Folha
Um desembargador do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 18ª Região, em Goiânia, ameaçou deixar uma sessão de julgamento por considerar inapropriada a roupa da advogada que se levantou para fazer a sustentação oral do processo. O impasse ocorreu na manhã desta quinta-feira (17).
Em vídeo gravado por um dos advogados que estavam presentes no local, o desembargador Eugênio José Cesário Rosa faz duras críticas à vestimenta da advogada. “O fórum é todo feito de simbologia, olha as bandeiras de simbologia lá, olha nossas togas, a que a senhora vai vestir aí e a senhora vem fazer uma sustentação oral de camiseta? Se for para fazer, eu saio”, afirma.
A advogada Pamela Helena de Oliveira Amaral, 33, usava um macacão longo de cor escura. O modelo deixa os ombros descobertos.
A sessão só continuou depois que uma advogada emprestou um blazer para Amaral.
O regimento do tribunal diz que o advogado só pode fazer a sustentação oral após colocar a beca. Amaral diz que foi interrompida pelo desembargador antes que pudesse vestir a roupa. Ela seguiu em pé, parada, enquanto o desembargador falava.
“Podem discordar, mas nós temos um decoro forense a cumprir. Tem que estar à altura na forma e na aparência com o exercício dessa atividade e a senhora vem fazer sustentação oral de camiseta?” afirmou ele.
No vídeo, a presidente da sessão de julgamento, desembargadora Iara Teixeira Rios, diz que a advogada não estava de camiseta, mas, sim, de vestido.
“O desembargador não deu tempo nem de a advogada vestir a beca. A advogada mal levantou e ele começou a criticar a roupa dela”, diz o advogado Lucas Jabur Chaves, que gravou o vídeo da sessão.
A advogada Amaral diz que estuda a possibilidade de ingressar na Justiça com ação de indenização por danos morais contra o magistrado por causa do episódio.
“Não tenho medo de perseguição, embora provavelmente vá ocorrer”, diz ela. “Eu me senti extremamente envergonhada e constrangida por ele ter chamado a minha atenção da forma que fez. Só prossegui com o exercício da profissão no julgamento porque tenho compromisso ético com o meu cliente, mas desabei por dentro”, afirma.
“Eu não chorei, me mantive firme, mas, depois que saí da sala de sessão, fui para o banheiro e desabei no choro”, afirma ela, afirmando já usou modelos semelhantes de roupa em sessões do TST (Tribunal Superior do Trabalho), em Brasília.