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Língua portuguesa?

Por Antonio Noberto

Antônio Noberto
Antônio Noberto

Um amigo europeu que sempre passa férias no Brasil, não faz muitos meses, trouxe-nos uma questão que não é nova. Queria saber o porquê do nosso idioma ainda se chamar português. Ele resumiu que, para os europeus mais inteirados da cultura brasileira, em razão da maiúscula participação de termos indígenas, africanos e estrangeiros na língua brasileira, é incompreensível o país ainda manter algo que não interessa à cultura, a política e, muito menos, à economia nacional. Finalizou dizendo que nossa língua é O BRASILEIRO, e não o português. “É uma questão de justiça e independência”, arrematou.

As palavras do nosso amigo, entre outras coisas, nos fizeram refletir também sobre a recente adequação ou revisão ortográfica da língua portuguesa. Em Portugal a resistência à alteração na gramática é assaz acentuada. Tem gente chiando barbaridade, como uma portuguesa que, em um site, sobre a reforma, postou o seguinte: “Mais uma vez Portugal rebaixa-se, porque razão é que temos que ser nós a mudar e não os brasileiros, eles é que não tiveram inteligência suficiente para aprender a língua correctamente, e agora por causa disso somos nós que temos que aprender nossa língua novamente? Como é que vamos pôr nas cabecinhas das nossas crianças que a maneira como aprenderam a escrever agora já não é a correcta. Quanto a mim vou continuar a escrever como sempre escrevi, sou portuguesa não sou brasileira”. Ela chega a nos chamar de “burros brasileiros”. Mas, como toda moeda tem dois lados, perguntamos: será que ela não tem lá suas razões? O seu sagrado direito de, no mínimo, espernear? Portugal errou quando fez sua primeira grande reforma a um século e – como era de se esperar – não consultou o Brasil, aumentando, com isto, a distância lingüística entre o dois países. O certo é que o Brasil tem quase duzentos milhões de habitantes e Portugal apenas dez. Ou este se adéqua a mudança ou “não sabemos” o que lhe poderá acontecer. A adequação é questão de sobrevivência para o país do Velho Mundo, que, mesmo com a irrelevante e frágil economia, nunca perdeu o hábito de querer ser colonizador.

Mas não percamos o foco… Até meados do século XVIII vigorava no Brasil o escambo, vez que, pela escassez de cédulas e de moedas de metal, a moeda corrente era o pano ou rolo de algodão. O famoso escritor Laurentino Gomes, repetindo as palavras de um viajante francês, disse: “Antes da chegada da Corte ao Rio de Janeiro, o Brasil era um amontoado de regiões com pouco contato, isoladas umas das outras, sem comércio ou qualquer outra forma de relacionamento”. E a língua mais falada até aquela época era o tupi-guarani. Isso mesmo, a língua indígena foi a língua mais falada no Brasil até a metade daquele século. Nessa época a população branca era consideravelmente pequena. Em 1600, por exemplo, era de apenas 30.000 e em 1766 a população livre girava em torno de 800.000 (Cronologia de história do Brasil Colonial – 1500 – 1831 / Andrea Slemian… et al. São Paulo; FFLCH-USP. 1994). Em 1756 o Marquês de Pombal proibiu a utilização de qualquer outra língua, inclusive a língua geral, de base tupi.

Os africanos foram escravizados e os indígenas dizimados, o mesmo, felizmente, não conseguiram fazer totalmente com a língua destes povos que, incorporada ao idioma oficial do país, atravessou séculos e permanece viva através dos milhares de termos que usamos no dia a dia.

O legado da cultura negra é bastante presente no Brasil, percebemos isto na religião, na comida, música, no modo de ver a vida, nos mitos e lendas, e também na própria língua. Para cá vieram negros de quase toda a África, sendo o destaque por conta de dois grandes grupos: o guineano-sudanês e o banto – que habitava o litoral africano. Provenientes em sua maioria do Benin, Angola, Nigéria e Congo, falavam diversas línguas e dialetos como o quimbundo, quicongo e o umbundo, dos quais herdamos inúmeros termos, sendo: vatapá, quitute, farofa, acarajé, canjica, mandinga, oxalá, iemanjá, ogum, senzala, Bangu, quilombo, miçanga, tanga, samba, berimbau, maxixe, maribondo, camundongo, mangangá, mutamba, dendê, quiabo, moleque, bagunça, cachimbo, coringa, dengo, quitanda, fubá, bunda, calombo, banguela, e incontáveis outros. Algumas se misturaram com o português: pé-de-moleque, angu-de-caroço, mini-tanga, molecagem, etc. Um maiúsculo legado para nossa língua que não cabe em um simples texto, mas em um volumoso dicionário.

Do tupi-guarani são milhares as palavras herdadas dos primeiros habitantes do Brasil. “Do Oiapoque ao Chuí!” a língua inicial tira de letra. São nomes de lugares – a maioria dos nomes dos estados brasileiros são de origem indígena –, acidentes geográficos, nomes de pessoas, etc. A culinária brasileira típica é profundamente indígena. Mas a gente pode começar por uma palavra que pipocou na rede mundial, ao menos aos usuários do Facebook: cutucar – tocar alguém com algo em forma de ponta. Não menos lembradas: cuia, embiocar, espocar, canoa, igapó, abacaxi, capenga, aipim, jacá, araçá, Aracaju, taquara, beiju, bocó, boitatá, buriti, bruaca, iara, Ipanema, Itaipava, Itamaracá, Itapemirim, tororó, jiqui, jirimum, jururu, piracema, pirão, pitada, pixaim, Piauí, Ceará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Pará, Goiás, Acre, perereca, peteca, pipoca, pindorama, mandioca, maniçoba, maruim, mingau, mirim, moqueca, mussum, mutirão, mutuca, paçoca, socar, pamonha… E tantas e tantas outras.

