Bom dia Brasil
”Há duas semanas o pequeno Khaled, de apenas 4 anos, veste um macacão, semelhante à roupa de um astronauta. A vestimenta colorida, porém, tem uma função. É um equipamento usado em sessões de fisioterapia intensiva para crianças com distúrbios neurológicos, como ele, portador de paralisia cerebral. Ele não anda e só fica em pé se for segurado por outra pessoa. O distúrbio é consequência do parto, prematuro.
Ao nascer, Khaled teve parada respiratória e a falta de oxigênio deixou as sequelas neurológicas. Khaled é o segundo brasiliense a fazer a terapia pediátrica intensiva, a Therapy4Kids — um programa com o intuito de fortalecer e dar mais resistência muscular à criança. Ela é executada com o uso da unidade de exercício universal (cabos, roldanas e pesos) e o aparelho aranha (cordões enganchados em uma cinta, presa no paciente, com uma suave movimentação). Cada programa é individualizado aplicado com o PediaSuit, um macacão que facilita os movimentos. O primeiro a experimentar a terapia em Brasília foi o menino Luiz Eduardo, mas a família dele decidiu transferir.
Khaled fica em pé quando usa o macacão, feito especialmente para ele. E faz com mais facilidades os exercícios com a fisioterapeuta. A vestimenta custa em torno US$ 2,5 mil. “Ele já consegue se levantar sozinho e não senta mais por cima das pernas, como fazia antes”, conta a mãe, Maria Eduarda. Ela e o marido optaram pelo tratamento ao tomarem conhecimento dos resultados apresentados por outro garoto, que fez a mesma terapia em Salvador. O custo é alto: eles pagarão R$ 10,8 mil pelas quatro semanas de terapia intensiva. Esse valor inclui a vestimenta.
A roupa terapêutica é composta por um material que possibilita a oxigenação dos poros e é anexada por velcros, permitindo um fácil manuseio. Tem colete, short, joelheira, tênis, tapete e cordões de borracha elástica alinhados ao corpo para proporcionar um equilíbrio dos músculos agonistas, antagonistas e sinergistas. “A proposta do PediaSuit é fornecer estímulos sensoriais suplementares para os músculos e articulações do corpo, auxiliando no movimento funcional, com o uso dos cordões de borracha refletindo nos músculos do corpo”, afirma a fisioterapeuta Anna Carolina Xavier e Chaves, que deu o curso sobre Therapies4kids em uma clínica de fisioterapia na Asa Sul. Atualmente, ela aplica o método em duas crianças na capital paulista, além de ser coordenadora do Ambulatório de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo.
Segundo a especialista, acompanhados por exercícios repetitivos de alongamento, esses movimentos, realizados todos os dias, ensinam ao sistema nervoso novos caminhos para se mover, se equilibrar e se autocoordenar. Esse programa se desenvolve de três a quatro horas por dia, cinco dias da semana, por quatro semanas. Cada programa é individual, desenvolvido de acordo com a necessidade do paciente.
Durante o treinamento de três dias, realizado em fevereiro, Anna Carolina explicou às fisioterapeutas brasilienses que os principais objetivo do procedimento são a normalização do tônus muscular da criança. Com os exercícios, aumenta a variedade dos movimentos e a força dos músculos. “A terapia permite que a criança melhore suas habilidades funcionais, sendo um trabalho que visa a independência”, afirma Marta Rosa Gonçalves Pereira, a terapeuta ocupacional responsável por trazer o Therapies4kids e o PediaSuit para Brasília.
Marta Rosa esclarece que a roupa terapêutica é apenas uma ferramenta da terapia intensiva. Segundo ela, o programa consiste em um tempo de aquecimento por meio de placas quentes, massagem e alongamento. Em seguida, são executados exercícios para fortalecimento e aumento da resistência muscular. “Esses ganhos são adquiridos ao longo do tratamento, com atividades direcionadas diariamente”, diz Marta Rosa, informando que, além de Luís Eduardo, três crianças brasilienses farão a mesma terapia.
Anna Carolina afirma que, por ser um novo método, parte dos médicos desconhecem a Therapies4kids e o PediaSuit e ainda não há literatura científica sobre o tema. Porém, o tratamento só é executado mediante liberação médica. “O macacão é contraindicado para crianças com escoliose grave e luxação de quadril”, avisa a fisioterapeuta paulista.
Os benefícios do novo método
· Melho
ra da propriocepção
· Redução dos reflexos patológicos
· Restauração dos padrões de movimento e da postura apropriada
· Estabilização externa e suporte dos músculos fracos
· Correção do alinhamento corporal e estimulação da parte neurológica
· Melhora da fala
· Por aplicar ao corpo uma pressão semelhante à ação da gravidade, acelera o progresso dos movimentos e habilidades recém-aprendidos