Fora da vida política há dez anos, o ex-presidente José Sarney (MDB) virou cabo eleitoral da senadora Eliziane Gama (PSD-MA) na disputa para a presidência do Senado. Ele está com 94 anos.
O principal motivo do apoio à pré-candidata é uma mágoa com o senador Davi Alcolumbre (União-AP). Sarney vincula o fim de sua carreira política a movimentações do parlamentar, que é favorito para reunir mais votos e se tornar presidente do Senado, no lugar de Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A eleição será em fevereiro do ano que vem.
Interlocutores dizem que Sarney desistiu da vida pública depois de ser vaiado em uma cerimônia no Amapá. Era um evento de entrega de unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida, em 23 de junho de 2014. O ato contou com a presença da então presidente, Dilma Rousseff (PT).
Sarney foi vaiado cinco vezes. A primeira foi logo ao ser chamado para subir no palco. A situação se repetiu quando foi mostrado ao lado de Dilma e em todas as vezes em que seu nome foi citado nos discursos.
Naquele ano de 2014, o mandato de Sarney como senador terminava, e Alcolumbre queria a vaga. O ex-presidente entende que o rival reuniu um grupo para puxar as vaias e colar uma imagem negativa nele.
Antes deste episódio, pesquisas já apontavam que a reeleição seria difícil para Sarney. O desgaste acumulado em 60 anos na política se fazia notar pela alta rejeição. O ex-presidente não concorreria como favorito.
No dia seguinte às vaias, a aposentadoria foi anunciada. O discurso foi de ter mais tempo para cuidar da família e da saúde, mas a verdade não era bem essa.
Havia somente uma vaga para o Senado pelo Amapá em 2014. Sarney resolveu não concorrer para evitar uma derrota. Sem ele no páreo, Alcolumbre foi o vencedor e encaminhou a trajetória que levou o senador e seus aliados ao domínio do Amapá.
o Senado, Alcolumbre também prosperou e foi presidente da Casa entre 2019 e 2021. Atitudes tomadas durante sua gestão causaram mais descontentamentos a Sarney.
O ex-presidente viu indicados seus perderem cargos. O mesmo aconteceu com nomeações feitas por aliados, como o ex-senador Edison Lobão (MDB-MA).
Sarney era senador pelo Amapá, mas é natural de Pinheiro (MA). Eliziane Gama também é do Maranhão e busca reunir apoios para concorrer contra Alcolumbre. Ela já foi crítica ao ex-presidente, mas ambos se aproximaram.
A aliança se fortaleceu, com gestos públicos. Em 13 de julho, Eliziane participou de um evento de filiação de um aliado de Sarney ao MDB. Ambos tiraram fotos juntos e dividiram a mesa de autoridades presentes no ato.
A expectativa de Eliziane é que Sarney consiga influenciar os 11 senadores do MDB. O ex-presidente é quadro histórico do partido e por décadas foi um dos seus principais caciques. A sigla tem uma das principais bancadas entre os 81 integrantes no Senado. Contudo, integrantes do MDB avaliam que o poder de Sarney é simbólico e não deve se refletir em votos.
A senadora também tenta fechar o apoio da bancada feminina, que tem 15 integrantes. Ela sonha em ser a primeira mulher a comandar o Senado em 200 anos.
Apesar das movimentações, Alcolumbre é considerado favorito. Parlamentares creditam a ele influência na liberação de emendas, além de ele contar com o apoio de Pacheco.
Espaço para explorar inimizades contra Alcolumbre. A relação com o bolsonarismo não terminou nos melhores termos quando ele comandou o Senado. As votações de temas caros na segurança pública e na pauta de costumes, como o fim das “saidinhas” e a PEC das Drogas, são vistos como acenos dele para se aproximar da oposição.
Do UOL