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Grandes homens não tratam assuntos pequenos

Por Abdon Marinho

Advogado Abdon Marinho.
Advogado Abdon Marinho.

As notícias que chegam do planalto central é de mais uma crise no nosso venerado STF. Desta vez por conta de declarações do ministro-presidente sobre a não prisão de um dos condenados no processo do mensalão, o deputado petista José Paulo Cunha.

Haveria necessidade, de mais uma vez, submeter a população ao vexame de assistir os maiores homens do judiciário nacional lavando roupa suja por conta de uma “picuinha” como essa? Ninguém assinou o mandato de prisão que presidente deixou de assinar. Paciência, o mundo não acabou por que o condenado ficou mais trinta dias ausente da Papuda, ao que sei ele não fugiu, não escafedeu-se, sua pena não foi extinta por conta disso ou prescreveu. Não faz sentido é que se gere uma crise institucional por uma tolice como essa.

A mídia, que também, não se aquieta sem gerar um escândalo, sobretudo quando, junto com ele vem uma “prestaçãozinha” de serviço aos seus patrões, não cessa de inflamar ainda mais o ambiente, muitas vezes até dando vazão aos seus preconceitos mais recônditos. Sobre a viagem que fez o presidente do STF à Paris, França, e à sua visita ao uma loja de grife, não faltou quem se achasse no direito de tratá-lo como o próprio demônio.

Explico como. A maioria de nós se lembra do filme brilhantemente estrelado por Meryl Streep e tendo como diretor David Frankel, intitulado “O diabo veste prada”. O filme que é uma adaptação de um livro do mesmo nome, de Lauren Weisberger, fez muito sucesso.

Pois bem, numa campanha sórdida, os amigos, agregados e aliados dos “mensaleiros”, que desde novembro, depois de regulamente condenados, foram presos e estão vendo o sol nascer quadrado, não para de referir-se ao ministro do STF dizendo que ele “veste prada”, em suas diversas variações.
Ora, ora, não precisa ir muito longe para deduzir que estão chamando o ministro da “coisa ruim”, o “tinhoso”. Não disfarçam que é uma alusão ao filme, para chamá-lo de diabo. Poder-se-ia até encarar com bom humor o trocadilho (de fato é uma tirada interessante). Nada teria demais, afinal, no filme, o diabo, era em sentido figurado, a extraordinária e elegante Meryl Streep, em papel memorável., que lhe rendeu indicação ao oscar e um prêmio globo de ouro. Entretanto, os detratores do ministro não possuem senso de humor para tanto.

As insinuações tem as conotações do racismo embutido, ao preconceito de não se admitir que um negro, um pobre ou os dois juntos, tenha chegado onde chegou, que possa conhecer o mundo e a vestir-se com roupas de grife. Pessoalmente, acho tudo isso uma vaidade tola, uma ostentação desmedida num país de miseráveis. Nunca senti nenhuma vontade de vestir ou calçar marca. Meu atual sapato tem, por baixo, uns sete anos, e acho que ainda dura mais um tempinho, e não é prada. Nunca dei mais que R$ 100,00 (cem reais) numa camisa, nunca usei um terno que passasse de R$ 1.000,00 (mil reais) e assim mesmo a contragosto. Entretanto, não é por achar isso, que se deve dá azo ao preconceito e ao racismo, mesmo por que, não é essa a primeira vez que fazem isso. Antes, durante e depois do julgamento do “mensalão” plantaram e fizeram plantar acusações e preconceitos contra ele, ora era o feitor, ora era corrupto, ora deslumbrado, ora o recalcado, e por aí vai.

O próprio ministro, com sua queda por picuinhas, não se cansa de alimentar a diminuição das instituições brasileiras, logo ele, que todo dia sofre as conseqüências.

Este é apenas um pequeno exemplo de como andam as instituições nacionais. O Brasil se tornou uma grande “terra de ninguém”, onde quase todo mundo se acha no direito de tirar sua vantagem ou enricar à custa do suor do contribuinte.
Outro dia o presidente do Senado da República achou que nada tinha de errado em requisitar um avião da FAB para ir fazer um singelo implante de cabelo na cidade de Recife (PE). Há algo mais patético que um presidente de tão elevada instituição se ocupar de implantes capilares?
Não faz muito tempo, vi a patética imagem de um governador de estado mergulhando numa cisterna para tentar estancar um vazamento, fazia não por necessidade, mas apenas no exercício prático de demagogia (não digo o governante não deva experimentar as auguras que experimenta o povo, é dever dele fazer isso). Não queremos governantes que resolva um problema numa cisterna, queremos um resolva toda a crise no abastecimento de água, de esgoto, de saneamento, habitação, saúde e educação.

O populismo dos políticos brasileiros, chega as raias da insanidade, quase todo dia temos exemplos disso.

Trago comigo uma história que ouvi ainda na infância. Contaram-me de uma concreção de freiras que foram habitar num dos lugares mais insalubres da cidade. Eram freira muito boas, devotadas as pobreza. Com o passar do tempo elas começaram a se sentir hostilizadas pela comunidade. Por mais que tentassem não conseguiam entender, como elas que eram tão boas estavam sendo hostilizadas. Até que uma perguntou para um líder da comunidade qual a razão da hostilidade. O líder explicou-lhes a razão: Eles moravam lá por não ter para onde ir, queriam alguém que os ajudassem a sair daquela condição de miséria e não que fossem morar lá como se fosse normal habitar aquele tipo de lugar.

Os grandes homens, os governantes a quem os povos confiaram os seus destinos, esperam bem mais destes homens públicos. Não acham ser normal tanta discussões em torno de “picuinhas”, assuntos menores que não resolvem os problemas que atravessam o país.

Fico pensando, como é ficam os milhares de julgamentos pendentes do STF quando vemos ministros perdendo tempo com a assinatura ou não assinatura de um único mandato de prisão, que não altera em nada a rotina da sociedade.

Divago sobre quem, de fato, se preocupa com a pauta nacional quando temos um presidente do Senado da República, preocupado com sucesso ou insucesso do seu implante capilar. Pois é, chegamos ao ponto em que o implante capilar ou plástica dos grandes da nação ocupam os debates ao invés dos assuntos de interesse de toda a sociedade. E o mais grave é que os pagamos para cuidar dos nossos interesses e não de sua vaidade.
Fico indagando se o governador não deveria ceder lugar a um bombeiro hidráulico, decerto mais habilitado que ele para resolver o problema da cisterna enquanto ele ia cuidar da falta de água, saneamento, moradia, etc., de todos os habitantes do estado.

Um dos grandes problemas que o país atravessa é que não temos homens públicos preocupados com o interesse público, com o crescimento econômico, com a balança comercial, com a segurança das nossas fronteiras, com o caos da saúde, como os péssimos indicadores na educação. Os nossos políticos, em geral, estão preocupados é com próxima eleição, seus interesses giram em torno dos votos que podem conseguir com um favorecimento aqui e ali. As obras de interesse da nação que venham a resolver os gargalos da nossa infra-estrutura eles passam ao largo, querem saber é da emendinha da sua base, de preferência para negociar e pegar um troco com ela. Preocupam-se é com o emprego do aliado, afilhado ou correligionário que poderá o carga para lhe favorecer na eleição.

O Brasil se perde quando vemos homens que deveriam ser grandes e se ocuparem de temas grandes os vemos pequenos cuidando de assuntos menores que eles.
Grandes homens não tratam assuntos menores. Se tratam, não são grandes.

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