O relógio marcava 17h na sala da Corregedoria-Geral de Justiça, quando o delegado licenciado da Polícia Civil, Ney Anderson Gaspar, começou a destrinchar os motivos pelos quais o secretário de Segurança Pública do Maranhão, delegado Jefferson Portela, chamava os juízes da 1ª estância de bandidos, em especial o togado Osmar Gomes, que é pai do presidente da Câmara dos Vereadores de São Luís, Osmar Filho.
Na inquirição, foi revelado, também, na presença dos Assessores Especiais da Procuradoria-Geral de Justiça do Maranhão, promotores Marcos Valentim Pinheiro Paixão e Adélia Maria de Souza Rodrigues Morais, que o chefe da SSP deu ordem para investigar Osmar e dizia que o mesmo vendia sentenças, não expedia qualquer tipo de medida cautelar, seja prisão ou busca e apreensão contra traficantes da região do São Francisco, pelo fato de ser reduto eleitoral do filho vereador do PDT.
“Na segunda metade de 2015, o secretário pediu que a gente investigasse o juiz Osmar Gomes, chamava só de bandido, porque o Osmar Gomes, ele, segundo o secretário, não estava dando nenhum tipo de medida cautelar, tipo prisão, não dava ou dificultava prisões, mandado de busca e apreensão na área da Ilhinha, São Francisco e adjacências, porque lá é o principal reduto eleitoral do vereador Osmar Filho.
Em 2015, Osmar Gomes era titular da 1ª Vara do Júri e também respondia pela Central de Inquéritos de São Luís, que é responsável por expedir as ordens judiciais.
Ney Anderson, que foi chefe do Departamento de Combate ao Crime Organizado (DCCO), comentou que não seguiu as ordens do auxiliar do governo, que eram para inserir números de advogados e assessores próximos de Gomes em inteceptações telefônicas de operações que estavam em curso ou que iriam acontecer.
Ele acusou Portela de tentar buscar algum indício de irregularidade para incriminar o juiz.
Em maio, Gaspar foi intimado pelo Corregedor-Geral de Justiça, desembargador Marcelo Carvalho, a prestar depoimento na segunda-feira (17) após divulgar uma série de denúncias contra o secretário de Seguranca, entre elas, espionagem a desembargadores e se referir a juízes na alcunha de criminosos. O secretário também foi convocado a prestar esclarecimentos sobre o caso.
Procurado, Jeferson Portela não se manifestou até o fechamento desta reportagem. O juiz Osmar Gomes também não se pronunciou.
O presidente da Câmara de São Luís afirmou, por meio de nota, que não irá falar a respeito do tema.