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Justiça livra jornalista que denunciou empresa doadora da campanha de Flávio Dino

O Estado

Flávio Dino.
Flávio Dino.

Anunciada no fim da tarde de quarta-feira, 9, decisão do juiz Carlos Frederico Maroja de Medeiros, da 15ª Vara Cível de Brasília, que negou o pedido de indenização da juíza do Trabalho Marli Lopes da Costa Góes contra o jornalista Leonardo Sakamoto, dono de blog no UOL que noticiou, em julho de 2011, decisão da magistrada suspendendo resgate de trabalhadores encontrados em situação análoga à de escravos no Mato Grosso do Sul, em canaviais da Infinity.

A Infinity é dona da Alcana Destilaria, tem sede em paraíso fiscal do Caribe e, em 2010, depositou R$ 500 mil, à vista, na conta de campanha de Flávio Dino (PCdoB), então candidato ao Governo do Maranhão.

O caso que chegou à Justiça de Brasília é apenas um de pelo menos cinco que envolvem o maior grupo econômico escravagista em atividade no Brasil, a esta altura já com 2.922 trabalhadores oficialmente encontrados em situação degradante em seus canaviais do Mato Grosso do Sul e do Espírito Santo, dentre eles indígenas e nordestinos, inclusive maranhenses.

A suspensão do resgate noticiada por Sakamoto se deu em Naviraí (MS), onde 1.282 trabalhadores estavam sem abrigo, sob chuva e temperatura de até 10 graus Celsius; sem cobertor, água potável e sem banheiros. A juíza se sentiu ofendida pela notícia postada em blog do UOL.

A Infinity já tinha registros de trabalho escravo de 2008 e 2009 em canaviais de Conceição da Barra, Pedro Canário e São Mateus, todos do Espírito Santo. Ainda em 2009, em gravíssima situação financeira, entrou na Justiça com um pedido de recuperação judicial, e em 2010, 10 dias antes da eleição, ainda mergulhada na situação pré-falimentar, através da Alcana Destilaria compareceu como a maior doadora da campanha do comunista Flávio Dino, o único candidato a governador do Brasil a obter esse favor. Foram R$ 500 mil em dinheiro vivo numa transferência eletrônica.

Número de escravos aumentou após doação

Foi depois de contribuir financeiramente com a atividade política de Flávio Dino que a Infinity Bioenergy ousou formar o seu maior contingente de trabalhadores escravos no Brasil. Relatório da Comissão Pastoral da Terra apontou nada menos que 1.282 trabalhadores em condições análogas à escravidão num canavial do Mato Grosso do Sul. Entre eles, trabalhadores das etnias Guarani Kaiowá, Guarani Nhandeva e Terena.

O grupo, segundo a Comissão Pastoral da Terra, reunia também braçais mineiros e nordestinos, incluindo maranhenses, conterrâneos de Flávio Dino.

A ação de resgate, mais tarde determinada pelo Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, contou com agentes do Ministério do Trabalho e Emprego, do Ministério Público do Trabalho e da Polícia Federal.

Somente em 2013 veio à tona a informação de que a empresa escravagista flagrada pela CPT era a mesma que fez doação milionária, e de uma só vez, para a campanha de Flávio Dino, único candidato a governador no Brasil a merecer esta atenção da empresa canavieira.

No ano passado, após o fato repercutir nas páginas de O Estado, assessores de Flávio Dino reagiram à notícia do benefício recebido de empresa da Lista Suja do Ministério do Trabalho e Emprego. Mas não conseguiram explicar o fato de a Alcana ser, de longe, a que depositou o maior valor para financiar a campanha do então candidato comunista ao Governo do Estado.

O próprio Flávio Dino jamais explicou a história da doação, que consta dos relatórios da Justiça Eleitoral na internet. Preferiu atacar o jornal e os seus adversários políticos, chegando ao ponto de dizer não passar de mentiras uma denúncia documentada em todas as instâncias da Justiça comum e da Justiça Eleitoral.

A Infinity Bio-Energy ainda segue investigada pela PF.

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