Os termos indígenas e africanos não raro sofreram um doloroso processo de depreciação, como parte de uma política de dominação do vencedor luso. Vemos isto, por exemplo, em mulher (cunhã), menino (curumim), interiorano (caipira), garoto (guri), morada (tapera), piolho / sovina (muquirana), vadia (piranha), pobre (pindaíba), bruxaria / ritual (pajelança), lerdo / tonto (pamonha), pereba, etc.

A influência estrangeira na nossa língua e cultura também é muito presente. Temos então, a título de exemplo. Do francês: abajur, ateliê, baguete, baton, bege, bistrô, bijuteria, boate, carrossel, capô, cassetete, etc. Catalã: beldade, baixela, capacete, convite, disfarçar, esmalte, faixa, nau, moscatel, etc. Do inglês: bife, blecaute, blefe, club, coquetel, craque, dólar, drinque, futebol, gol, etc., quase todos os termos utilizados na informática. E tantas outras participações alógenas.

A mudança da nomenclatura da língua – de português para O BRASILEIRO – será um enorme ganho, principalmente através da atividade turística, uma ótima oportunidade de divulgação da cultura nacional genuína, uma forma de emergir a cultura local gerando riquezas e empregos aos nacionais, pois o estrangeiro ainda tem muita curiosidade com relação à cultura brasileira. Outro ganho imensurável é que as incursões governamentais que tentam diminuir a desigualdade entre ricos e pobres ganhariam reforço, vez que o resgate de tão valoroso legado afro-indígena traria para a pauta as duas culturas secularmente marginalizadas pelo privilégio branco.

Para um país que vem galgando enormes passos e vencendo degraus na economia é importante atentar também ao campo cultural sob pena deste não acompanhar a contento o avanço do nosso mercado e não fincarmos marcos mais profundos, quando todos sabem que o poder não prescinde de uma forte produção cultural (existe exemplo mais flagrante do que a produção Hollyhoodiana?). Os galhos do poder constituído são uma tentação, é verdade, mas não devemos ter receio das idéias alternativas, pois, neste caso, a justa adoção dO BRASILEIRO, ainda que não nos leve ao Jardim do Éden, aumentará a estima dos brasileiros e poderá ser um vetor a mais na atração de fluxos estrangeiros a este paraíso para conhecerem esta terra ainda tida por muitos como sem males. Sonho do imaginário estrangeiro que perdura, sem, no entanto, ser devidamente explorado através da nossa atividade turística.

Viva o idioma BRASILEIRO!

*Turismólogo, escritor e Sócio-efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão.

18 thoughts on “Língua portuguesa?

  1. Senhor, então você também acha que países como a argentina, perú, colômbia, méxico, etc… a língua também deixe de se chamar Espanhol a ser chamada, respectivamente, argentino, peruano, combiano e mexicano? Vamos ser coerentes por favor. Igual que o Inglês é falado em Inglaterra e nos EUA e muitos outros países, a língua é a mesma e originaria de inglaterra, e portanto é o inglês e não o americano. As línguas são as mesmas, tenham sotaques ou não, pois isso passa mesmo dentro de pequenos países. Por favor vamos mostrar um pouco de inteligencia.

    1. Me desculpe linda, mas não está se falando em sotaques, mesmo por que dentro do Brasil, de norte à sul os sotaques são diferentes.O que estão falando é

    2. Me desculpe linda, mas não está se falando em sotaques, mesmo por que dentro do Brasil, de norte à sul os sotaques são diferentes.O que estão falando é de expressões diferentes. Se não sabes a língua portuguesa no Brasil tupinambarizou e com a chegada dos escravos africanou-se também.Se a língua é a mesma,a maneira de se expressar não é.Os doces portugueses não sabem o que é tapera= casa velha; não sabem o que é gury,moleque= menino; não sabem o que é muquirana, pamonha e por ai vai. Percebes ou entendes?

  2. Este foi o texto mais burro que eu já vi sobre esse negócio do Acordo. Brasileiro com vergonha de falar português? Tenho vergonha disso mesmo, de haver gente daqui que é assim. Tenho muitos amigos portugueses que são contra o Acordo, mas não argumentam como essa moça desse site. Neto, vai apanhar bolas.

  3. SE a cultura não é acessível a todos…Por que razão se batem tanto para uniformizar algo que nunca será generalizado, ou seja: Um bom nível linguístico!

