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Escravos da Política

Por Abdon Marinho

Abdon Marinho.
Abdon Marinho.

Nos jornais dos últimos dias tenho visto um tema recorrente: A questão do trabalho escravo. Acho interessante que se apure e se investigue tudo relacionado ao assunto. O que estranho é que somente agora alguns deputados estaduais tenham acordado para um assunto que é tão relevante.
Como se diz no meu interior, desde que me entendo por gente, que escuto as histórias dos “gatos” que arregimentam mão de obra no interior do Maranhão para trabalharem em grandes lavouras, na construção civil, etc, e sobre as condições de trabalho que vivem esses trabalhadores. Não é segredo para ninguém isso. Denúncias sobre condições desumanas de trabalho já foram colocadas nas contas de advogados, juízes, deputados e de diversas empresas.

Pesquisas apontam o Maranhão como um dos estados da federação que mais exportam mão de obra. A falta de perspectivas no estado levam dezenas de jovens, alguns adolescentes ainda é a pais de famílias a irem tentar a sorte noutras paragens.
Este ano mesmo, num acidente numa obra em São Paulo, morreram dez operários, destes, nove eram maranhenses. Eram pessoas que foram em busca de oportunidades que não encontraram no nosso estado. Quis o destino que estes nove maranhenses encontrassem naquela terra longínqua, ao invés do sucesso, a tragédia que lhes levou a vida e se abateu sobre suas famílias.

São milhares de maranhenses compartilhando esta realidade. Ter de deixar suas famílias em busca de um destino melhor. Faz tempo que é assim. Quantos não foram desterrados para os garimpos do Pará, Rondônia, Amapá e até das Guianas? Quantos não tiveram que descer para Tocantins, Goiás. Minas Gerais ou São Paulo? Muitos foram até para o Piauí em busca de melhores condições.

Fico feliz em ver que a Assembleia Legislativa resolveu criar uma comissão para passar essa tragédia anunciada a limpo. Já não era sem tempo. Pois poucos foram, até aqui, a se mostrarem preocupados com a situação dos maranhenses compelidos a deixarem o estado. As tragédias se sucedendo e suas excelências ignorando o êxodo que ocorre sob suas vistas.

Querem discutir a questão do trabalho escravo? Ótimo, que o façam abordando as questões a partir de suas origens e consequências. Investiguem quantos maranhenses tiveram que deixar o estado, onde e como estão? Em que condições estão trabalhando? Que medidas o estado deve adotar para que voltem a trabalhar próximo a suas famílias?

Ainda que por vias tortas, é bom saber, que finalmente a Assembleia Legislativa resolveu enfrentar esse debate, incluindo o assunto na sua ordem do dia. Fico feliz em ver que deputados de quem nunca se ouviu um pronunciamento sobre estas mazelas, sobre a escravidão a que está submetido os nossos trabalhadores, de repente parecem ter incorporado a Princesa Isabel e chamado para si esse grande debate. Não faz muito tempo que um projeto de lei que negava benefícios a empresas com histórico de trabalho escravo penou para ser aprovado e penou mais ainda para ser sancionado pela governadora. Não faz muito tempo, a empresa contratada para organizar o arraial junino, patrocinado pelo próprio governo foi acusada de manter empregados em situação que violava as normas trabalhistas. Neste caso e em tantos outros, que não nos cabe narrar, nunca se ouviu um queixume de protesto. Não lembro de ter ouvido, igualmente, protestos quando da morte dos trabalhadores no Estado de São Paulo. Se alguém disse algo, foi de tal forma discreto que não registramos.

Agora suas excelências dizem que querem investigar esses problemas, como disse, já não era sem tempo. Que se investigue, que se coloque à vista de toda a população a situação dos trabalhadores maranhenses, quais as origens e as razões pelas quais eles têm que se submeter ao trabalho escravo e que apoio recebem do estado para que não se submetam a ela.

Esse é um debate sério demais para servir de pano de fundo para campanha eleitoral ou ser usado por uma politicalha rasteira. Se suas excelências desejam ser levadas a sério que trabalhem de forma transparente, buscando o apoio da sociedade civil organizada e suas entidades, para juntos encontrarem as razões do problema e as melhores soluções para o mesmo.

Fazer diferente é atestar que de fato não querem investigar coisa alguma e que, ao contrário do alardeiam, suas reais preocupações, nada tem a ver com a real situação dos trabalhadores e sim, buscar um discurso contra este ou aquele adversário. O que seria uma pena, pois um debate grande não pode ser diminuído por interesses subterrâneos de homens de caráter diminutos. Estes são tão escravos quanto os trabalhadores que juram quererem libertar. Escravos de uma política que impede o Maranhão de crescer e de se tornar maior que suas mazelas.

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