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Guerra eleitoral: um debate atrasado

Por Abdon Marinho

Abdon Marinho.
Abdon Marinho.

Só aos tolos ou ingênuos é dado o direito de imaginar que a conquista de poder, qualquer poder, possa se dá sem conflito. Em maior ou menor grau, conflitos sempre existirão.

Não seria diferente no jogo político sucessório do Maranhão. Os conflitos internos dentro do grupo que está no poder culminou com uma radical mudança no roteiro inicialmente traçado, com direito a mudança de candidato e tudo mais. Não pensem que essas mudanças se deram sem sequelas. Claro que não.

Pois bem, se não aliviam nem com os seus, aliviariam com os adversários? Também não. Dito isso, não consigo entender o estranhamento de algumas pessoas com os acontecimentos da campanha política. Nada do que acontece deveria surpreender ninguém. Quem conhece a política do Maranhão até acha que ela, no momento, está excessivamente civilizada. Civilizada para o nível de baixaria de outros pleitos.

Não tenho intimidade ou amizade para falar de política com o candidato oposicionista. As poucas vezes que falamos, foi ainda em meados dos anos 80, por volta de 85, 86, naqueles cursos de formação que rotineiramente os partidos faziam no Sítio Pirapora, no Bairro Santo Antonio. Desde então nunca mais falamos sobre política. Primeiro por que seguimos carreiras distintas. Ele foi para a magistratura e eu para advocacia. Depois por que passamos a manter um relacionamento meramente protocolar e ligado as nossas atividades nas vezes que nos encontramos nos tribunais ou em algum outro local. Encontros rápidos, muitas vezes não passando de um cumprimento. O último ocorreu em meados junho. Estava gravando uma participação em um documentário de Eri Castro na porta do Palácio Episcopal e o candidato passava pela Praça Pedro II. Quando me viu, mudou o roteiro e, gentilmente, subiu as escadas para me cumprimentar. Trocamos umas duas palavras e ele seguiu seu caminho e eu continuei o que fazia.

Embora não tenha falado com o próprio candidato, com muitos dos nossos amigos comuns e seus interlocutores, tenho dito o que penso da política maranhense. Quando por ocasião da sua nomeação para a EMBRATUR, e existia todo aquele clima de impasse, nomeia não nomeia, disse a mais de um, que ele, como planejava candidatar-se ao governo, deveria recusar o convite, se feito, ou não pleitear, se não feito. Estes amigos argumentavam que era um órgão muito interessante e que seu dirigente poderia fazer muito pelo turismo brasileiro. Meu argumento contrário sempre foi bem simples, dizia que fazendo ou não fazendo uma boa gestão sua passagem pelo cargo forneceria munição contra uma possível candidatura. Independente de sucesso ou não da gestão.

Mais a frente, disse a esses mesmos amigos e interlocutores do candidato que ele deveria ir para um outro partido pois seria menos complicado para a campanha. Infelizmente, os nossos amigos não falaram com o candidato, ou se falaram, não foram levados a sério.

Faltando menos de sessenta dias para a eleição o debate sucessório contra o candidato é pautado nestes dois temas: A gestão frente à EMBRATUR e a filiação partidária do candidato.

Vejam, não é que eu seja um experto em política, muito longe disso, é que acompanho a vida política do Estado desde criança. Acaba-se por aprender como as pessoas agirão. Por conta disso sabia que os assuntos desta eleição seriam estes.

A guerra eleitoral é feita desse tipo de coisa. Se fazendo o escrutínio de tudo que se possa depor contra o opoente. Tendo feito ou não uma gestão primorosa frente ao órgão que geriu qualquer administrador sempre pode ser responsabilizado por algo, se não é um ato de corrupção, é a argumentação que a o órgão foi mal gerido, que não rendeu o que deveria, que foi incompetente, que causou prejuízo, as vezes por ter assinado um papel, as vezes por não ter assinado. Tudo é motivo para desmontar a imagem da pessoa. Ainda que fosse a gestão mais profícua de todas aos olhos dos adversários, não passaria de medíocre.

Se por um lado tinha esse tanto de coisas negativas, por outro lado de positivo não tinha nada a apresentar. O Brasil não faz parte de nenhum grande roteiro turístico mundial, ainda que se capitalizasse muito, não seria possível atrair turistas principalmente se considerássemos a valorização da nossa moeda em relação as demais, a brutal carga tributária que estimula os brasileiros a saírem do país, ainda que seja para fazer compras. Em suma, a chamada conta turismo não possuía chances, no curto prazo, de fechar positiva. Fosse seu presidente quem fosse.

O mesmo se dá com relação ao partido. Embora o partido tenha sido colocado na legalidade há quase 30 anos, permanece o estigma do comunismo, um “pule-de-dez” para a exploração. Alguém tinha dúvidas que essa discussão ideológica iria acontecer? Só os ingênuos. E a exploração tende a aumentar, sobretudo, junto as pessoas mais simples. E, em se tratando do Maranhão não são poucas pessoas.

Muitos acreditam nos que lhes falam sobre o comunismo, tanto na parte doutrinária, quanto nos mitos que foram consolidados ao longo das décadas. Do ponto de vista prático, isso não significa nada. Um candidato a governador, mesmo presidente, não poderia e não teria como mudar as regras do jogo, o regime que vivemos, ao seu talante, nos dias atuais. Essa discussão que o candidato é comunista serve apenas ao propósito de desconstrução da imagem, de incutir o medo nas pessoas. Na verdade para as pessoas mais esclarecidas, a filiação partidária deste ou daquele candidato de nada serve. No caso dos nossos comunistas, esses comunistas verdes/amarelos, a larga maioria não sabe sequer o que é a doutrina comunista, o que seja o comunismo. E muitos estão filiados por mera conveniência. Entretanto o Maranhão perde o tempo com esse tipo de debate político/ideológico do começo do século. Que fique claro, do começo do século XIX.

Quando lá atrás sugeri que houvesse a mudança, a fiz por saber que do ponto de vista eleitoral, estavam cometendo equívocos. Por qual razão, iriam oferecer munição ao adversário? Caso acreditavam que estes aspectos não seriam explorados a exaustão?

A reclamação que se faz agora, de que estão explorando isso ao invés de se está discutido outra pauta, planos de governo, propostas, me parece pueril e, embora, ache que exista um exacerbo se perguntar sobre manifesto comunista, conteúdos programáticos do partido, que todos sabem jamais serão implantados, estão no direito de fazer isso. O próprio partido e seus filiados forneceram a munição. Estranho seria se não explorassem. Chegamos a esdrúxula situação de está vendo um documentário na TV fechada sobre a Segunda Guerra e mudar para TV aberta durante um comercial de campanha e ficar com a impressão que não tinha mudado de canal. O mesmo discurso, as mesmas imagens em preto e branco.

Como as pesquisas apresentam o candidato oposicionista muito bem situado, talvez os fatos explorados pelos adversários não tenham qualquer reflexo no resultado final do pleito. É esperar para conferir.

Apesar de tudo seria muito melhor, para o Maranhão, que estivéssemos discutindo os problemas reais do nosso povo, saúde, educação, produção, meio-ambiente, etc.

Abdon Marinho é advogado eleitoral.

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