Folha de São Paulo
“Quando entrou na sala, ele olhou e falou ‘que lindo’, com uma expressão de criança mesmo, verdadeira e emocional. Se uma criança gosta, é porque a gente tem algo puro, tem algo bom na mão. Foi o Michelzinho quem escolheu a marca.”
Elsinho Mouco, o publicitário por trás da nova identidade visual do governo do país sob comando de Michel Temer, fala extasiado sobre o momento em que o filho de sete anos do presidente interino se encantou pela imagem que seu pai vai usar para simbolizar e vender o atual momento político.
Das duas versões mostradas às vésperas do afastamento da presidente Dilma Rousseff a Temer e sua mulher, Marcela, na casa da família em São Paulo, Michelzinho gostou daquela em que a esfera celeste com uma faixa que diz “Ordem e Progresso” flutua sobre a palavra “Brasil” vista em perspectiva, logo abaixo do globo.
Esse recurso ao lema da bandeira nacional não é um acaso. Tem a ver com a explosão de verde e amarelo que tomou conta das ruas nos movimentos contra a administração petista, alvo de marchas históricas pelo país, como a que levou meio milhão de manifestantes à avenida Paulista em março, o maior ato político já registrado em São Paulo.
Mas mesmo que tenha encantado os Temer num momento fofo dos bastidores do marketing político, o gosto de Michelzinho não reflete as tendências do design atual.
Um tanto retrô, distante da onda de simplificação e releitura da austeridade o modernismo que domina o design nos últimos anos, a marca causou estranhamento entre designers ouvidos pela Folha pelo uso do degradê azulado e de seus contornos tridimensionais.
REFERÊNCIA POSITIVISTA
Estampado na bandeira do Brasil adotada em 1889, logo depois da proclamação da República, o lema “Ordem e Progresso” sintetiza uma frase do filósofo francês e fundador da sociologia Auguste Comte –”o amor por princípio, a ordem por base, e o progresso por fim”.
A ideia está na base da escola filosófica conhecida como positivismo, surgida na primeira metade do século 19. Ancorado no interesse por leis naturais, a ideia do movimento era interpretar o mundo não a partir das possíveis causas de seus fenômenos, mas buscando entender as leis que os regem, ou relações constantes entre fatos que podem ser observados.
A bandeira do país, uma adaptação do símbolo do Império, foi criada por Raimundo Teixeira Mendes.