  4. Alguns brasileiros nunca perderam o complexo de serem um país feito por portugueses…..
    Sou das cidadãs que estou inteiramente contra o Acordo Ortográfico.
    Se me é permitido uma opinião deixem os complexos e lutem para que aquilo que dizem ser progresso na economia seja traduzido naquilo que faz um país ser forte: cultura! Acabem com o analfabetismo,com as favelas,com a profissão de matador profissional,e deixem de dizimar os Indios da Amazônia,ficando a bater na tecla que foram os portugueses…MAS OS PORTUGUESES NÃO FIZERAM O VOCÊS LHES ESTÃO A FAZER AGORA QUE É AFINAL PARECIDO COM O QUE OS ESPANHÓIS FIZERAM AOS INCAS NO PERÚ…..
    …e assumam de uma vez que sois um produto português: no idioma,nos genes também…..NADA A FAZER!!!

  5. Entre várias asneiras, essa do Português ter ainda a mania de colonizador faz-me rir, sinceramente.
    Na minha humilde opinião, é precisamente o contrário. Eu explico. Portugal permanece, isso sim, com o complexo de colonizador. De todos os países que nos secundaram nos descobrimentos – sim, fomos os primeiros a fazer-nos ao mar e iniciar o que hoje se chama de globalização – nenhum tem tanto empenho em "fazer esquecer" a colonização como os Portugueses.
    Os ingleses, franceses e holandeses orgulham-se de o terem sido, ainda hoje se orgulham do que foram impérios e não o negam. Apenas nós, eternos lamurientos e complexados, nos vergamos à vergonha de termos sido pioneiros na colonização de novos mundos.
    Houve erros? Houve abusos? Sim, mas qual dos países colonizadores não os cometeram?
    Entretanto e no meio de tanta algazarra soberba, os brasileiros revelam o complexo de colonizados.
    Cresçamos, ambos, como povos independentes, irmãos ou amigos, tanto faz, e que cada um siga com a sua cultura. Se até mesmo o rio se junta ao mar não deixando de ser doce, este, e salgado, aquele, por que havemos nós de querer misturar

  6. É uma pena que não oficializem já a designação de «brasileiro». Creio que não o fazem porque perderiam algo para que não contribuíram: é que a Língua Portuguesa é um idioma internacional falada em 6 países e um território espalhados por 3 continentes e o brasileiro seria um idioma com 75% de analfabetos falado apenas num país.
    Creio, no entanto, que devem começar a usar o termo brasileiro para designar o que falam e escrevem aí.
    Dar-me-ia, pessoalmente, uma enorme alegria.
    Nota – A ortografia do Português é a mesma, sem qualquer modificação, em todos esses 6 países e território referido, por isso, entendê-lo como apenas de Portugal é um lapso.

  7. "Tem gente chiando barbaridade, como uma portuguesa que, em um site, sobre a reforma, postou o seguinte…"

    Caro Neto Ferreira, sou português e sinto-me profundamente envergonhado com comentários deste tipo, escritos por compatriotas meus!
    Sinceramente não creio que seja essa a opinião publica generalizada em Portugal, embora tenha lido muitas barbaridades do genero escritas por pessoas obviamente "curtas de vista".

    Pessoalmente acho maravilhoso que o português tenha evoluído de forma diferente nos vários países que o usam como língua oficial.
    Gosto imenso de muitas expressões brasileiras e de outras de outros países de língua oficial portuguesa. Sou a favor da língua portuguesa e das suas variantes que a fazem mais rica.

    Em relação ao acordo ortográfico a coisa muda de figura. A questão aqui passa por, entre outras coisas, fazer desaparecer consoantes mudas como os "c"s e os "p"s que para nós são muito importantes visto que indicam a abertura da vocal precedente e que em muitos casos a sua omissão altera completamente o significado:
    Em vez de "recepção" querem que escrevamos "receção". Isto para nós é grave e absurdo visto que foneticamente a nova forma proposta se confunde com "recessão" que tem um significado completamente diferente.
    Exemplos deste tipo há vários e é por isso que sou contra a proposta do novo acordo ortográfico já que não tem o interesse de enriquecer a língua senão de a empobrecer.
    Um abraço!

    Hugo

  8. Sou caboverdiano e bilingue – falo português e crioulo caboverdiano e tenho muito orgulho nas minhas raízes euro-africanas (por essa ordem, em homenagem a meu pai português e minha mãe caboverdiana). Tenho dupla nacionalidade e revejo-me na pátria a que pertenço – a língua portuguesa, parafraseando Fernando Pessoa. Língua essa que Eça, Machado de Assis, Craveirinha, Pepetela e Osvaldo Alcântara, apenas para citar alguns nomes, tanto amaram e tanto defenderam, apesar das suas especificidades regionais. Toda a cultura nacional é produto de um cruzamento de outras culturas, a maior parte das vezes, infelizmente, conseguida pelo domínio de uma sociedade por outra, como é o caso das sociedades crioulas. Mas a grandeza de uma cultura está no facto de ela saber integrar no seu tecido cultural todos (repito, todos) os elementos que contribuíram para a sua existência, formação e desenvolvimento. É assim para a velha Europa em relação à sua herança greco-latina, é assim para a moderna potência norte-americana em relação à sua herança da velha Albion. E se é verdade que há elementos em qualquer sociedade anteriormente colonizadora que nunca perderam o seu complexo de colonizador, também é verdade que há muitos nas sociedades anteriormente colonizadas que nunca perderam o seu complexo de colonizado. E é o caso do autor do texto que comento. Não posso deixar de lamentar que quem o escreve se deixe arrastar por esse vício constrangedor que o impede de visionar o futuro. Porque revela tacanhez de espírito. Que os norte-americanos, por exemplo, não albergam pois continuam a ter orgulho em dizer que “their language is English and not American”. E é pena, porque o Brasil, como grande nação que é, merece não ser representado por quem não merece (passe a redundância) o mínimo respeito intelectual. Essa atitude apenas revela pequenez. Com a agravante de apresentar as suas ideias num texto miseravelmente escrito, tantos são os erros nele contidos. Sugiro que, antes de vir à praça pública debitar o seu ódio bilioso contra o passado da sua pátria, comece por aprender a escrever correctamente (ou corretamente, conforme se escreve em terras de Vera Cruz). Talvez assim aprenda a respeitar o idioma pátrio e a não ser como um cachorro que morde a mão de quem o alimenta, com essa atitude de complexado colonizado.

