Por Milton Corrêa da Costa
O estresse, cada vez maior, nos grandes centros urbanos, causado pelo excesso de veículos, com a consequente saturação dos espaços viários, redução da velocidade de deslocamento, ruas alagadas em dias de temporais e o caos dos constantes congestionamentos, vem criando uma legião de motoristas e passageiros estressados, deseducados, intolerantes e hiperagressivos.
Estamos diante de cidadãos, sem histórico de mau comportamento social, mas que, em função do elevado grau de estresse, causado pelo trânsito e pela agitação da vida moderna, independente do grau cultural, podem se transformar em assassinos em potencial a qualquer instante, bastando que um motorista de ônibus não pare no ponto ou arranque bruscamente causando lesão ao passageiro ou mesmo uma pequena fechada no trânsito. Basta ver a tragédia da terça-feira, 02/04, com a queda de um ônibus, do viaduto de acesso à Ilha do Governador, na Avenida Brasil, no Rio, que culminou com a morte de 7 passageiros, além de 11 feridos. O acidente teria tido como causa, segundo o relato de algumas testemunhas, uma discussão entre o motorista do ônibus e um passageiro, um jovem universitário, de 25 anos, que teria agredido o condutor do coletivo.
No que concerne ao comportamento dos motoristas de ônibus, há que registrar que somente a reciclagem e o treinamento internos, efetuados pelas empresas, sem o monitoramento de tais profissionais, no desempenho do serviço em vias públicas, não resolve a questão. As empresas precisam saber como se comporta cada profissional ao volante, extra-muros, no seu dia a dia, na importante missão de condução de seres humanos ao volante de um ônibus.
Ressalte-se que alguns motoristas de ônibus, além de serem vítimas do estresse causado pelo trânsito, são portadores de doenças importantes tais como diabetes, hipertensão e doenças coronarianas. Alguns sequer sabem que são portadores de tais enfermidades e conduzem centenas de pessoas/dia, podendo ser vítimas de mal súbito ao volante e dar causa a inúmeras tragédias, sem falar nas condições adversas de trabalho a eles oferecidas -em dias de temporal é sempre um caos- alguns com função também de cobrador, dirigindo veículos em mau estado de conservação, sob o efeito de temperaturas que no Verão chegam à sensação térmica dos 45 graus, sem que o veículo possua sequer ar condicionado.Isso também é desumano.
É fato real, porém, que o aumento progressivo da frota de veículos em circulação, em vias urbanas, pode tornar o trânsito uma fonte ainda maior de acidentes, estresse e agressividade.Precisamos, portanto, preparar psicológica e tecnicamente novos e atuais motoristas para um trânsito cada vez mais congestionado e estressante. Sem dúvida o trânsito é um componente urbano gerador de alto estresse.
Milton Corrêa da Costa é tenente coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro
PS: Um motorista de ônibus foi detido com um sacolé com aproximadamente um grama de cocaína na Rua do Lavradio, no Centro do Rio, no final da noite de quarta-feira, 03/04. Para comprar o entorpecente, de acordo com os policiais militares do 5º BPM (Praça Harmonia), o homem de 41 anos, deixou o veículo que dirigia, da linha 366 (Lavradio – Campo Grande) da empresa Expresso Pégaso, no ponto final na Rua do Senado. Ele se preparava para a última viagem do dia. Profundamente lamentável.