Sem traquejo político, o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), vai deixar o cargo sem, na prática, quase nunca tê-lo exercido. A presidência caiu no seu colo, com o afastamento de Eduardo Cunha pelo Supremo, mas ele demonstrou pouco preparo para o cargo. Quase nunca conseguiu presidir uma sessão de votações, e ainda protagonizou algumas trapalhadas.
No caso mais barulhento, ele assustou o mundo político ao anular, numa canetada, a aprovação do impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, pela Câmara. Diante da confusão, acabou recuando e anulando o próprio ato. E ficou marcado pelo recuo.
De poucas palavras, e econômico na retórica, Maranhão, diferentemente de Cunha, evitou a imprensa o tempo inteiro. É raro vê-lo circulando pelos corredores. Sua relação com Cunha alternava bons e maus momentos. Tomou decisões que favoreceram o peemedebista, como, por exemplo, o afastamento do deputado Fausto Pinato (PP-SP) da relatoria do processo contra Cunha no Conselho de Ética. Mas sua decisão que alcançou maior repercussão foi também a que o inviabilizou de vez como presidente interino: a tentativa de anular o impeachment de Dilma, em 5 de maio. A partir daí, sua vida virou um inferno no plenário da Câmara sempre que tentou presidir as sessões.
— Sai dessa cadeira que não te pertence, deputado Waldir Maranhão — disse a ele, certa vez, o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM).
Na votação do impeachment, em abril, Maranhão ficou a favor de Dilma, mas fez uma declaração de fidelidade a Cunha, que tinha garantido sua eleição para vice-presidente da Câmara, em 2015.
— Quero dizer, meu presidente querido, que continuarei sendo leal à sua pessoa — disse Maranhão, ao microfone.
Assim como Cunha, Maranhão também é investigado na Lava-Jato. Segundo o delator Alberto Youssef, seu nome consta na lista de parlamentares do PP que recebiam mesadas entre R$ 30 mil e R$ 150 mil. Ele nega a acusação e aposta que não será denunciado no STF.
O Globo