  9. O seu artigo é interessante, bem escrito e eu felicito-o por essas razões.

    Considero efectivamente que o Brasileiro deveria ser considerado como uma língua e é, alás, essa é a percepção, digamos geral, daqueles que têm um conhecimento mínino de que língua se fala no Brasil, como é aqui o caso em França onde vivo (acredite ou não, muitos franceses não sabem nem se interessam por isso, a cultura francesa tem vindo a esvanecer-se muito rapidamente nos ares europeus).

    Sou portuguesa, amante de Literatura, tenho um Master em Línguas e Literaturas Modernas. Amante também daquilo que considero como A minha língua : o PORTUGUES!

    Não estou de acordo com o acordo. Para um português ele polui decididamente a nossa percepção da língua que falamos. Em encontros com a minha família em Portugal e conversas com crianças e adolescentes vejo que há uma real e profunda preocupação em relação às modificações erigidas no acordo. A reacção epidérmica dos portugueses que estão, aparentemente, em maioria contra o acordo é, no entanto, compreensível. Leitura difícil ou quase impossível dos jornais que adoptaram o Acordo, confusão em relação ao sentido das frases quando se vê um filme na televisão legendado, incoerências, dúvidas.

    Sejamos sinceros, este acordo não é bom. Está mal feito, um acordo deste tipo teria de ser benéfico para todos aqueles que falam portugês e não só para um pequeno grupo que vê nele uma oportunidade de abertura ao mundo, lobbying político de mau gosto e de baixela, supostos interesses económicos numa crise MUNDIAL que voas afecta tanto quanto nós. It's all bullshit!

    Abrir-se ao mundo e para quê? "Para um país que vem galgando enormes passos e vencendo degraus na economia é importante atentar também ao campo cultural sob pena deste não acompanhar a contento o avanço do nosso mercado e não fincarmos marcos mais profundos, quando todos sabem que o poder não prescinde de uma forte produção cultural". É aqui que não concordo consigo de todo. Fala-se muito dos chamados países emergentes sendo o Brasil um deles. Se a pobreza estivesse mesmo a desaparecer do(s) nosso(s) país(es) que alegre eu ficaria! Mas o vosso desenvolvimento, infelizmente, está condenado tanto quanto o nosso justamente porque ele se baseia nos mesmos erros que nós cometemos. Junto-lhe aqui um link para um importante documento que já conheça talvez mas que explica muito bem que, no fundo, estamos todos metidos numa alta merda que nos vai sufocar brevemente. Brasil incluído. O desenvolvimento durável é uma utopia mesmo nos países, como o seu que apresentam actualmente uma dinâmica muito interessante. Por ter vivido em Portugal, França, Inglaterra e de novo em França posso dizer-lhe isto. Mas compreendo que do seu ponto de vista de"novo mundo" ainda acredite em milagres. Repense essa questão, dê uma oportunidade à dúvida.

    Eu não quero a minha língua deformada. Não aceito este acordo, nunca escreverei segundo as sua regras e os quatro mil livros que possuo servirão de base para as minhas releituras caso as editoras portuguesas se ponham a editar os meus autores preferidos com um português do "acordo". Escolha minha e, ao que parece, da maioria dos portugueses.

    Nunca pensou nas similitudes do nosso caso e do caso do inglês do Reino Unido e do falado na América? Trata-se de situações quanto a mim totalmente paralelas. Com o pragmatismo anglo-saxão que tão bem lhes acenta eles aceitam as diferenças ortográficas, o sotaque, as influências de um e outro povo. Nunca se ouviu falar que essas diferenças os afectassem, quando um americano e um inglês se encontram compreendêm-se, sorriem ambos das coisas próprias às expressões de ambos como podem muito bem fazer (e é, de facto, o que eles fazem) os portugeses e os brasileiros.

    You say "either" and I say "either"
    You say "neither" I say "neither"
    "Either" "either", "neither" "neither"
    Let's call the whole thing off
    You say "potato," I say "patattah"
    You say "tomato", I say "creole tomata"
    Oh, let's call the whole thing off
    Oh, if we call the whole thing off
    Then we must part and oh
    If we ever part, that would break my heart
    So, I say "ursta" you say "oyster"
    I'm not gonna stop eatin' urstas just cause you say oyster,
    Oh, let's call the whole thing off
    Oh, I say "pajamas", you say "pajamas"
    Sugar, what's the problem?
    Oh, for we know we need each other so
    We'd better call the calling off off
    So let's call it off, oh let's call it off
    Oh, let's call it off, baby let's call it off
    Sugar why don't we call it off,
    I'm talking baby why call it off
    Call it off¡­
    Let's call the whole thing off

    Não acha que eles têm razão?

