Por Milton Corrêa da Costa
Enquanto a Medicina, hoje extremamente evoluída em alguns de seus ramos, dispondo de novas e eficazes ferramentas de combate à graves doenças, porém ainda atrasada e involuída em outros de seus vetores, não consegue produzir, em caráter de urgência urgentíssima, a vacina como único instrumento de defesa concreto contra o mosquito Aedes Aegypti, popularmente conhecido como mosquito da dengue, hoje distribuído por quase todo mundo, basicamente nas regiões tropicais e subtropicais, todos nós brasileiros somos, cada vez mais, sobretudo na Estação mais quente e das enchentes, vítimas em potencial do pequeno e perigoso inseto.
O que é pior e mais agravante é que não dispomos de infra estrutura suficiente do poder público -observe inclusive a ineficiência na prevenção das recentes enchentes- para minimizar os efeitos da grave questão de saúde pública produzida por um simples mosquito. Na cidade do Rio de Janeiro, até o prefeito Eduardo Paes reconheceu publicamente a flagrante ineficiência do poder público, onde leva-se 10 (dez) dias, no mínimo, para se checar um denúncia (tel 1746) do foco do mosquito. Parece piada mas não é. Associe-se à flagrante incapacidade do poder público, no combate eficaz ao Aedes Aegypti, a arraigada cultura brasileira da aversão ao trabalho comunitário, de servir ao próximo e a todos, calcada no pressuposto da predominância do individualismo e da ilusão de invulnerabilidade.
Ou seja, “enquanto não ameaçar a minha vida e a de meus familiares o problema não é meu”. Alguns sequer têm o espirito preventivo de observar e extinguir os possíveis focos do mosquito dentro do seu próprio quintal, quiçá ter o trabalho de pegar um telefone para denunciar a existência de focos no terreno do vizinho. Desconhecem inclusive que o mosquito, bem adaptado a zonas urbanas, mais precisamente ao domicilio humano onde consegue reproduzir-se e pôr os seus ovos em pequenas quantidades de água limpa, pode atacar até num raio superior a 500 metros do seu foco.
Convém inclusive ressaltar que o Aedes Aegypti é um inseto democrático. Ataca a gregos e troianos, pobres e ricos, famosos ou anônimos. O exemplo mais típico foi o do ex-jogador Ronaldo, que por pura sorte não foi acometido da dengue do tipo hemorrágica, sua versão perigosamente mortal. “Maldito mosquito”, disse o Fenômeno, ao contrair recentemente a dengue em Trancoso, em sua residência, no extremo sul do litoral da Bahia, um dos locais turíticos mais belos e aprazíveis do mundo, onde o Aedes Aegypti também já se instalou.
Para o Rio de Janeiro, segundo constantes declarações das autoridades municipais, está prevista a ocorrência, no Verão 2012, da maior epidemia de dengue que já se teve notícia na história da capital do Estado, com números superiores ao 150 mil casos do ano de 2008, o de maior incidência até aqui. Em 2011 foram 76 mil casos envolvendo 51 óbitos na cidade. O que é pior, é provável que chegue ao Rio de Janeiro o Aedes Tipo 4, o mais mortal e devastador de todos, fato que coloca a cidade maravilhosa em situação de alerta máximo. Não há anúncios de alarmismos. Há sim uma iminente e perigosa ambiência de epidemia a ser enfrentada.
Resumo da ópera: ou todos nos unimos de mãos dadas, numa só corrente para minimizar a inevitável epidemia ou alguns de nós, ou nossos entes mais próximos ou amigos, podem ser a próxima vitima fatal. Faça portanto a sua parte de cidadão para salvar vidas e a sua própria. Preserve a vida. Comece já combatendo a dengue. O preconceito, o individualismo e a ilusão de invulnerabilidade só tornam a proliferação do Aedes Aegypti ainda maior. Pense nisso. Esse comportamento é perigosamente mortal.
Milton Corrêa da Costa é coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro