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Democracia e picaretagem

Advogado Abdon Marinho.
Advogado Abdon Marinho.

Sempre que você pergunta a um político, sobretudo quando estão no poder, como ele se define, invariavelmente a resposta é a mesma, estufam o peito e dizem: “sou um democrata”. Entretanto, nas coisas comezinhas do dia a dia se ver que a definição não passa de uma figura retórica. Principalmente por essas paragens, quem está no poder, geralmente, não consegue admitir que o seu poder seja questionado, são incapazes de conviver ou aceitar opiniões divergentes.

Hoje, na primeira página de um jornal local, a manifestação de um deputado estadual dizendo que um grupo de advogados que propuseram o impeachment da governadora do estado seriam picaretas. Como picaretas? O que tem demais cidadãos comuns manifestarem suas opiniões sobre esse ou aquele governo? O que tem demais que proponha as ações políticas e judiciais que acharem devidas? Onde está o ato de anormalidade? Não existe nada de errado com isso, o que se estranha é que estás manifestações sejam tão insipientes, que a oposição seja tão desarticulada e imatura. Se há algo a lamentar é que estas medidas e proposituras não sejam de maranhenses e sim de cidadãos de outras naturalidades.

Se acham errado a condução da política carcerária, que proponham as ações que acham devidas. Se são contra que se compre uísque, lagosta e outras iguarias com recursos públicos enquanto o povo padece com a falta de tudo, que recorram. Nada demais há nisso.

Costumo dizer que um bom governo se faz com uma oposição forte, vigilante, que entenda que seu papel é fiscalizar as ações governamentais, evitando o mau uso dos recursos públicos e os desvios. Uma oposição que tenha coragem de, em nome do interesse público, denunciar os abusos, os desvios e que o poder seja uma propriedade dos poderosos e não um serviço a disposição da sociedade.

As medidas políticas ou judiciais contra os governantes são legítimas. Cabe aos demandados responderem e comprovarem que estão certos e os opositores errados. O cerceamento da liberdade de manifestação ou o menosprezo a ação legítima de discordar não combina com o que os governantes dizem.

Quem não quer ser criticado ou quem não consegue conviver com isso tem a opção de não se candidatar, de nunca ocupar um cargo público. Se, por vontade própria se candidatam ou aceitam um cargo público, tem que está preparado para se sujeitar as críticas da sociedade, a sofrer as representações da oposição.

Sobre o impeachment, minha opinião pessoal, é que não vai para lugar nenhum e que não resolve o que se propõe. Primeiro porque a governadora possui força política dentro da ALEMA para que sequer admitam a matéria, segundo porque num momento como esse é nestas condições não iriam resolver o problema que o motivou. Como disse desde meados de dezembro, a matéria comporta mais uma intervenção do governo federal. Apesar disso é inteiramente legítimo que façam o pedido, esse tantos outros quiserem. É legítimo que se proponha as ações judiciais que entenderem.
A democracia se fortalece com a participação da sociedade. Repito, quem não quer ser criticado que fique em casa, que não dispute mandatos eletivos.
Essa legitimidade vale para todos e contra todos. Contra a governadora, contra os prefeitos, presidente. Todos.

Não entendo essa insatisfação de autoridades contra as manifestações de protestos pacíficas seus administrados. Outro dia ouvi dizer que um cidadão ameaçou umas pessoas que protestavam na frente prefeitura com um caixão, dizendo que o prefeito morreram politicamente porque não pagou dívidas deixadas pelo gestor anterior com essas pessoas. O que tem demais as pessoas protestarem com um caixão num espaço público? O prefeito é supersticioso? Pelo que vejo nos canais de TV da vida, ele está muito bem, até mais gordinho, sinal que está se alimentando bem. Melhor seria encarar os protestos com bom humor e provar com trabalho que está fazendo seu trabalho com eficiência e que continua merecedor da confiança dos seus eleitores.

A sociedade não reclama se o governante não desvia para o seu bolso ou dos seus apaniguados o recurso que deveria ser investido. Não reclama se as ruas e as rodovias estão transitáveis, se a educação funciona, se a saúde salva mais que mata, se as ações do governo favorece ao desenvolvimento do estado ou da cidade.

Ademais, os governantes, principalmente os governadores e os prefeitos de grandes cidades já possuem uma grande vantagem em relação a sociedade. Enquanto esta pena para se fazer ouvir, os governantes têm verdadeiras fortunas para gastar com propaganda. Fazem propaganda do que fazem, do que pretendem fazer e até do que não fazem. Agora mesmo, tem faltado é intervalo nos horários nobres das televisões locais para tantos comerciais do governo e da prefeitura da capital. Cada um mais bem feito que o outro, cada um mais cheios de recursos tecnológicos. São comerciais capazes de vender geladeiras para esquimós e aquecedor para os habitantes do deserto do Saara. Comerciais, que devem custar caro, e que são pagos com o seu, o teu e nosso dinheiro. Possuem ainda uma série de amigos do poder que por uma sinecura, um contrato ou um simples “banner” para si ou para um parente divulgam tudo que querem é até mais um pouco. São capazes até criar ilações e situações as mais esdrúxulas.
As autoridades precisam entender que elas não divinos, que não acima do bem ou do mal e imune as críticas. Precisam entender que são empregados do povo.

Uma democracia se constrói com o respeito à divergência, com respeito liberdade das pessoas se manifestarem livremente e da oposição realizar o seu trabalho sem qualquer sujeição e sem isso causar qualquer escândalo. As pessoas que não conseguem entender conceitos tão singelos não são democratas, são “picaretas”.

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