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Entre culpas e omissões os inocentes são as vítimas

Por Abdon Marinho.

Advogado Abdon Marinho.
Advogado Abdon Marinho.

A ilha de São Luís, chamada por muitos de Upaon-Açu, acho que viveu uma sensação nunca antes experimentada em sua história, passou a noite sob “toque de recolher”, – sim, esse é o nome que se dá quando a população fica por alguma razão impedida de se locomover livremente, por medo, por falta de transporte, etc.

E, em meio a esse clima de profundo desconforto, nossas autoridades e políticos de todos os níveis, mais preocupados em em tirar vantagem de tudo, inclusive da desgraça alheia, começaram a praticar a nossa velha e conhecida política com “p” minúsculo, aquela de que fala o nosso ex-presidente Sarney trata em sua coluna dominical, política que se conhece muito bem por essas terras.
Vejamos o que está posto.

A Secretaria de Segurança Pública anuncia a prisão de alguns bandidos, supostamente envolvidos nos ataques de sexta-feira (digo supostamente porque a SSP não comprova a efetiva participação dos mesmos nos eventos, dizem que foram eles e pronto, sem contar que após as prisões foi divulgado mais um ataque, desta vez a delegacia do Bairro Liberdade), na nota em que canta a vitória aproveita para dividir a culpa do caos com Poder Judiciário, a quem acusa de soltar por duas vezes sicário líder dos ataques.

Na estratégia de divisão de culpas e a um ufanismo desnecessário, o editorial do EMA também aponta seu dedo para a Pedro II, não para o lado do Palácio dos Leões, onde talvez estejam os maiores culpados, mas para o Palácio Clóvis Beviláqua. Para o Palácio dos Leões ficam os elogios de um governo marcado pelo êxito em todas as áreas materializado numa entrevista à chefe do Poder Executivo, que para fugir de explicar o caos que vivemos – colocam a entrevista para o dia 30 de dezembro do 2013, tudo muito conveniente e oportuno –, para o palácio em frente a acusação indireta da responsabilidade pelo terror instalado na cidade. Dizem isso de forma sub-reptícia, com panos quentes, dizendo que os envolvidos estão entre 70 que não voltaram as cadeias dos quase 300 presos soltos por determinação judicial. Não sei se isso corresponde aos fatos. O nosso sistema de segurança, infelizmente, encontra-se com tanto descrédito que outro dia um jornalista do sistema mirante, pertencente à família da governadora, o acusou de recorrer a respostas padrão para responder aos ataques da criminalidade.

Assim, não sabemos se podemos confiar ou não no que dizem. Em todo caso, é bom que se cobre também do judiciário o pagamento de sua parte nesta conta, mas deve cobrar também do outro palácio, talvez deva cobrar a maior parte, principalmente por manter um sistema se segurança no qual ninguém confia e que não tem a menor credibilidade perante a opinião pública, exceto por alguns supostos jornalistas que recebe alguns “favores” para enxergar mérito onde só existe incompetência. Mais o inferno só principia.
No meio de tudo isso o sofrimento de uma família com suas vítimas indefesas. Uma mãe e duas crianças imoladas pelos bandidos. Aqueles mesmos bandidos que dias atrás, em “nota oficial” negaram que estupram e ordenam estupros aos familiares dos presos. Pois é, muitos escudaram-se na “nota oficial” dos criminosos para dizer que os crimes denunciados por mãe de preso e outro familiar nunca ocorreu, que era ficção do relatório feito para o CNJ. Quer dizer que esses bandidos a quem se deu crédito de divulgar uma “nota oficial” não estupra e não manda estuprar, mas é capaz de ignorar as súplicas de uma mãe e incendiá-la viva com suas filhas, uma criança de colo e uma de seis anos? Os porta-vozes do estado paralelo (criminosos) não vão se manifestar? Já que usaram a nota passada dando crédito a palavra de criminosos o que dirão agora?

Mas no Maranhão, tudo que é ruim pode piorar. Leio aqui o secretário de estado da saúde denunciando que o Hospital Clementino Moura (Socorrão 2), para onde foram levadas as crianças e sua mãe não possui mais unidade de queimados. E que a referida unidade fora fechada à revelia do ministério da saúde e, apesar disso, o município de São Luís continua a receber verba.

Vejam só, já disse mais de uma vez que os gestores da saúde municipal não sabem sequer o que é SUS, muito menos o que seja gestão plena e tudo mais que os credencie para gerir uma rede saúde em sua plenitude. O que o secretário estadual disse eu já desconfiava, não sabia era que a unidade de queimados havia sido fechada e que o município sequer notificara o ministério da saúde. Mas qualquer, com um mínimo de bom senso, sabe que Socorrão II, não possui condições de atender alguém com quase 90% (noventa por cento) do corpo queimado. Acredito, até que a outra unidade para foram encaminhadas não possuem condições.

Se o secretário municipal se investisse da função de um gestor pleno do SUS teria requisitado uma unidade de saúde com condições dentro as prestadoras do SUS, fosse ela federal, estadual ou privada para o atendimento aquelas vítimas do crime organizado. Se fosse o caso teria fretado uma UTI do ar e as teria mandado para um grande centro de referência de queimados noutro estado. O Município de São Luís possui verba para Tratamento Fora do Domicilio (TFD), poderiam fazer isso sem nenhum problema.

A inércia da secretaria municipal de saúde, inclusive em não assumir seu papel de gestor pleno do sistema é quase criminosa, que persiste também pela omissão do Ministério Público Estadual, que todos os dias fustiga os prefeitos do interior exigindo que banquem o TFD, mas que não olha o que acontece aqui na capital ou o que acontece com o estado.

Finalmente, até por uma questão de humanidade e solidariedade, o secretário de estado, sabedor dos problemas da rede municipal, ao invés de ficar a toda hora querendo virar o gestor pleno e abocanhar as verbas do município, deveria ter procurado o secretário municipal e oferecido ajuda, apoio e orientado algum procedimento. Ele sabe que com saúde não se brinca, tanto isso é verdade que há menos de um mês fretou com recursos públicos (não tem demais nisso) uma aeronave para levar alguém (segundo noticiou-se, familiar) para outro centro de saúde onde poderia ser melhor atendido.

Indago, porque não fazer a mesma coisa diante de uma emergência causada pela situação de guerra diante da ineficiência do aparelho de segurança do estado, do qual secretario de saúde é uma das mais importantes figuras?
O incêndio que queimou essas vítimas inocentes queima também a suposta candidatura do secretário de segurança, que segundo dizem, é apoiado pelo secretario de saúde. Porque não chamaram a responsabilidade para si? Por que ficaram amarrados à supostas normas da burocracia ao invés de oferecer ajuda? O que lhes custariam fazer isso?

Garanto que o gesto, que não é só humanitário, pois todos que estão vinculados ao SUS têm responsabilidades pelo bem-estar dos pacientes, seria muito mais útil que tentar tirar “casquinha” da desgraça alheia no facebook.
É isso que penso.

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