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Excelência no Continente

Por Natalino Salgado Filho

O campus da Universidade Federal do Maranhão em Imperatriz acaba de alcançar um grande êxito do ensino público: um de seus cursos, o de Engenharia de Alimentos, conquistou do MEC a nota 4, de um máximo de 5, em avaliação realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP. Esta nota é resultado de um conjunto de fatores, tais como infraestrutura da instituição, qualidade do corpo docente – formado por mestres e doutores – e o resultado do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE).

Natalino Salgado.
Natalino Salgado.

Só a título de esclarecimento, o Índice Geral de Cursos é a ponderação destes valores que, por fim, geram a nota que classifica o curso em faixas de qualidade, tanto os de graduação como também os de pós-graduação. Notas entre 1 e 2 refletem um nível insatisfatório de formação. A nota 3 revela a qualidade regular e, a partir da nota 4, o curso entra na faixa de excelência.

O curso de Engenharia de Alimentos – mesmo considerando que tenha apenas formado duas turmas, tendo iniciado suas atividades em 2006 – tornou-se, com esta avaliação realizada em dezembro passado, o melhor em sua categoria de todo o Norte e Nordeste do país. No ranking nacional, é o sétimo melhor curso do Brasil.

Trata-se de um feito digno de comemoração para todos nós que fazemos a UFMA e em especial, para os professores, alunos e técnicos ligados à área. Também é motivo de orgulho e comemoração para Imperatriz, segunda maior cidade do estado e uma das mais populosas do Brasil, onde habita um povo hospitaleiro, honesto e trabalhador. Depois de atravessar os ciclos econômicos do arroz, da madeira, da castanha e da borracha e até do ouro, Imperatriz consolidou uma forte tendência empresarial, com um mercado imobiliário em franca expansão e abertura de novos e promissores negócios. Em breve, terá em pleno funcionamento uma unidade da fábrica da Susano, gigante mundial do setor de papel e celulose, que anuncia ter a capacidade de produção de 1,5 milhão de toneladas/ano de celulose para exportação e de geração de aproximadamente 15 mil empregos.

Inconteste, pois, que o curso de Engenharia de Alimentos coaduna-se com a própria vocação não apenas de Imperatriz, mas da região sul do Maranhão, grande produtora de alimentos, além de destacar-se na agricultura e pecuária. A formação desse tipo de mão de obra especializada contribuirá para o salto do processo produtivo do setor primário para níveis maiores, agregadores de valor e geração de empregos.

Acredito que o profissional de Engenharia de Alimentos – principalmente com esse nível de excelência que o curso da UFMA agora alcança – está apto a trabalhar não apenas com o processo de produção dos alimentos, passando pela conservação, acondicionamento (embalagem) e transporte, criação de novos produtos (a partir dos perfis de mercado), mas na solução de problemas que hoje representam um grande desafio no mundo todo. Um dos maiores, sem dúvida, é o desperdício de alimentos.

Tal questão é tão grave que um relatório publicado no início deste mês, pelo Instituto de Engenheiros Mecânicos da Inglaterra afirma que 50% – cerca de 2 bilhões de toneladas – de todo o alimento produzido no mundo não chega ao estômago das pessoas. O relatório chama esta situação de “a tragédia do desperdício”.

As razões alegadas são diversas: baixo índice de tecnologia na produção; infraestrutura inadequada no transporte; falta de boas instalações de armazenamento e ainda, particularmente nos países ricos, a cultura comercial dos varejistas que estabelecem padrões estéticos rigorosos para a apresentação dos produtos – eles chegam a condenar produções inteiras -; e a política de vendas que induz o consumidor a comprar mais do que necessita. A mesma pesquisa afirma que as pessoas descartam cerca de 50% do que compram nos países desenvolvidos. O mais preocupante de tudo isso, afirma o relatório, é que nos países emergentes como o Brasil é onde se concentram as maiores parcelas de desperdício do alimento produzido.

Se tão somente esta questão fosse resolvida, a disponibilidade de alimentos poderia dobrar para as pessoas no mundo. A ONU estima que até o final do século XXI haverá 3 bilhões de pessoas a mais no planeta, o que pressionará enormemente a demanda por comida, energia, terra e água. Estes três insumos fundamentais na produção de alimentos, como se sabe, são finitos e apenas com seu uso sábio, o que significa dizer, com tecnologia já disponível, pode-se alimentar a população inteira da terra. Estima-se que só o Brasil perca cerca de 30% de toda a produção agrícola apenas no transporte. Nosso país, que ocupa lugar destacado no cenário mundial, especialmente como grande produtor de alimentos tem, por outro lado, graves problemas de desperdício. Mais do que desafios do mercado, são estímulos para que os engenheiros e as engenheiras de alimentos possam trabalhar de forma denodada na pesquisa e no oferecimento de respostas capazes de proporcionar um futuro melhor e mais confortável para todos.

Quanto ao nobre reconhecimento que o curso de Engenharia de Alimentos agora alcança, é importante ressaltar que nenhuma vitória é fruto de um esforço solitário: deve-se ainda esta conquista ao trabalho sério e determinado de qualificação por parte da UFMA na formação discente; no incentivo àqueles que sonham em realizar uma formação universitária com nível de excelência e que contam cada vez mais com um leque diversificado de opções profissionais na variada e rica grade de cursos que nossa universidade oferece; e ainda ao conjunto de esforços que começa na própria política de interiorização da UFMA, focada em expandir o acesso ao ensino público gratuito e de qualidade aos mais diversos rincões de nosso gigantesco estado.

O ideal perseguido é propiciar aos diversos campi instalados, alguns dos quais agora estão sendo ampliados, essa mesma experiência exitosa, na certeza de que atenderão não só à demanda de crescimento do Estado, mas serão a própria base onde este desenvolvimento se apoiará. Incentivar o ensino, a pesquisa, a extensão, sem perder de vista sua vocação para a inclusão é o que justifica a existência da universidade.

A todas e a todos que protagonizaram a conquista dessa nova realidade do curso de Engenharia de Alimentos, meus mais sinceros parabéns.

Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA e membro do IHGM, ACM, AMC e da AML

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