Por Abdon Marinho
Dia desses, por uma estranha coincidência, tanto a governadora do Maranhão quanto o seu pai, o ex-presidente e senador da República José Sarney, teciam elogios sobre o caráter pacífico do povo maranhense. Diziam que o nosso povo tem um caráter pacífico. Decerto que já foi assim. Aqui não não se ouvia falar em crimes bárbaros ou de assaltos à luz do dia, pela manhã, tarde ou noite. Quando muito se tinha um “descuidista” a cortar uma bolsa de uma senhora vez ou outra no formigueiro da Rua Grande.
Lembro que andava, como já disse aqui, por centro da cidade, ruas e becos e nunca fui molestado. Podia ao cinema, à bibliotecas, ficava até altas horas conversando com os amigos nas praças ou nas pontas de ruas, andava de ônibus para cima e para baixo sem qualquer temor. Tínhamos uma cidade pacifica. Um povo calmo, tranquilo, ordeiro.
Pois bem, esse caráter pacífico do maranhense e do brasileiro, por assim dizer, ficou no passado. Está semana uma ONG mexicana divulgou seu relatório anual sobre os lugares mais violentos do mundo. Entre as cinquentas mais violentas, dezesseis são brasileiras. Parece pouco, mas não é. Destas, nove são nordestinas e oito são capitais, Fortaleza no Ceará é a sétima no ranking e a nossa São Luís, a décima quinta. Vou além, acredito que se tivessem levado em conta os números da região metropolitana nossa performance talvez estivesse melhor, quer dizer, pior.
Ninguém tem um número exato, mas estima-se que existam no mundo cerca de 41 mil cidades, entre tantas somos a décima sexta em números de crimes. Somos pacíficos.
enquanto pensava no caráter pacifista do maranhense um amigo me liga e avisa que mataram mais um preso em no presídio de Pedrinhas e que já eram 65 as vítimas de homicídios desde que o dia primeiro dia do ano. Hoje é 21º dia.
A sociedade maranhense e ludovicense precisa se perguntar o que aconteceu com o nosso estado, com a nossa cidade. Precisamos saber como chegamos a isso e quem são os responsáveis. Quem teve participação por comissão ou omissão. Quem deixou de fazer o que devia. Não podemos aceitar que as culpas sejam diluídas de tal forma que autores vítimas sejam igualados.
Uma cidade que já foi pacífica, como nos lembramos que foi, quase provinciana, não se torna a 15ª cidade mais violenta do mundo do dia para noite. Foi um processo que contou a participação e omissão de muitas autoridade, muitos foram os que se preocuparam mais com os seus interesses que os com os interesses do nosso estado e da nossa cidade.
Não faz muito tempo podíamos andar livremente para por toda cidade, os crimes não existiam, era motivo de apreensão quando ocorria um homicídio. Muito diferente hoje, quando acontecem 12 homicídios num único fim de semana e achamos normal, já não nos perturba. Hoje não se encontra praticamente ninguém na cidade que não tenha sido vítima de algum crime. São roubos de veículos, assaltos a residências e toda sorte de violência.
A realidade, por mais dura que seja, é que os nossos governantes não se desincumbiram das suas atribuições, não tomaram de conta da cidade, não cuidaram dela. O resultado é que a “bandidagem” assumiu o comando. Estamos todos presos e eles soltos ditando as ordens. Mandando e desmando. Tudo por inércia dos que deveriam tomar de conta, de bem administrar os nossos destinos.
Os governantes nos aprisionaram e abandonaram a cidade a própria sorte. Pior que isso é que não se dão conta do que aconteceu, nem um plano ou uma ideia para nos tirar do atoleiro que seus equívocos, sua incompetência e sua intolerância nos colocou.
Diante do quadro que nos defrontamos, os comerciais que os governares fazem soam como uma afronta a população pois vendem o que não temos. O horário nobre coalhado de comerciais dizendo que vivemos no paraíso prometido por Deus, no entanto, deste paraíso não podemos usufruir o mísero direito de nos sentar na porta uma boca de noite e conversar com os vizinhos. Talvez seja uma estratégia, se não podemos ficar na porta de casa, conversando com os vizinhos, ficamos dentro de casa, desde bem trancados, para podermos assistir, pela TV, os comerciais mostrando o maravilhoso mundo em que vivemos. É isso que está acontecendo. Estamos conhecendo o Maranhão, ao menos o que estão nos vendendo, muito bem vendido alias, pela TV.
Mas os nossos governantes acham normal esta situação, não se incomodam ou não demonstram nenhum desconforto com isso. O Maranhão, vai muito bem, obrigado, é o que dizem. Os que questionam isso, são os inimigos do povo.
Vendem essa ideia com tanta eficiência que outro dia conversando com um jovem que não deve ter 20 anos e ele me dizia: “todos nós somos culpados”. Não é verdade. Essa culpa não é de todos nós. Os culpados são os que usaram o poder para enricar, os negligenciaram o serviço público, os que tornaram os assuntos de interesse público um bom negócio para os amigos, parentes e apaniguados. Os que lucram contudo que o estado faz, muitas vezes indevidamente.
A sociedade não quer muito. Quer que as autoridades cumpram o seu dever, garanta os direitos básicos, saúde, educação, saneamento, infra-estrutura, segurança. Nos contentamos em termos o direito de ir e vir sem medo, o direito entrarmos em casa sem sermos assaltados, sem ter os veículos tomados ou termos os nossos filhos assassinados na porta de casa. O direito de não sermos prisioneiros em nossa própria cidade, de podermos conversar com os nossos vizinhos na porta.
Queremos o direito de termos a nossa cidade de volta. Queremos que devolvam a cidade aos cidadãos, à cidadania. Essa é a questão, queremos a nossa cidade de volta. Hoje a cidade não é mais nossa. Devolvam a nossa cidade!