Por Abdon Marinho
Vi que, mais uma vez, seguimentos sociais, foram às ruas e praças em protestos contra o alcaide da capital, desta vez por conta do aumento das passagens de ônibus. Se os manifestantes estão certos ou não é algo que tentaremos descortinar adiante, neste momento trataremos da série de equívocos que têm ocorridos na administração municipal elevando o descontentamento de grande parte da população.
Confesso que sou um torcedor da administração do prefeito desde o início e, embora, tudo conspire contra, continuo firme no desejo que ela cumpra o que propôs quando disputou a eleição em 2012. Claro que a cada dia que passa a esperança e a torcida vão cedendo espaço ao desânimo e a frustração.
A torcida pelo sucesso da administração é devido, primeiro, a necessidade, que entendo ter a cidade de uma gestão realizadora, que a ajude superar os anos de atraso e falta de visão e planejamento de muitas das gestões anteriores. O segundo motivo é por acreditar que já passa da hora destas novas gerações assumirem os destinos políticos da cidade, do estado e do país. O fracasso da gestão significará um retrocesso para tantas jovens lideranças que pretendem fazer um bom trabalho, tem sonhos e ideais. O insucesso da atual gestão, caso não consiga superar as dificuldades, fará com que o eleitor repense na hora de escolher o sucessor ou reeleger o atual prefeito, inclusive se não seria melhor voltar ao passado.
Entretanto, em que pese a torcida ou o interesse do prefeito em acertar – acredito que o alcaide tenha vontade de fazer uma boa administração, uma vez que não é compreensível querer abreviar sua carreira política após o mandato de prefeito, sendo ele tão jovem e podendo ainda contribuir com a cidade –, até aqui, o que temos assistido é a uma sucessão de equívocos.
Os equívocos começaram com a escolha de secretários que mal acabaram de ser nomeados foram sendo substituídos, comprovando, aos mais observadores, que não foram bem escolhidos.
O descrédito do governo municipal com sociedade é, também, um reflexo da falta de atitude do secretariado. O prefeito não tem condições de administrar, uma capital, nem qualquer cidade, ainda que fosse um super-homem, sem o apoio e a afetiva participação dos seus auxiliares. Temos visto muito pouco disso.
A impressão que fica é que a grande maioria dos secretários ainda não se achou, não tem voz altiva para enfrentar as pressões do trabalho e confrontar as forças externas ou não têm aptidão para os cargos que ocupam, principalmente quando levamos em conta as graves limitações financeiras que passam todos os municípios brasileiros.
Em quase todos os setores os avanços e as mudanças prometidas são mínimas, isso, quando há, no máximo, “tocam o barco”, sem apresentar nada de novo. Isso é muito pouco.
Um dos maiores ressentimentos da população é com a buraqueira que toma conta das ruas. A secretaria de obras não soluciona e não apresenta um projeto que minore esse problema. Quando tentam, o fazem de forma amadora. Por onde passo nas ida e vindas para o trabalho o que vejo são as equipes do governo taparem o mesmo buraco duas, três e até quatro vezes e os buracos teimam em ressurgirem nos mesmos lugares. Veja, gastam dinheiro do contribuinte para tapar o mesmo buraco mais de uma vez como se fosse a coisa mais normal do mundo. Não é. Um exemplo claro disso é o que vemos na Rua dos Albatrozes usada pelos motoristas que querem fugir do tráfego pesado da Avenida dos Holandeses pela Avenida Litorânea. Esta via ameaça a afundar devido aos buracos, abertos tem três ou quatro. Mais a frente, no acesso a parte nova da Litorânea, estamos praticamente usando metade da pista por conta de mais um buraco. Estamos falando da parte mais rica da cidade, o metro quadrado mais valorizado.
E temos exemplos mais graves. O governo municipal conseguiu aproximadamente R$ 17 milhões para fazer a drenagem do Bairro Vila Luizão, a vencedora do certame foi uma empresa que se mostrava incapaz de executar a obra. Ano passado atrapalhou a vida dos cidadãos quase o ano todo para passar uma tubulação de um lado a outro da avenida. Fez um serviço tão ruim que a obra não avançou para lugar nenhum, soube até que desistiu do serviço e a administração busca outra empresa para continuar a obra ou refazê-la, pois dificilmente se aproveitará algo do que foi feito. Sobre a essa obra, quando a primeira chuva, levou parte do serviço a prefeitura municipal informou que sabendo que a obra não estava a contento, rescindiu o contrato e não pagou nada do que a empresa fez.
