Ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) estão sendo impedidas de prestar atendimentos porque macas, colchões e outros materiais ficam retidos nos hospitais. A denúncia foi feita por funcionários do serviço, que não se identificaram por temerem represálias. Sem leitos suficientes para receber as dezenas de pacientes que chegam diariamente, hospitais retêm os materiais para não ter de colocar os pacientes diretamente no chão. Enquanto aguardam a liberação dos materiais, as ambulâncias ficam paradas por um período de até quatro horas.
Na manhã de ontem, duas ambulâncias ficaram paradas sem poder atender outros pacientes por causa dessa situação. Uma delas transportou uma paciente de 63 anos, que estava com problemas clínicos para o Hospital Djalma Marques, o Socorrão I. Ao chegar à unidade de saúde, a maca e o colchão da ambulância tiveram de permanecer no local, pois não havia equipamentos no hospital para receber a paciente.
Essa mesma unidade móvel que teve os materiais retidos no Socorrão I chegou ao local por volta das 10h30 e saiu por volta das 11h. A ambulância teria de voltar até a sede do Samu, localizada na Avenida dos Portugueses, e aguardar que outros materiais fossem disponibilizados.
Segundo funcionários do Samu, que preferiram não se identificar, essa situação tem sido recorrente. Com o Natal e a grande quantidade de atendimentos realizados nesse período festivo, principalmente a feridos por armas brancas, a situação se agravou. Somente na semana passada, 60 colchões foram retidos.
Ainda de acordo com os funcionários, esse problema acontece principalmente no Socorrão I e Socorrão II. Além de colchões e macas, também ficam retidas as pranchas de fibra para socorrer vítimas de traumas e até respiradores são emprestados, na tentativa de não deixar os pacientes sem as condições mínimas de atendimento.
Irregularidade – Hoje, o Samu atende uma média de 120 ocorrências em um turno de 12 horas. Hoje, são 16 unidades de atendimento – 11 básicas, três carros de apoio e duas unidades de suporte avançado. Com as ambulâncias impossibilitadas de prestar atendimento por algumas horas, a dinâmica do serviço é comprometida.
De acordo com o presidente da Associação dos Servidores Municipais do Samu, Lindomar Pires da Silva, unidades móveis de São Luís já ficaram paradas por até quatro horas. Para evitar uma espera tão longa como essa, os carros de apoio recolhem os materiais que ficaram retidos nos hospitais conforme os pacientes desocupem as macas, colchões ou pranchas.
Nem sempre os materiais são liberados rapidamente e como as ambulâncias não podem sair sem seus materiais, novos chamados de urgência podem demorar a ser atendidos. Lindomar Pires da Silva lembra que neste ano foi baixada uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que prevê a liberação de macas das ambulâncias do Samu.
De acordo com a Resolução 2.110/2014, é de responsabilidade do médico receptor da unidade de saúde liberar a ambulância e a equipe, juntamente com seus equipamentos, que não poderão ficar retidos em nenhuma hipótese. “A última resolução foi baixada para que isso não acontecesse, mas continua acontecendo todos os dias. Isso decorre de uma falta do setor jurídico. A denúncia é comprovada, mas não é tomada uma medida eficiente para punir. Falta uma ação efetiva. O sistema deveria penalizar os responsáveis, mas há um cooperativismo muito grande”, disse o presidente da Associação dos Servidores Municipais do Samu.
Lindomar Pires da Silva informou que os servidores se articularão para protocolar denúncia no Ministério Público (MP). Uma denúncia já havia sido protocolada no MP há alguns anos. Como o problema continua acontecendo mesmo com a portaria do CFM, será denunciada novamente.
Segundo o promotor de Justiça da Saúde, Herbert Figueiredo, o diretor da unidade de saúde que reter macas, colchões e outros equipamentos pode ser responsabilizado e responder pela retenção de materiais de ambulâncias.
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A Secretaria Municipal de Saúde (Semus) informou, em nota, que não há retenção de macas e colchões do Samu, por parte dos Socorrões. Frisou ainda que a prática relatada pelos funcionários refere-se à rotatividade dos materiais citados, que são deixados nas unidades de urgência e emergência durante o atendimento dos pacientes remanejados, sendo resgatados posteriormente pelas equipes do Samu. A Semus ressalta ainda que o Samu faz permanentemente a busca ativa dos colchões para evitar prejuízos no serviço. Atualmente, o Samu mantém uma média de 13 ambulâncias. (Do Estado do Maranhão).