Por Abdon Marinho
Um dos maiores problemas da região metropolitana de São Luís é a falta d’água. O líquido faz meses que não chega à torneiras em alguns bairros. As pessoas, diante da impossibilidade de viverem sem, se viram como podem. Acordam de madrugada, ligam bombas na rede para puxar a água dos canos, etc. Condomínios e os aquinhoados têm o fornecimento garantido através de carros-pipa, mais de R$ 100,00 o carregamento. Outro dia soube que em alguns bairros a CAEMA não entrega mais as contas. Acredito que tenha se convencido da falta de sentido em cobrar por algo que não oferece ou talvez tenham apenas o receio que os entregadores de contas sejam linchados pela população.
Os jornais de hoje dão conta de protestos em alguns pontos da cidade, moradores já não suportam mais o descaso das autoridades.
A dramática situação da capital é replicada no interior com até com mais intensidade. Cidades inteiras ainda se valem do abastecimento de poços e cacimbões sem quaisquer condições de higiene.
Entretanto esse post não tem por objeto discutir o problema que é de todos conhecido. O que quero, na verdade é fazer uma reflexão.
Somos sabedores que o Maranhão é dos dos estados que mais possui recursos hídricos, apesar da falta de zelo e de uma política de conservação ambiental, ainda temos muitos recursos, temos rios que não secam, lagos, igarapés, etc., sem contar a grande reserva que possuímos no subsolo.
Pois bem, se com tantos recursos hídricos as pessoas passam sede tanto na capital quanto no interior, alguém já pensou o que irá acontecer daqui a 20, 30 ou 50 anos? Por onde passo testemunho a destruição de matas ciliares, construções brotam na beira dos rios e igarapés, poços são perfurados indistintamente e sem qualquer controle, florestas com nascentes dão lugar a condomínios. Não precisamos ir muito longe, dêem uma circulada pela ilha e verão que rios da ilha se transformaram em esgotos a céu aberto. Isso aqui, à vista de todos, onde, teoricamente, as autoridades estão mais presentes. No interior a situação é até pior. As autoridades se omitem na política de preservação ambiental, em prejuízo de rios, nascentes e florestas. Tornamo-nos uma terra de ninguém.
Pois bem, ainda assim temos recursos hídricos em abundância e apesar disso a água não chega aos lares das pessoas. Vivemos hoje como nos séculos 18 ou 19, só faltam ressuscitar Ana Jansen.
Como dizia, se hoje já sofremos com a falta de água, como será a situação nos anos vindouros? Sim, porque apesar do problema afetar a todos, não se ver uma autoridade falando em resolver o problema ou sequer estabelecer uma política de preservação dos recursos. Os órgãos ambientais não se comunicam, os órgãos de saneamento, ao menos, não conheço, apresentam uma política de exploração e conservação de recursos. O que assistimos, dia após dia, são soluções emergenciais, gambiarras, etc. Outro dia um secretário estadual apresentou como solução a perfuração de poços artesianos. Pela ideia de “gerico” se ver que ninguém sequer sabe o que se está falando. Trata-se, tão somente de “gambiarras” que nada resolverão, nem no curto, médio ou longo prazo.
Entretanto, dias piores virão, como no Maranhão só pensa até a próxima eleição, ninguém está pensando ou fazendo nada pelos que aqui estarão nas próximas décadas. Qual o projeto de abastecimento para daqui a cinquenta anos? Quem está planejando? Quando começam a execução? Uma obra que pretenda resolver esses problemas precisam começar com antecedência. Como iremos preservar rios, lagos, igarapés e os lençóis freáticos? Será que estão pensando nisso? Se estão, fazem em segredo.
Projetar o futuro exige dedicação e compreensão da realidade. As políticas públicas precisam de integração. Não adianta se falar em abastecimento de água sem entender que é necessário preservar os rios e os demais recursos hídricos. A população precisa entender que essas coisas estão interligadas. Que a consequência de se poluir os rios é a falta de água para beber, irrigar alimentos, etc. Não adianta reclamar e preservar. O condomínio que achamos bonito é mesmo que mata a nascente é que não dizemos nada.
O desafio está posto. A necessidade bate à porta. Embora não pareça, estamos brigando por nossa própria vida.
Abdon Marinho é advogado eleitoral.