    Na minha fala o c de facto é exprimido. Na sua não é. Falamos a mesma língua. As fricativas acentuadíssimas dos portugueses do Norte do país também dão azo a grandes paródias e risos da parte dos lisboetas de que faço parte. Há muitos anos, ouvindo uma conversa entre uma idosa senhora do Nordeste portugês e uma outra pessoa sorri um daqueles sorrisos cheios de uma alegria sem fim. Disse esta velha senhora ao (re)ver uma outra pessoa "Ai filha! Que soIdades!" Ora soidades é uma forma medieval de saudade! Achei absolutamente irresistível aquela permanência, aquele estoicismo da língua que se agarra ainda e sempre a um passado tão antigo.

    Não penso por um momento que sou contra (e para que me serviria isso já que o facto é inevitável) que no aprecio a evolução das linguas (nao consigo mais pôr certos acentos, peço desculpa). Mas existem bases linguisticas que sao intrisecas e eis tudo.

    Fale o seu brasileiro que é um português cantante e alegre, com expressoes maliciosas que muito agradam aos portugueses. Ha na vosso sotaque qualquer coisa de ligeiro que nos nao possuimos. E giro, como diriamos nos. Mas essa é a vossa maneira de falar e nos temos uma outra, diferente e isso é que é bonito.

    <a href="http://www.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2 Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3D4Z9WVZddH9w%26feature%3Dplayer_embedded&h=OAQGC9mSl” target=”_blank”>http://www.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2 <a h…” target=”_blank”>Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3D4Z9WVZddH9w%26feature%3Dplayer_embedded&h=OAQGC9mSl

    Dê uma volta por este filme no youtube e repense sobre as voltas do mundo financeiro, na posiçao actual do Brasil e como é facil que ela mude radicalmente de um dia para o outro. Talvez lhe pareça demasiado libertario da minha parte e é verdade que o meu coraçao sempre se inclinou mais para esse lado mas… vale a pena.

    Tenho pena que seja turismólogo (que termo bárbaro!). O turismo só traz degradação à Natureza. Vocês têm um país tão bonito, a floresta amazónica está por um fio, não dêem cabo do resto por razões puramente económicas que levam, finalmente, a uma pauperização do país. Desculpe, é a mnha opinião. Isto de se deslocar japoneses, franceses, suecos ou australianos aos magotes de um lado para o outro, mesmo para mim que viagei muito, parece agora ridículo. O turismo de massa mata.

    Que seja também escritor agrada-me. Nadamos nas mesmas águas. E??????? Oh surpresa, usamos a mesma língua para nos exprimirmos. Então não é que eu percebi todas as palavras do seu texto sem recorrer ao dicionário???????? Milagre? Não, o brasileiro is well alive and kicking for god's sake! Mas o brasileiro enquanto língua baseia-se no português do Portugal colonizador. Não é culpa sua nem minha, ocorreu há muitos anos (séculos), é a História. Para falar a vossa língua nativa teriam de ir buscá-la aos falares dos nativos do Brasil primitivo, facto de que fala no seu post.

    Quanto à influência do francês, por exemplo, no brasileiro devo_lhe dizer que ela é exactamente a mesma que nos português de Portugal. Isso não é so coincidência linguística. É uma questão de identidade. Mesmo se não gosta da ideia o Brasil contruiu-se, a partir de um momento dado com uma forte colonização portuguesa, for worse or better. E aí ninguém pode mais tocar, não se muda o rumo do passado.

    Para terminar, gostaria de lhe dizer que sou neta de uma alemã que se recusava a falar na sua língua e só se exprimia em francês ou português, casei-me com um francês, descasei, voltei a casar com um inglês (e agoras descansei). Estas baralhadas das línguas não me são estranhas. Vivo em permanência com três línguas de base na minha cabeça e junto-lhes o alemão em contraponto, o italiano e o castelhano. Como deve saber, o portugês é uma língua que comporta muitos sons e um antigo professor meu de Linguística dos meus tempos universitários explicava que era esse um dos factores que fazia que os portugueses aprendiam línguas estrangeiras com facilidade, o que é uma realidade também para os brasileiros embora em vocês o sotaque predomine mais (não se apoquente, a escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís escreveu que "um povo que fala outras línguas sem sotaque não tem raça"). Estocada aos portugueses capazes de falar um inglês ou francês na maioria das vezes impecáveis. O que eu quero dizer é que essa facilidade também existe no brasileiro prova de que ele bebeu na fonte do português, de uma maneira ou de outra. Na verdade, não havia outra alternativa.

    As idiossincrasia são ou podem ser coisas sublimes, deixemos que elas se exprimam.

    Aqui há uns anos falou-se aqui em França de uma eventual reforma ortográfica e só aqueles que se escrevem em francês sabem como pode ser complicado seguir as circunvoluções nem sempre lógicas (tien, il est donc passé où, Descartes?) da ortografia francesa e que causa tanto dano às pobres criancinhas em idade escolar. Num debate televisivo, disse um senhor "qu'adviendrit-il du lys s'il perdait son y grecque? Lis. Pauvre France, elle aurait perdu le symbole de sa royauté, som symbole tout court, celui que l'on voit dans les tapisseries et autres rideaux dans les plus beaux bâtiments de notre pays". Esta tentativa de salvar o y enterneceu-me, que quer? São detalhes, como a outra a rainha do letrado rei D. Dinis "são rosas senhor".

