Por Abdon Marinho
A Ilha de São Luís sofre com as fortes chuvas, sofre mais ainda com a falta de iniciativa e diligência das autoridades. A chuva de segunda-feira deixou diversos pontos intransitáveis em toda região.
Um dos lugares onde o volume de água impediu o tráfego foi o elevado da COHAMA, não se sabe se a água não escoou por estarem entupidas as galerias, devido a falta de manutenção, como alardeiam os adversários do prefeito, ou por que as galerias construídas não terem dado vazão ao volume de água, como desejam os defensores do prefeito.
Como vemos, o que menos interessa é a situação do povo que pode perder seus veículos ou até mesmo a vida. É possível que o alagamento tenha ocorrido pelos dois motivos: a falta de manutenção das galerias e o seu subdimesionamento, mas aí não daria mídia, não se pode falar de um e esquecer o outro.
Apenas para recordar, quando da construção do elevado da COHAMA, vendo que haviam colocado um sobrepreço de 75% (setenta e cinco por cento)sobre o valor do contrato original quando a lei de licitações somente permite 25% (vinte e cinco por cento), ingressei com uma ação popular visando a devolução do excesso aos cofres públicos. Os réus entre eles a governadora, secretario de infra-estrutura, se defenderam argumentando que os aditivos ocorreram por conta das fortes chuvas (como se todos não soubessem das fortes chuvas). A justiça do Maranhão acabou por dar-lhes razão. O certo é que desde a construção já se sabia da real possibilidade de alagamento e ainda assim, ao que parece, se faz galerias subdimensionadas.
Os adversários do prefeito não o poupam das críticas pela situação desfavorável que toma conta da cidade de São Luís – não deixam de ter razão, muita coisa poderiam ser feitas para aliviar os transtornos causados pelas fortes chuvas que não estão sendo feitas, pequenas intervenções e iniciativas aqui e ali. O prefeito até agora, pelo que soube não criou nem uma comissão de acompanhamento dos diversos problemas que estão surgindo -, mas parecem ignorar que o problema ocorre em toda ilha, além de São Luís, os demais estão na mesma situação, se não pior, o resto do Estado é o mesmo caos. Quase todos os dias se ouve notícias sobre as péssimas condições das rodovias estaduais, inclusive as estão terminando de fazer. Muitas das que aparecem nos comerciais do governo, brilhosas e reluzentes.
Na ilha, quase todos os dias, cidadãos têm que buscar atalhos ou esperar horas a fio para conseguir chegar em casa. Os motivos sãos os mais diversos e atingem a todos.
O governo do estado, não se sabe se querendo agravar a crise, não consegue instruir a polícia no sentido de garantir a livre manifestação popular sem que estas manifestações impeçam um outro direito dos cidadãos: a liberdade de locomoção, o direito de ir e vir. Isso vem acontecendo em todas vias estaduais que cortam a ilha, em todos os municípios, ontem foi Ribamar e São Luís, amanhã Raposa e Paço do Lumiar. As autoridades só assistem sem moverem um palha, como se o problema não fossem de todos. São cidadãos perdendo o trabalho, estudantes deixando de estudar.
Se os prefeitos dos municípios podem justificar a inoperância de suas gestões com a falta de experiência, já que são todos novos no ramo, o mesmo não se pode dizer da governadora que está para completar 14 anos no cargo de governadora. Isso mesmo, são quatorze anos,tempo e experiência que poderia muito bem oferecer para ajudar aos municípios ou, ao menos, não aumentar o clima de insegurança. Ainda mais quando sabemos que parte do problema conta com a parcela de culpa que o próprio governo estadual no processo.
Muitas áreas alagam hoje porque o governo estadual nada fez para impedir a ocupação desordenada das áreas que margeiam os rios, porque nunca exigiu o cumprimento da legislação estadual que obriga que condomínios tenham suas próprias estações de tratamento de esgoto, porque a CAEMA autoriza obras sem qualquer controle de viabilidade, porque as próprias e necessárias obras que o Estado realiza são planejadas para o presente ou para solucionar problemas do passado e nunca pensando no futuro da cidade.
Inúmeros são os exemplos de obras estaduais voltadas para o passado, como a rede de esgoto que hoje não comporta, em muitas partes da cidade, o esgoto produzido, a urbanização da Lagoa da Jansen que possui trechos bem acima do nível da rua, etc.
O que temos por certo de tudo isso é que as autoridades são incapazes de se preocuparem com o sofrimento do povo. Estão mais interessados é que o povo “se exploda”, como dizia aquele personagem do inesquecível Chico Anysio. As autoridades, se é que podemos as chamar assim, querem é tirar vantagem político-eleitoral das dificuldades que enfrenta a gestão dos seus adversários esperando, com isso favorecer seus candidatos. Não pecam só pela inércia, pela inoperância ou falta de iniciativa, pecam, sobretudo, por explorarem o sofrimento dos cidadãos em benefício das campanhas políticas de seus protegidos. São atitudes que além de torpes e criminosas, são também mesquinhas.
Abdon Marinho é advogado eleitoral.