Por Milton Corrêa da Costa
Tal e qual a marcha realizada no ano passado na capital paulista, acabou em confusão a manifestação reivindicatória sobre a descriminalização e legalização da maconha, realizada no último sábado na Zonado Sul do Rio, onde participaram cerca de duas mil pessoas. Conforme noticiado,estava previsto para as 18 horas o término do ato reivindicatório. Manifestantes tentaram ultrapassar o horário previsto para o término. A força de choque interveio para que tal determinação fosse cumprida, dispersar a manifestação e manter a ordem. Alguns manifestantes não acataram a determinação policial e se insurgiram agressivamente atirando latas de cerveja contra a tropa de choque. Resultado: tumulto, uso de armamento não letal próprio para controle de distúrbios, feridos e registro em delegacia policial. Se houve ou não uso desproporcional da força policial para repelir a agressão e fazer cumprir a ordem de dispersão, a investigação policial irá dizer.
Vale lembrar, inclusive, que a decisão do Supremo TribunalFederal (STF), de 2011, liberando as marchas reivindicatórias para legalizaçãode drogas ditas ilícitas no país, menciona a necessidade de cumprimento a preceitos da ordem pública e dos bons costumes, durante tais manifestações, sendo proibida qualquer desordem durante o evento, nem tampouco uso ou apologia à drogas.
Legalizar drogas continua sendo, no entanto, um tema discutível. É contrassenso que se edite uma norma legal para descriminalização da maconha, como quer a “corrente progressista”, para favorecer uma minoria que diz fumar a cannabis, pagar seus impostos e viver uma vida social normal. É preciso entender, entretanto, que uma lei sobre drogas deve ter, sobretudo, a finalidade maior de proteger toda a sociedade, no caso os mais jovens, não um grupo de dependentes e usuários que argumentam tratar-se de uma droga apenas recreacional. Pode ser recreacional mas como o álcool (droga lícita) ´também abre a porta para o perigo. Disso não há dúvida. Algumas pesquisas também mostram que a cannabis não é tão inofensiva e recreacional assim. Fumar maconha pode levar a uma perda de volume cerebral em indivíduos em risco de desenvolver esquizofrenia, mostra pesquisa publicada tempos atrás pela revista científica British Journal of Psychiatry.
O estudo, coordenado pelo médico Killian A. Welch, da Universidadede Edimburgo, comparou as mudanças estruturais no tálamo e na amígdala-hipocampo ao longo do tempo em 57 pessoas com idade entre 16 e 25 anosque estavam bem, mas que tinham um forte histórico familiar de esquizofrenia. Cada uma das pessoas passou por uma avaliação completa, incluindo um exame de ressonância magnética. Dois anos mais tarde, cada um deles retornou para outra ressonância magnética e responderam a perguntas sobre o uso de drogas ilícitas, inclusive a maconha, bem como seu uso de álcool e tabaco no período entre osexames. Dos 57 participantes, 25 tinham usado maconha entre as duas avaliações.
Conclusão da pesquisa: “Os pesquisadores descobriram que os participantes que tinham usado maconha mostraram redução do seu volume talâmico que foi significativo no lado esquerdo do tálamo (F = 4,47, P = 0,04), ealtamente significativos à direita (F = 7,66; P = 0,008). No entanto não se observou nenhuma perda de volume do tálamo naqueles que não fizeram uso de maconha durante o período de 2 anos.”
Em entrevista ao site Medscape Medical News, afirmou o autor da pesquisa , dr. Kilian Welch:
“Já é aceito pelamaioria dos psiquiatras que fumar maconha aumenta o risco de psicose noindivíduo, e mais especificamente a esquizofrenia .Este é o primeiro estudo longitudinal a mostrar que o consumo de cannabis por indivíduos com risco aumentado de esquizofrenia resulta em desenvolvimento cerebral de maneira diferente daquela como se desenvolve se não usar a droga,” observou o Dr.Welch.
“Estas são pessoas que estão bem, não são psicóticos, emquem o uso da droga está associado à perda de volume em uma estrutura cerebralcrítica. A explicação mais provável para isso, claramente, é que a exposição aocannabis está causando essas anormalidades de desenvolvimento do cérebro“,enfatiza o pesquisador.
“O tálamo é uma estrutura cerebral muito importante, que age como um processador de informações e como estação de retransmissão para o cérebro”, ele explica. “Dado esse papel de interligação entre as diversas regiões do cérebro, qualquer coisa que afete sua estrutura e, supõe-se consequentemente, a sua função, seria de se esperar por consequências generalizadas e potencialmente devastadoras”, completa.
Ressalte-se que, sobre a legalização de drogas, mais uma celebridade, recentemente, além do presidente norte-americano Barack Obama, que se posicionou frontalmente contra tal proposição, sob o argumento de perigo iminente à segurança e a saúde públicas, o provável futuro presidente do México, Enrique Peña Nieto, favorito nas pesquisas de intenção de votos para as eleições de 1ºde julho, ao ser indagado, dias atrás, sobre o tema disse: “Não me parece a solução para o problema. Acredito que legalizar drogas possa ser a porta de acesso ao consumo de drogas mais pesadas trazendo mais danos à sociedade”.
Assim sendo, quando o assunto é drogas, continuo acreditando que o tripé prevenção, acolhimento e tratamento terapêutico do dependente e repressão qualificada ao tráfico, seja a melhor estratégia. Basta de ‘trapos humanos’ drogados e alucinados perambulando pelas ruas sem rumo. O exemplo da Holanda não serve para o Brasil, nem para a sadia juventude brasileira.
Milton Corrêa da Costa é coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro