Por Milton Corrêa da Costa
Mais uma tragédia na história da violência e dos atos imprudentes e irresponsáveis no mundo do futebol. Alguns torcedores do Corinthians estão detidos agora na Bolívia sob acusação de que um deles “mirou errado” um sinalizador e acabou matando um adolescente de 14 anos da torcida adversária, na noite desta quarta-feira, pela Taça Libertadores da América, na partida entre a equipe brasileira e o time boliviano do San José. Se foi “fatalidade” ou ato criminoso não importa. Melhor teria sido que artefatos fossem proibidos em estádios de futebol por medida de bom senso. Não, lá na Bolívia se permite a entrada de torcedores em estádios de posse de tais objetos que ameaçam a vida de seres humanos.
Em 1989 -estava presente e fui testemunha ocular- a seleção brasileira quase ficou de fora do Mundial de 90, em razão do arremesso, no gramado do Maracanã, durante uma partida das eliminatórias contra o Chile, de um sinalizador. O goleiro Rojas, da seleção chilena simulou que o artefato, que caíra próximo ao seu corpo, o tivesse atingido, fazendo uso de um lâmina cortando o próprio supercílio. Depois confessou a trama. A brasileira Rosemary, que arremessou o sinalizador, ficou conhecida à época como ‘a fogueteira’.
O Corinthians pode ser punido agora com a exclusão da Libertadores, até por mais de uma edição, caso seja comprovado o envolvimento de algum de seu torcedor no lamentável episódio.no Estádio Jesús Bermúdez. Imaginem que tragédia para o próprio clube que precisa honrar seus compromissos e investimentos. E a fiel torcida do clube, com milhões de adeptos no país? Que tamanha frustração e decepção!
O ato imprudente e irresponsável, muito presumível -fatalidade é outra coisa- tirou a vida de um menino de 14 anos. Foi atingido no olho pelo artefato e teve perda de massa cefálica, com morte instantânea. Neste contexto há que se considerar o erro injustificável das autoridades e da polícia bolivianas. Dias atrás o Brasil ficou chocado com a tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, quando, durante um show de uma banda, um sinalizador arremessado no interior da boate, deu causa a quase 240 mortes. A segunda maior tragédia coletiva do mesmo gênero no país. Tomara que tenhamos de fato aprendido com a porta depois de arrombada e que os culpados sejam exemplarmente punidos.
Espera-se, por outro lado, que pelo menos agora o fatídico episódio de Oruro, no Estádio Jesús Bermúdez, na Bolívia, chame a atenção de autoridades da FIFA e da CONMEBOL e das demais confederações internacionais de futebol, no sentido da adoção de rígidas medidas de segurança fora e dentro dos estádios. Pelo menos isso. É preciso dar um freio na violência de torcidas de futebol, muitas organizadas tão somente para delinquir, não para curtir a sadia paixão.pelo clube do coração. Fica agora a torcida para que o Corinthians não receba a máxima punição. A torcida brasileira ficaria tolhida de ver na Libertadores uma excelente equipe de futebol e fortíssima candidata ao título.
Milton Corrêa da Costa é tenente coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro