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Inimigos íntimos

Por Abdon Marinho

O título do post é um nome de filme mas cai como uma luva à situação vivenciada pela presidente Dilma. A oposição brasileira praticamente sumiu do cenário. Jamais em tempo algum tivemos uma oposição tão apática e tão desprovida de objetivos. Até parece que desistiram do seu papel.

Pois bem se a presidente não é fustigada pelos seus adversários o mesmo não pode dizer dos seus aliados. Desde o inicio do governo os dissabores sempre surge do flanco interno. Ela, aliás, parece ser a única a ignorar esse fato. Gente de seu próprio partido sempre trabalhou com a possibilidade de enfraquecer a presidente como forma de deixar aberta a possibilidade do retorno do ex que ronda o governo como uma ave de rapina rondando a carniça.

Trata-se uma relação estranha pois embora sabendo-se vítima de uma campanha movida por seus “amigos” a presidente sempre que pode encampa as pautas partidárias ao invés da pauta de interesse do país e de seu governo. Ontem mesmo a vi na TV fazendo isso. Comprou para si e para o país propostas que até mês passado eram defendidas unicamente pelo seu partido. Quando o Congresso Nacional decidiu não votar a proposta de reforma política resumida em financiamento público e lista fechada, conforme defendia o relator Henrique Fontana (PT/RS), o partido anunciou que iria colher assinaturas em todos cantos do país, usar toda sua estrutura partidária e sindical para fazer a coleta, sob o manto de proposta oriunda das ruas e pressionar o congresso. Não se sabe até agora quantas assinaturas conseguiram. Entretanto acharam um atalho, convenceram a presidente a encaminhar, com o poder do cargo, suas propostas. Acho que desistiram da proposta popular.

Vejam como é irônico, esses anos todos sabotam o governo para enfraquecer a presidente. Fazem-na tomar as medidas mais esdrúxulas, fazer um governo no fio da navalha, para que não tenha condições de concorrer a reeleição e abrir a vaga, para o ex, quando a população sai às ruas, protestando contra tudo, mas sobretudo, contra o governo federal, conforme apontaram as pesquisas, eis que os sabotadores, os responsáveis pelo caos tentam, impor suas pautas ao país. E fazem isso, não de forma transparente ou através dos meios adequados, mas usando a própria presidente.

Os inimigos da presidente e que ela deve saber quem são, sabotam o governo inclusive recendo salários pagos pelo contribuinte para isso. Não esqueçamos que a polícia do Distrito Federal encontrou pessoas do próprio circulo do poder no início das manifestações, bancando todo tipo de arruaça e gastando muito. Identificou os bagrinhos, diga-se de passagem. Os graúdos que gastaram os recursos comprando pneus para queimar e bancando a turba contratada, esses não apareceram, continuam encastelados nos palácios inclusive, no Planalto.

As idas e vindas, as declarações desencontradas, o disse me disse, as decisões equivocadas, a ignorância das instâncias republicanas na administração dos conflitos ocorridos no país, demonstram ou o total despreparo da assessoria presidencial ou agem com a clara e deliberada intenção de sabotar o governo do qual fazem parte. Ontem mesmo tivemos provas disso nas declarações e contra-declarações do vice-presidente e do ministro da justiça, esse último desaparecido desde que se colocou contra a polícia de São Paulo por querer tirar casquinhas políticas do infortúnio do adversário. Quando as manifestações subiram as rampas dos palácios de Brasília o cidadão sumiu, voltou ontem para falar abobrinhas e se desdizer horas depois. Mas esse não acredito que aja de forma deliberada, parece apenas perdido dentro de um cargo infinitamente maior que ele.

Tanto fizeram os inimigos íntimos da presidente que tiraram quase que totalmente as condições que a mesma teria para governar o país e a disputar a reeleição que parecia certa.

Não bastasse isso, como os ratos que fogem do navio quando mesmo começam a afundar, muitos dos que contribuíram para o que vem acontecendo hoje, passam a atribuir apenas a ela a responsabilidade pelo caos. Dizem que é “teimosa” que não fez as mudanças necessárias, que não tirou esse ou aquele ministro, que não reduziu os gastos. Logo eles que tudo fizeram em sentido inverso. Logo eles que quando a presidente demitiu um penca de ministros que estavam retirando o dinheiro do cofre diziam que eles estavam era colocando o dinheiro e não tirando. Agora criticam a falta de iniciativa. Oportunistas.
Sabendo ou não sabendo o que se passa nas salas ao lado do gabinete ou com os assessores bem próximos, a presidente dá vida a aquele velho e surrado ditado que diz: “o malandro pode até não saber por que bate na mulher, mas ela decerto sabe porque apanha, senão reclamava”. É uma lástima.

Abdon Marinho é advogado eleitoral.

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