    As nossas línguas são rosas.

    AC

  10. Incrível como os brasileiros e os portugueses comentam e dialogam entre si – em português – ao mesmo tempo em que afirmam que falam línguas distintas. Aliás, gostaria de agradecer ao autor do texto, pois é alguém que sabe muito bem usar a sua língua, a PORTUGUESA – não acredito que alguém discorde. Quem ousar afirmar que o Brasil não fala português, não poderá afirmar que ele fala OUTRA língua. Antes, haverá de reconhecer muitas OUTRAS LÍNGUAS. Se compararmos o português padrão falado no Brasil (aquele que aprendemos na escola, lemos nos livros ou mesmo nos jornais ….) com o padrão falado e escrito em Portugal as diferenças não serão tão grandes. No entanto, se pegarmos um cidadão baiano e um gaúcho e os pusermos a conversar… Minha nossa! Criaremos também o baianês e o gauchês. Se compararmos um catarinense e um cidadão de Rondônia ou ainda um carioca e um amazonense? Putz! Sem palavras!
    Claro que haverá quem grite: dizemos: “Eu te amo” e os portugueses dizem “Eu amo-te”. Bradarão inflamados de orgulho: – Eis a prova! No entanto, terão de decidir o que fazer com aquelas regiões brasileiras que dizem: “[Eu] amo tu, [eu] lhe amo, [eu]amo ocê…” Serão também novas línguas nascidas da ‘nova língua’?! Novíssimas, talvez?
    É um grande oportunismo nos valermos do fato de que os cidadãos brasileiros não têm contato com o sotaque português e passam a considerá-lo “difícil” e, assim, ‘autoproclamarmos’ que falamos outra língua. Moramos num país em que o acesso dos menos favorecidos à cultura e educação de qualidade é uma utopia. Não conseguimos gerir a educação pública de forma satisfatória e assim achamos melhor nos entretermos com ideias mirabolantes. Enquanto fazemos cócegas aos ouvidos da sociedade, deixamos de lado o fato de que milhares de alunos do ensino público chegam ao Ensino Médio incapazes de grafar o seu idioma pátrio. E não seria diferente se a língua se chamasse “brasiliano, brasileirês” ou “brasinglish”! Aliás, por que brasILIANO? Seria a ideia de um descendente de italiano? Por que não que não portuNHOL ou portuLEMÃO? Ah, Brasil…
    Qualquer pessoa que queira realmente pesquisar sobre as variantes de Portugal (sim, são várias) e as brasileiras, poderá fazê-lo de forma aberta, sincera e honesta. O que tal pessoa poderá encontrar? Bem, ela descobrirá que nas regiões autônomas portuguesas o sotaque e as construções frasais ( “me ajude” em vez de “ajude-me”) são mais próximas do nosso falar do que do de Lisboa. Descobrirá, também, que na região do Alentejo é comum de se ouvir termos que nos fazem lembrar o sotaque do interior brasileiro como “atão”(então) e “adondi” (onde/a onde). E, ainda, verá que ao norte português as pessoas trocam o som do “v” pelo “b”. Enfim, poderá parecer muito difícil fazer tal pesquisa, não é?!… É melhor compararmos um cidadão de Lisboa e um de São Paulo e apontar “todas” as diferença e então gritar que ambos falam línguas diferentes. Ou ainda pior: fazer a famosa “lista infalível” de vocábulos variantes entre a variante brasileira e a portuguesa, mas, evidentemente, deixar de lado as centenas de variações que os vocábulos sofrem entre si aqui mesmo no Brasil. Espero que um dia o Brasil pare de brincar e realmente decida se empenhar na oferta de cultura para o seu povo.
    Acorda Brasil!
    Abraço a todos!

  11. Acho hilariante ver portugueses falando que os brasileiros deveriam cuidar do próprio país em vez de falar do idioma. Ninguém está aqui falando de Portugal, país irrelevante e pobre que não interessa a ninguém, exceto nas piadas e gozações. Ou quando falamos de idioma, quando eles revelam todos os seus recalques brutais contra o Brasil e vêm invadir os nossos sites e fóruns.

    Já eles, bem……tendo em vista as notícias recentes de crise, emigração, empobrecimento, miséria e fome pelos quais estão passando, acho que eles, sim, deveriam cuidar mais de seu país em vez de preocupar-se com o idioma que falamos ou deixamos de falar.

    A propósito, meu pais é o maior investidor estrangeiro em Portugal e somos os turistas que mais gastamos por lá. E o presidente português veio pedir ajuda econômica para quem mesmo? Para nós! Ou seja, os senhores COMEM NA NOSSA MÃO e depois reclamam.

    A realidade é que os portugueses estão desesperados. Se o Brasil manda-los catar coquinhos nessa questão de idioma, o portuguÊs desaparece. Torna-se idioma de meia duzia de nações famélicas da África e do país mais pobre e atrasado da Europa. Ou seja, um nada.

