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Bê-a-bá do fracasso

Por Abdon Marinho

Se tem algo que me causa profunda angústia é a situação da educação brasileira. Sobre isso já escrevi diversos textos. Não é sem razão, a maior causa do fracasso brasileiro atende por educação, principalmente, por sua falta, inclusive a má escolha dos representantes, estes, por conta disso trabalham com essa ideia: a perpetuação no poder, através da compra de votos, das esmolas que distribuem a uma sociedade acrílica.

Em quase todas as pesquisas que fazem sobre o tema o Brasil ocupa lugar de destaque na rabeira da fila, leitura, conhecimento geral, ciências, matemática, lá estamos nós na parte final da listagem. A baixa qualidade atinge todos os níveis, ensino fundamental, médio e superior. Até a única universidade brasileira que aparecia como a primeira da America Latina perdeu a posição para uma universidade do Chile.

Falta uma política educacional consistente, falta levar a sério o assunto, faltam professores qualificados, incentivados e comprometidos, falta a família compreender o papel da escola e os estudantes entenderem que suas chances no mundo que vivemos, sem educação, são bem mais restritas. É a educação a verdadeira ferramenta libertadora. E esta, é uma verdade tão cristalina que custa acreditar na existência de pessoas empenhadas em sua destruição, desde a política tortuosa que insiste em aprovar o estudante sem que ele de fato tenha conhecimento ou se esforce para tal, até a criminalidade, o tráfico de drogas e a violência que passou a tomar conta das escolas e salas de aulas.

Neste retrato, já aterrador da educação brasileira, as pesquisas apontam que a situação do Maranhão é ainda pior. Como já disse e mostrei, com dados do ENEN e do PISA, o nosso estado está na rabeira da rabeira. Esta é a dura verdade. É bom que saibamos para que possamos cobrar dos gestores a coragem de mudar esta realidade.

Pois bem, faço essas considerações para falar da educação de São Luís. Ela não está localizada neste cenário de terror. São escolas que não educam, que não possuem condições mínimas, com professores igualmente desmotivados e muitos, muitos mesmo, sem qualquer comprometimento com a educação.

Se fizermos uma análise sobre a educação municipal veremos que ela se encontra com os mesmo problemas que enfrentava nos anos 70 e 80. Os problemas são os mesmos, com o agravante que a qualidade do ensino piorou substancialmente. Não bastasse as condições insalubres das diversas escolas da rede, ainda temos um sem número de escolas funcionando em associações de moradores, igrejas, etc., as chamadas escolas comunitárias, que, sem desconhecer que cumprem um papel relevante, em face da omissão do poder público, representam, na verdade uma excrescência absolutamente incompatível com os dias atuais.

Outro dia vi a administração apresentando como avanço, com direito a outdoor e comercial na TV e rádio, o fato de se ter contratado 600 professores, observe, nem são efetivos, a distribuição de leite nas escolas e ainda o pagamento dos professores que ensinam nas escolas comunitárias. São coisas que só revelam o quanto estamos atrasados em relação ao resto do mundo. O mundo que leva educação a sério, diga-se. Que metas almeja a administração pública? Há alguma que importe na melhoria de suas condições? Quais? Como vão alcançar? Pretendem substituir as escolas comunitárias por escolas de verdade? Em quanto tempo?

Neste momento, se não me falha a memória, os professores da rede municipal. Mais uma greve, quase todo ano tem uma. Tornou-se tão comum que já fazem parte do calendário escolar. Quando os professores se encontram a primeira coisa que pergunta é quando será a próxima greve.
Quase todo ano milhares de crianças ficam sem aulas por dias, semanas e meses. São conhecimentos que estão tirando destas crianças, oportunidades, um futuro. O pior disso tudo é que as pautas de reivindicações são as mesmas de sempre. Não tem alteração alguma. E é bom que se diga que muitas destas pautas são equivocadas, tolas, irrealizáveis e contrárias aos interesses dos estudantes e dos poucos professores comprometidos.

Por essas plagas não há tragédias que não possam ser pioradas. A mídia, já vi em mais de um veículo de comunicação, acena com mais uma mudança de secretário na pasta. Será a terceira em menos de três anos. Não conheço o secretário, sequer sei da qualidade do trabalho que vem apresentando. Mas sei, e qualquer um sabe, que não tem como se fazer educação com tantas alterações no seu comando. Principalmente, conforme se noticia, que as trocas de comando atendem mais a interesses políticos ou as politiquices de sempre, que propriamente os interesses da educação.

Ninguém, em sã consciência, imaginaria que um governo de quatro anos se apresente ou solucione todos os problemas de uma pasta tão complexa, mas se deseja, se anseia que os gestores, ao menos, plante a semente, deixe uma proposta consistente, uma diretriz clara a ser alcançada. Um plano de meta a ser perseguido. Infelizmente já chegando a quase a metade do governo e ainda não se plantou essa semente. E é difícil que se consiga isso, se a cada hora se troca o secretário, se troca a equipe.

A educação precisa de um plano claro, de metas objetivas e de um mínimo de continuidade.

As pessoas que se angustiam com esse quadro de desalento, nos resta torcer para que algo seja feito e que não se negue a essas crianças uma chance de brigar por um futuro melhor.

Nos resta, ainda, rezar para que o prefeito não permita que a educação, já tão sofrida, seja um mero instrumento da politicalha local.

Abdon Marinho é advogado eleitoral.

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