Por Abdon Marinho
Não faz muito tempo escrevi sobre a enorme quantidade de festas e festejos que os municípios maranhenses promovem todos os anos com recursos públicos. Começa com a virada do ano e não pára mais.
Carnaval, padroeiro, aniversário da cidade, festejos juninos e diversas outras datas comemorativas, tudo é motivo para festa, para contratação de bandas, cada vez maiores, cada vez mais caras. Quanto pior vai a administração maior e mais suntuosas sãos as festas.
O assunto voltou a chamar a atenção outro dia por estas bandas, ainda que de forma tímida. Até aqui, onde tudo parece normal, foi notícia o fato de um município do interior, não tão rico, haver gasto cerca de R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais) no aniversário da cidade.
Segundo informou a mídia, só banda custou uma pequena fortuna.
Apesar do assunto ter virado notícia na capital, no município mesmo não houve uma manifestação de protesto, pelo contrário, as forças políticas locais ficaram mudas ou louvaram o ato como grande feito. Na região, pelo que soube, os protestos se deram contra os demais prefeitos que não contrataram bandas daquele quilate para os seus festejos.
É verdade, perguntei a um amigo qual a repercussão do assunto no seu município, que é vizinho, respondeu-me que os munícipes da sua cidade ficaram contrariados com seus gestores por que o autor do feito, gastar quase um milhão com uma festa, não foi o da sua cidade.
Como dizia naquela oportunidade e repito agora, o Maranhão é uma terra de prioridades invertidas. Ninguém é contra o lazer ou festas, entretanto, há que se questionar: Por que não fazer essas festividades com mais modéstia, à altura das nossas posses? Por que não gastar com as reais necessidades do povo, nas prioridades locais?
Os eleitores-cidadãos não devem saber, mas o valor gasto com um único dia de festa como essa que gerou questionamento, é mais que suficiente para a construção de uma escola de 06 salas no padrão do MEC ou superior ao dispêndio de uma unidade básica de saúde. Com zelo e fiscalização adequada, se gasta até menos. Uma escola ou uma unidade de saúde que poderiam servir a população por dezenas de anos não é prioridade. Por isso se gasta mais que valor necessário para construí-las por uma noite de show.
Trata-se ou não de uma prioridade invertida?
O que vem acontecendo no Maranhão, e acredito, que noutros estados também, é fruto de uma classe política cada vez mais incapacitada para liderar os destinos do povo. Como não conseguem apresentar as soluções que o povo necessita partem para a velha e manjada política do pão e circo. Vêm fazendo isso com tanta frequência que se tornou uma política pública, se não fazem a própria sociedade passa a reclamar, exigir que a cada data festiva se faça um evento cada vez maior, com artistas cada vez mais caros e cada vez mais distantes da cultura local. Anotem para conferir o que vai acontecer, em todos os municípios durante o São João, a maioria vai ter como atração artistas de fora do estado, fora da cultura típica local e até fora do real significado junino.
O Estado não vai perdendo apenas suas referências culturais à vista de todos e com total apoio das autoridades, sejam municipais, sejam estaduais, vai perdendo também receitas. São milhões e milhões de reais que desaparecem das economias locais todos os anos. Dinheiro que poderia significar mais escolas, mais postos médicos, gerar trabalho e renda para a população, e até mesmo incentivar a cultura local, não geram nada nos municípios maranhenses.
É urgente que as autoridades, principalmente aquelas a quem competem o controle das administrações, se deem conta da verdadeira sangria que vem ocorrendo nas finanças dos municípios com esses excessos festivos. Façam as contas do quanto de dinheiro público saiu das finanças destes combalidos municípios para enricar essas dezenas de bandas, de quase todos os estados brasileiros, que passam mais tempo no Maranhão que nos seus estados. Essa é conta fácil de fazer, praticamente não tem um dia que não se tenha um show bancado com recursos públicos neste estado. Embora o calendário de festas seja intenso, nas datas festivas é que essas bandas suntuosas não encontram espaço na agenda para atender aos gestores municipais, enquanto isso, as expressões culturais do estado padecem sem qualquer incentivo.
Essa prática que não é recente, tem se consolidado nos últimos anos, com o governo do estado destinando milhões e milhões de reais do orçamento público para emendas parlamentares que tem esse propósito e destinam parte destas verbas a muitos municípios com esse fim. Os próprios eventos patrocinados e executados pelo governo estadual, também e em detrimento da cultura local tornou essa prática rotineira, basta ver a a programação do festejo junino deste ano.
Trata-se de um política nociva à cultura local e economia do estado e dos seus municípios. Uma prática nefasta que, infelizmente, só faz crescer a cada dia que passa, diante do silêncio e da complacência da sociedade e com o apoio das autoridades que ao invés de ter uma política cultural para estado e municípios, seque o cômodo caminho da importação das expressões culturais (?) dos estados vizinhos. Não bastava termos que importar tudo, temos também que importar cultura, justo um estado que possui uma enorme diversidade cultural.
E assim segue o Maranhão de farra em farra, de festa em festa, sangrando suas riquezas.
Abdon Marinho é advogado eleitoral.