    Depois reclamam que são alvo de piadas e anedotas…..heheheheh

  12. Tenho visto muitas brigas em relação ao Acordo Ortográfico de 1990, e, para mim, nada mais causa estranheza em relação ao assunto, pois tenho minha opinião formada.

    Em primeiro lugar, deve-se lembrar que a língua utilizada em um país é dinâmica, ela é viva e se transforma com o tempo, podendo, inclusive vir a morrer um dia. O latim, por exemplo, já não é utilizado, hoje em dia, como língua oficial em país algum, apesar de ter dado origem a diversas outras línguas, sendo que a língua portuguesa se originou do latim vulgar, o qual era utilizado na Península Ibérica.

    Assim como a língua portuguesa teve como origem o latim vulgar, não vejo qualquer problema em termos a nossa própria língua, originada da língua portuguesa.

    Maria Mafalda Viana, professora, helenista e licenciada em Línguas e Literaturas Clássicas, em Portugal, alega que:

    « (…) Num tempo em que seria impensável voltarmos as costas à Europa, voltar-lhe as costas com esta grafia imposta em Portugal parece-me não só contraditório, como insensato.(…)»

    Como se nota, ela está se referindo ao Acordo Ortográfico, o qual foi recebido como uma bomba nuclear no setor cultural português, a ponto de considerarem essa reforma como insensata.

    Venho alegando, há muito tempo, que o Brasil precisa e deve se libertar de Portugal, em matéria de língua pátria, vez que já não temos muitas coisas em comum. Aliás, essa cisão, já foi aventada por inúmeros escritores brasileiros de renome, sugerindo, inclusive, a alteração do nome de língua portuguesa, para um nome mais brasileiro. Sinto-me simpatizado com o nome “braziliano”, com uma ortografia mais fonética, conforme venho propondo em uma obra de minha autoria, denominada de “Ortografia Rasional”.

    Disse ainda a ilustre senhora, Maria Mafalda Viana, que, “A língua de um país é o seu património imaterial mais rico”. Assim sendo, creio que, nós brasileiros, temos que criar vergonha na cara e não ficarmos dependentes desse “património” imaterial de Portugal e criarmos o nosso próprio patrimônio imaterial.

    Em decorrência da grande dificuldade em se assimilar a ortografia da língua portuguesa, talvez em razão da grande quantidade de regras e exceções de que é dotada, ou por se basear na etimologia das palavras, fui levado a conjeturar sobre a razão pela qual não se procura facilitá-la, de tal forma que não se torne um martírio para aquelas pessoas que pretendem se manifestar através da redação de um simples texto.

    Por sua vez, tenho observado que a maioria dos gramáticos e filólogos da língua portuguesa é a favor de se criar uma ortografia fonética, mas, ao que parece, eles se sentem constrangidos em apresentar suas idéias (ou ideias) em relação ao tema, talvez pelo receio de que suas proposições sejam mal recebidas ou criticadas por algumas pessoas.

    A língua é uma questão social e é utilizada essencialmente para fazer a comunicação entre as pessoas. Ela é formada e promovida pelas elites intelectuais, que ditam a norma culta, através de um processo histórico, arbitrário e ideológico, sem qualquer compromisso com as classes menos favorecidas.

    Assim, cerca de treze anos atrás, ocorreu-me a ideia de elaborar várias proposições, que se encontram em minha obra de 320 páginas, com o título de “Ortografia Rasional”, através da qual espero, despretensiosamente, alcançar o fim almejado, qual seja, a modernização da língua portuguesa, “língua brasileira” ou “braziliano”, por meio de uma ortografia racional e coerente, destituída de ambiguidades, exceções e idiossincrasias, voltada a atender a biunivocidade entre grafemas e fonemas. Evidentemente, o alofone de cada grafema deverá ficar condicionado a fatores sociais, geográficos, estilísticos ou individuais. Por exemplo, a palavra “depois” é pronunciada em São Paulo como sendo “dipois”, mas isto não deverá ser motivo para que se tenha uma grafia em cada região do País.

    Cabe ressaltar, que não se trata de mera pretensão reformista, com intuito de tumultuar a língua portuguesa e tampouco se trata de uma questão populista/paternalista, mas, antes de tudo, visa atender aos anseios de uma grande massa de falantes da querida língua portuguesa, quer no Brasil, ou além-mar, sendo que a aplicação das proposições apresentadas deverá ser motivo de referendo popular, sem o que não prosperará, posto que as imposições governamentais que envolvem o idioma jamais tiveram êxito.

    O maior terror para aquelas pessoas, que, por um motivo ou outro, necessitam redigir um texto em português, está relacionado à correta grafia dos vocábulos. Realmente não se trata de uma tarefa fácil. Uns poucos iluminados sabem realmente como escrever corretamente as palavras, entretanto, uma grande maioria, incluindo-se nesse rol até mesmo escritores renomados, não sabe como escrever determinados vocábulos, em virtude das incontáveis regras e exceções de que é dotada a língua portuguesa.

    Note-se, que não se trata de mudar a forma de falar das pessoas, vez que a língua portuguesa é uma língua bonita, sonora por natureza e não deve sofrer alterações neste sentido, mas, o que se procura, é a melhor e mais simples forma de se exprimir, graficamente, aquilo que se fala, respeitando-se a diversidade de pronúncia de todas as regiões.

