Estadão.
A presidente Dilma Rousseff rebateu ontem as críticas à sua agenda secreta em Lisboa, entre sábado e a manhã de domingo, quando realizou uma parada técnica na capital portuguesa durante a qual se hospedou no hotel Ritz e jantou no badalado restaurante Eleven. “Eu escolho o restaurante que for porque eu pago a minha conta”, afirmou Dilma, em entrevista coletiva em Cuba. “Não há a menor condição de eu usar o cartão corporativo e misturar o que é consumo privado e público.”
Questionada se o fato de a agenda ter sido revelada não afeta sua imagem de austeridade, Dilma respondeu que já se acostumou com notícias negativas. “Cheguei a um ponto em que o couro ficou duro”, disse ela.
Dilma estava na Suíça participando do Fórum Econômico Mundial desde quinta-feira passada. No sábado, sua agenda dava conta da viagem a Cuba para a 2.ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos. O Estado descobriu, porém, que a presidente e uma comitiva pararam em Lisboa sem avisar. A explicação foi que se tratava de uma parada técnica necessária para abastecer o avião.
Segundo o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, ela foi decidida de última hora. O governo português e o chef do restaurante onde Dilma jantou, porém, disseram que tinham sido avisados da visita presidencial já na quinta-feira.
A polêmica levou o PSDB, partido de oposição a Dilma, a entrar nesta terça-feira, 28, com uma representação na Procuradoria-Geral da República para que a passagem pela capital portuguesa seja investigada, assim como os gastos públicos envolvidos no episódio.
Além do Ritz, onde a suíte em que a presidente ficou tem diária de R$ 26 mil no preço de tabela, parte da comitiva se hospedou também no hotel Tivoli.
Dilma afirmou na entrevista que é uma “exigência” dela que todos os ministros que a acompanham na comitiva paguem sua conta. Disse que já houve até um “caso chato”, como em um de seus aniversários, quando ela foi a um restaurante em Moscou e uma pessoa da comitiva se assustou com o valor da conta, mas desembolsou o dinheiro.
“No meu aniversário eu também paguei. Tinha gente que estava acostumada que o pagamento seria do governo”, disse a presidente, irônica. “É que tem gente que acha esquisito uma presidente dividir a conta. Acho isso extremamente democrático e republicano”, completou.
Ela reafirmou a versão já dada por seu chanceler segundo a qual a parada técnica era obrigatória, já que o avião presidencial, conhecido como Aerolula – um Airbus A319 comprado na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva – não tem autonomia para fazer a viagem entre a Suíça e Cuba. Segundo Figueiredo, havia duas possibilidades para uma parada técnica, em Lisboa e em Boston, nos EUA. Por causa do mau tempo nos EUA, optou-se por Lisboa.
Dilma aproveitou para dizer que o avião presidencial brasileiro tem o mesmo problema de autonomia dos aviões presidenciais de México e Argentina. O governo diz que não há plano de comprar uma aeronave com maior autonomia de voo.
Auxiliares do Planalto dizem que a Aeronáutica sempre estuda os lugares onde o avião pode fazer escalas técnicas e considera normais os contatos com embaixadas ou para reservas de hotéis e restaurantes. “Não tem nada ilegal com a viagem”, disse a ministra da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas.
Paradas técnicas. Dilma já teve outras paradas técnicas que não constavam de sua agenda. Em março de 2012, a presidente fez uma escala sigilosa em Granada, na Espanha, antes de chegar a Nova Délhi, na Índia, para participar da Cúpula do Brics. A agenda oficial de 25 de março informava que a presidente estava de partida para a Índia, mas a chegada a Nova Délhi só apareceu na agenda do dia 27 de março. Nesse intervalo, Dilma foi a Granada, caminhou ao lado de turistas na rua e visitou o Alhambra, acompanhada do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e do então chanceler Antonio Patriota.
Em 15 de dezembro de 2012 a presidente parou em Marrakech, no Marrocos, no meio de uma viagem entre Moscou e Fortaleza. Estava acompanha da filha, Paula. Visitou Medina e caminhou pela praça central.