Por Abdon Marinho
Hoje é o dia do professor. Mais que um dia de feriado em escolas e faculdades ou um dia de protestos na busca por melhores condições de ensino, talvez devesse ser um dia de profunda reflexão sobre a educação.
Será que alguém percebe que apesar de todo avanço científico e tecnológico as crianças estão aprendendo menos, os jovens saem do colegial mais perdidos que cego em tiroteio e nas universidades analfabetos se formam?
É verdade. As últimas pesquisas informam que um percentual de 4% (quatro por cento) dos universitários que se formaram são analfabetos. Não consigo entender como analfabetos se formam, mas os números são esses.
No começo do mês um amigo comentou: Viu Abdon, a nossa UEMA entre umas das melhores do Brasil do curso de direito?
Isso é motivo para comemorar. Fico que feliz com o feito da UEMA e é, sim, motivo para festejar. Acho até que devemos examinar com cuidado esses números e ver o resultado do sucesso. Entretanto em que pese esses méritos a situação do ensino brasileiro, o maranhense é só uma lastimável consequência, é caótica.
Vejam um rápido resumo:
Poucas pessoas se deram conta da divulgação do ranking das universidades no mundo. Este ano nenhuma das nossas fazem parte da relação das 200 melhores. A Universidade de São Paulo que no ano anterior esteve entre as 200, na posição 158º caiu para posição entre 225º – 250º.
Ainda este mês, como dissemos no início, foi divulgado as notas do ENADE, um grande número de cursos, dizem que bem mais de 30% (trinta por cento) não apresentam condições mínimas de funcionamento. As notas são, para dizer o mínimo, tristes.
O resultado refletido no ensino superior, refletido no resultado de não possuirmos uma única instituição de ensino entre as 200 é algo desalentador para um país que é a uma das maiores economias do mundo, que possui condições objetivas de ter suas instituições entre as melhores do mundo.
O Brasil deve se perguntar porque isso não ocorre. Quais as razões que levam uma nação como a nossa, rica, com dimensões continentais, com condições materiais para ter uma educação de ponta, patinar no atraso?
A qualidade do ensino não vem decaindo a toa. O ensino médio, basta fazer uma simples comparação com o currículo de outros tempos e constatamos que não se ensina mais disciplinas fundamentais. Se voltarmos um pouquinho no tempo, uns cinquenta anos ou menos, veremos que as pessoas que concluíam o ensino médio estavam preparadas para a vida.
Basta lembrar que não faz muito tempo se dizia que uma pessoa estava “formada” porque tinha o ensino médio. Essas pessoas sabiam línguas (não apenas o inglês básico, falavam fluente inglês, francês, alemão, latim e grego), dominava a química, a física, a história antiga, moderna e contemporânea, conheciam a geografia e toda literatura mundial. Recitavam os poetas brasileiros, sabiam de cor suas obras e também os clássicos estrangeiros.
Quando alguém fazia faculdade e não era tão fácil fazer, era chamado de doutor. Se dizia fulano tem curso superior. E era superior mesmo. Ia-se muito além do que aprenderam no ensino médio. Podia-se debater com qualquer pessoa do mundo na sua área de conhecimento.
Os pais diziam com orgulho e com razão: “meu filho está formado”. E a maioria das crianças não começavam a vida escolar antes dos sete anos. Até essa idade aprendiam o que tinha de aprender em casa.
Hoje, o caos começa no jardim de infância, as crianças vão para o colégio “nas fraldas”, passam a vida nas escolas e muitos saem da faculdade analfabetos. Não sou, os números dizem isso.
O país, a sociedade, precisam acordar para o fato de que no quesito educação o Brasil está ficando para trás. Em todas as fases da formação, o ensino está deficiente. Precisamos refletir sobre isso. Verificar onde essa equação está errada, Como é que hoje se investe bem mais em educação, se paga salários relativamente mais elevados que no passado, os alunos possuem, em sua maioria, melhores condições de aprendizagem e ainda assim o nosso ensino está tão ruim? A escola existe para ensinar, se os alunos não estão aprendendo, passa da hora de se examinar o que está acontecendo.
A reflexão a que me refiro deve alcançar toda sociedade, mas deve alcançar sobretudo os professores. Faz-se necessário uma urgente autocrítica sobre o que está errado. Faz tempo que a violência vem tomando conta do ambiente escolar, à vista e com a cumplicidade de todos. A maioria acha mais cômodo dizer que isso não é consigo. Os alunos não respeitam mais os professores. Estes por sua vez, sem qualquer domínio de classe, não se sentem estimulados em ensinar. Muitos torcem para que ocorram as costumeiras greves, que na maioria das vezes não trazem as conquistas esperadas. O resultado é essa tragédia chamada educação nacional.
Diante de tudo que vejo, cada vez mais me convenço que essa tragédia não será superada apenas com recursos, o problema é maior que a falta de dinheiro, vai muito além. É necessário um grande esforça nacional que reimplante a importância do saber na mente das pessoas, sobretudo, nos mais jovens. É necessário que se acabe com essa cultura do vale-tudo que impera no Brasil, onde o sabido e não o sábio tenha todas as vantagens.
Sou um apaixonado pela educação. A ela, devo tudo que sou, e tudo que ainda pretendo ser, talvez por isso me angustie tanto assistir impotente, tantas crianças se perderem na falta de oportunidades, escravas que são da ignorância, sem chance de vir a ser alguém na vida. Poucos terão chance romper esse ciclo de miséria que as condenam. Pior que isso é a cegueira de jamais terem o saber.
O caos educacional brasileiro é algo que no médio e no longo prazo compromete a própria soberania nacional. Nossas autoridades precisam entender isso. Uma nação de ignorantes não pode ser uma nação soberana.
Abdon Marinho é advogado eleitoral.