    O Brasil gasta uma considerável soma de recursos no afã de acabar com o analfabetismo, porém, o País está relacionado entre aqueles com maiores índices de analfabetismo no mundo, talvez em razão da dificuldade que as crianças, e até mesmo os adultos, sentem para redigirem ou compreenderem determinados textos.

    De acordo com levantamentos efetuados pelo GTT – Grupo de Trabalho Técnico da Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal, o país irá economizar cerca de 2 bilhões de reais por ano, com a implantação de uma ortografia racional e o tempo de alfabetização cairá de 400 horas, para 150 horas de aula.

    Os estrangeiros julgam a língua portuguesa como uma das mais difíceis do mundo, e, na medida em que tomarem conhecimento das proposições em questão, certamente irão mudar de ideia, o que poderá favorecer a balança comercial do País, em decorrência de uma melhor comunicação nas transações comerciais, turismo e outras atividades que necessitem um bom entendimento entre as partes.

    As alterações na ortografia da língua portuguesa não trarão prejuízos para qualquer setor da economia, e tampouco para o governo, pois todos sairão ganhando. Por exemplo, o setor editorial poderá alegar que existem vários exemplares à venda e que os mesmos não serão adquiridos em decorrência de tais alterações, entretanto, em razão dessas mesmas alterações, haverá um incremento no setor, em proporções gigantescas, haja vista que inúmeros livros deverão ser reeditados, para adequá-los à nova realidade ortográfica, além do número de leitores que tenderá a crescer com a alfabetização de inúmeros cidadãos, em virtude da adoção de uma ortografia racional e simples.

    Por sua vez, o governo irá reduzir consideravelmente seus gastos com o ensino de um modo geral, em virtude da facilidade de assimilação da grafia que se propõe. Enfim, todos irão lucrar com a implantação de uma ortografia prática, realista, racional, dinâmica, moderna, fácil, coerente e destituída de exceções.

    A dificuldade de assimilação das regras ortográficas da língua portuguesa, não se trata de questão hodierna. No passado já existiam sérias preocupações em relação ao assunto, conforme se pode verificar no seguinte texto de José Lourenço de Oliveira, em “A ORTOGRAFIA DE NOSSA LÍNGUA”, que se refere à sua tese para concurso à cadeira de Português do Ginásio Mineiro de Belo Horizonte, publicado na Imprensa Oficial de MG, em 1933, quando diz:

    “A grafia deixou de ser fonética, para se complicar num sistema lastreado de valores mortos, de sincretismos abusivos – com predominância do pior – de sons multiplicemente representados, de desvios introduzidos pela ignorância, armada de presunção, legando-nos, a nós, o sistema usual ou misto, que possuímos: disparatado, ilógico, absurdo, afilológico, aglotológico, irracional, dificílimo. Suplício chinês dos aprendizes e desespero eterno dos eruditos”.

    Em 1978 o Prof. Onésimo da Costa e Faria, mato-grossense radicado em Belo Horizonte, publicou um livro sob o título de “Ortofonografia da Língua Portugeza –Kontribuisão para uma reforma ortográfika”, cujo teor causou um certo impacto na ocasião. Pela leitura da referida obra pode-se observar que são muito oportunas as suas considerações sobre a ortografia da língua portuguesa e a sua intenção de simplificá-la, por razões diversas.

    Por pertinente, transcreve-se o prefácio da referida obra, de autoria do Prof. Rubens Costa Romanelli, falecido em 1978, o qual era titular da cadeira de Língua e de Lingüística Européia da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte:

    “Registra-se, na história da Língua Portuguesa no Brasil, uma ou outra tentativa isolada de reforma de nossa ortografia. Contudo, nenhuma delas logrou sequer sensibilizar as autoridades responsáveis, entre nós, pela legislação do Ensino, tais e tamanhas as falhas e incoerências de que eram portadoras. Delas nos chegam hoje apenas vagas notícias.
    Decorridos já tantos anos, surge-nos agora nova proposta, de autoria do Prof. Onésimo Faria, mato-grossense há muito radicado em Belo Horizonte. O princípio fundamental em que se inspirou o autor resume-se em poucas palavras – para cada som uma letra única, para cada letra um som único – embora não lhe tenha sido possível eliminar, por dificuldades tipográficas, os digramas /lh/ e /nh/, por sinal os únicos da ortografia oficial sobreviventes em seu sistema ortográfico. “Guiado por esse princípio, empenhou-se ele na sistematização de normas simples e práticas capazes de eliminar, em definitivo, as hesitações e incertezas tão freqüentes, ao escrever até mesmo entre pessoas de notória cultura”.

    Impende registrar, que o livro “ORTOGRAFIA RASIONAL”, em comento, foi classificado pela Biblioteca Nacional, na categoria didático/pedagógica. Há alguns anos tive a oportunidade de enviar um exemplar deste livro ao então Ministro da Educação, Fernando Haddad, o qual elogiou a obra, mas alegou que se sentia impossibilitado de tomar qualquer providência sobre o assunto, tendo sugerido que ela fosse enviada para a Academia Brasileira de Letras. Entretanto, não houve qualquer interesse por parte dos imortais da Academia em efetuar qualquer alteração na ortografia, por motivos óbvios.

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