato do jornalista Décio Sá, pelas circunstâncias, pela ousadia dos assassinos de liquidar o cidadão numa das principais vias da cidade e ainda mais pelo caso envolver, até onde se sabe, inúmeros interesses e uma outra quantidade crimes conexos, deu a esse assassínio uma importância ímpar. Não é demais lembrar que o defunto foi pranteado até pelo então presidente do Senado da República, que esteve no cemitério que lhe serve de morada derradeira.
Logo um crime, relevante. Aí, vem a notícia que um dos principais envolvidos, tem a facilidade para sair da prisão onde se encontra – pela desenvoltura, acredito, que não tenha sido a primeira vez, acredito que não seja o único –, para “tocar os negócios”, foi preso em plena atividade laboral, sequestrando uma vítima da agiotagem que domina o estado, pagando a módica quantia de R$ 150,00 (cento e cinquenta reais). Pelo valor, você identifica o grau de esculhambação que está o sistema de segurança. Um agente público permite que um preso saia do presídio, recebendo em troca essa quantia. Um peixe e uma onça. Trata-se de um valor que simboliza muito bem a quantas chegamos. Esse peixe e essa onça vão além da desmoralização.
Com quase mil assassinatos, apenas na região metropolitana, talvez o secretário não tenha se dado conta da gravidade do fato, do quanto a segurança pública do estado está desmoralizada. Tão desmoralizada, a ponto de um policial, um vigia, tenham consentido em liberar um preso de tamanha periculosidade, para que, naturalmente, fosse exercer sua atividade criminosa. Isso sem contar, com motorista particular esperando a distinta figura na porta da cadeia.
A desmoralização do sistema de segurança chegou ao ponto do vigia, determinar o regime de cumprimento da pena dos prisioneiros à disposição da justiça. E, como disse, pela desenvoltura, pela naturalidade e pelo valor, levo a crer que não foi essa única vez, que não se trata apenas deste prisioneiro. Deve ter mais truta por aí.
Como dizia, acho que o secretário não entendeu a dimensão do fato. Se entendeu, deve ter dado de ombros e achado normal. Bem, como o preso foi preso (fica até cacofônica a construção), vamos punir os “oreias” envolvidos, e fica o dito pelo não dito, até que outro fato venha ocorrer. São pessoas, pensando assim, com esse grau de discernimento que são os responsáveis pela nossa segurança. Pessoas que não atinam para gravidade do fato ou, pior que isso, acham normal o que
vem acontecendo, os quase mil assassinatos (só este ano, só na região metropolitana), as execuções nos presídios, etc.
Quanto disse no começo do texto que esperava uma explicação. Eu, como Sarney, também acredito em Papai Noel, esperava que o governo do estado ou a secretaria de segurança, emitisse uma nota oficial, esclarecendo o que ocorrera. Um fato de tal gravidade, repito, não comporta um bate-papo com jornalistas amigos ou uma entrevista numa emissora amiga, com todo o respeito, de alguém que está no terceiro escalão da hierarquia do sistema de segurança. O fato exigia, no mínimo uma nota oficial, com fatos e circunstâncias, ainda que com juras de isso nunca aconteceu e jamais voltará a acontecer, segundado por uma entrevista coletiva do secretário, com todos os jornalista da cidade, e não apenas os amigos, para lhe indagar e questionar sobre os fatos que afligem a sociedade inteira.
Sua excelência não deu importância ao fato ou fatos ocorridos, assim como parece achar normal acertar o milhar nos assassinatos. Acertar o milhar, pelo que sei é bom, mas na loteria e não em números de assassinatos.
Sua excelência deveria ficar atenta ao menos para esse tipo de desmoralização a que está submetida a segurança, R$ 150,00(cento e cinquenta reais) é um pouco demais, digo de menos. Já que o sistema de segurança não consegue controlar a porta-giratória da cadeia deveria baixar uma portaria determinando: “Nada de se soltar presos por mixaria, só se solta aqui com propina grande, ao invés de R$ 150,00 (cento e cinquenta reais) deve se cobrar R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais)”. Vejam o absurdo que estou dizendo. Mas teria um efeito prático interessante, como nem todo preso teria a essa quantia, bem poucos sairiam. Diferente de cento e cinquenta reais que qualquer preso tem acesso.
Me perdoem esse excesso, é que fiquei o dia inteiro esperando uma satisfação, ontem disse que queria uma explicação plausível, hoje queria ao menos uma explicação. Mas uma vez, o governo e a secretaria, não se acham no dever de explicar fatos de tamanha gravidade para a patuléia que habita o andar de baixo.
Em outras épocas ou em outros lugares, fatos como estes, a matança crescente, a desmoralização que vem ocorrendo, não seriam motivos para o governador demitir seus secretários, seriam motivos para que eles pedissem demissão, com a cara compungida pela vergonha.
Aqui não, aqui tudo é normal. Tudo é banal. Tudo acaba em farra. Qual é mesmo a programação do réveillon da virada?