Ora, se a administração já sabia que a empresa não teria condições de realizar a obra ou que o serviço estava inadequado, por que não a inabilitou logo depois do certame? Por que fez a população sofrer transtornos durante quase um ano? O pior de tudo é que a obra, tão necessária, não tem previsão de conclusão apesar do recurso está disponível.
Embora a falta de recursos seja uma realidade para todos os municípios brasileiros, a capital do Maranhão, tem sofrido por coisas que vão além, como o caso de obras que não são feitas com o recurso em caixa. Não faz muito tempo, conversava com um professor da UFMA e ele me dizia que o município deixara voltar para os cofres da União R$ 12 milhões de reais captados pela universidade para um programa de informatização ou assemelhado; o município não tem conseguido construir creches, escolas para os quais existem recursos disponíveis no MEC, quando diversos municípios, infinitamente menores que São Luís, já captaram e construíram diversas unidades. Falavam em doze para a capital das quais não tenho notícia de nenhuma. Para atender a necessidade São Luís, faz repasses para as escolinhas comunitárias que estão anos-luz de atender essas crianças.
Melhor sorte não tem tido a administração no campo da saúde. São Luís, apesar de possuir gestão plena no setor, nunca a assumiu, de fato, coexistindo no Estado do Maranhão três gestões, a municipal, a estadual e a federal, através do HUUFMA. E, ainda bem que existem os três sistemas, pois se estivéssemos dependendo unicamente do município o setor teria entrado em colapso faz tempo.
Na gestão anterior, depois de muitas idas e vindas, começaram a construção de um hospital de urgência e emergência. O terreno já estava limpo. Como se tratava de uma obra já iniciada e que também era objeto de promessas do candidato vitorioso nas eleições que até batizou o hospital com o nome do ex-governador Jackson Lago, pensei que iria sair do campo do planejamento e das maquetes de campanha para se tornar realidade. Ledo engano, já em contagem regressiva para o término do mandato, ninguém nunca mais falou no assunto, embora todos saibamos tratar-se de uma necessidade que tem custado diversas vidas.
Vimos acima uma pequena amostra do que acontece em três setores da administração municipal. Setores, cujo os corpos técnicos não temos razão para questionar, mas que, temos que reconhecer, estão longe de apresentar os resultados almejados.
Voltemos ao aumento do transporte público. Neste quesito, não se trata de discutir se o índice de reajuste está correto ou não, o erro aqui é a forma como foi feito. Trataram o assunto como se só dissesse respeito a SMTT, empresários e os trabalhadores do setor. Esqueceram o principal: o usuário, o cidadão que já não suporta mais pagar caro por um serviço ruim. Custava ter retardado o aumento um pouco para examinar as planilhas, discutir com a sociedade, órgãos de defesa do consumidor, associação de usuários? Não. Vou além, já que falam tanto em parceria, custava reunir-se publicamente com a secretaria estadual da pasta e tentarem uma solução conjunta para o problema que afeta toda a população da ilha e não apenas da capital? Não. Pois é, mas ninguém tomou essa iniciativa.
Pior foi a impressão que ficou de que o poder público, além dos empresários, combinou o aumento com alguns jornalistas, como se eles fossem os donos da opinião pública. Um deles disse de manhã que a SMTT iria aumentar. A tarde, após o anúncio do aumento, disse que seguiram a orientação do seu blogue e concederam o aumento e que o mesmo estava de bom tamanho. Não acreditei. Fica-se com a suspeita justa ou injusta que o órgão público “acertou” com parte da mídia o aumento e que eles se encarregariam de defender e convencer a população de que o mesmo estava certo.
O resultado de mais esse equivoco é o que temos visto nas ruas, insatisfação, protestos, violência, repressão policial que rememora os movimentos pela meia-passagem ocorridos em 1979, de triste lembrança. Um desgaste para o governo e, principalmente, para o prefeito, que faltando vinte meses para o término do mandato, precisará operar milagres para tirar do papel as promessas de campanha e reconquistar a simpatia do público.
Abdon Marinho é advogado.