Por Abdon Marinho
O bordão acima é repetido como um mantra e serve para quase todas as situações. Nestes dia de revolução, então, o escutamos e o visualizamos em todos os lugares. Esse não me representa, aquele não me representa, aquilo não me representa, etc., etc.
Pois bem, bastou dizerem que os partidos políticos não os representam e mais de noventa por cento se declarem sem filiação ou apartidários ou simplesmente que não se sentem representados por nenhum deles, que o mundo quase veio abaixo.
Inicialmente vieram com aquela história de fazer chacotas “apartidários de partido tal”, “apartidários de partido sicrano”. Em seguida partiram para a desqualificação, são fascistas, são golpistas, querem entregar o país aos militares, e por ai vai.
A nenhum dos inspirados ocorreu a ideia de se perguntar o que está ocorrendo. Por qual razão as pessoas tem tanta ojeriza aos partidos políticos. Será porque, ainda que inconscientes, as pessoas desconfiam que os partidos são verdadeiros balcões de negócios? Será porque tenham uma ideia que muitos políticos usam os partidos para se locupletarem? Será porque desconfiam que aquele cidadão, que nunca fez nada vida e ficou rico, enricou roubando o dinheiro público? Será pelo fato dos partidos ao invés de se preocuparem com os assuntos do país, só estão preocupados em ganharem a próxima eleição, se apoderarem do poder e dos recursos públicos como se deles fossem donos? Será que é por sentirem nojo de verem a atividade política se tornar um rentável negócio de pai para filho, neto, esposas, amantes e afins?
O Brasil tem dessas coisas. As pessoas não costumam assumir os próprios erros. Assim como as pessoas, os partidos que na verdade não conseguem ir muito além de um reduzido grupo, mais ainda. Eles não conseguem enxergar o que acontece com o país hoje. E não conseguem porque há muito tempo perdeu o rumo, perdeu a ideologia, perdeu os valores. Tornaram-se artífices do toma lá, dá cá. Só querem saber de espaços no poder. E muitos não querem poder para fazer algo de positivo para a população e sim para “se arrumarem”. Arrumarem a si e aos seus, de preferência os da família. Usaram nos últimos anos a lógica do poder pelo poder e estranham que as pessoas finamente tenham se dado conta disso. Pensavam que faziam tudo escondido, no entanto estavam à vista de todos. Será que pensaram que o povo não estranharia que o cidadão que nunca fez nada na vida além de política aparecesse rico do dia para noite. Que o filho de fulano que nunca trabalhou, aparecesse com fazendas, mansões, carrões e aviões? Será que apostaram na ignorância e na cegueira coletiva a esse ponto?
Estão perplexos. Mais perplexo está o povo ao perceber que outrora não tínhamos uma dúzia de ministérios e que sabíamos o nome de cada um dos ministros pois aprendíamos na escola e hoje temos trinta e nove, o último criado as escâncaras para atender um partido político e que não sabemos o nome de quase nenhum, exceto dos que cometem o deslize de serem pegos roubando os recursos públicos. Falta apenas mais um para podermos dizer lá vai D. Dilma e seus quarenta… Ministros.
A perplexidade com grito das ruas de que o povo não se sente representado soa mais como um cinismo deslavado e arrematado. São quase trinta anos de abusos e mais abusos, de saques e mais saques. A população ali resignada pagando seus impostos em dias, sendo descontada na fonte, uma das maiores cargas tributárias do mundo e um dos serviços públicos piores do mundo, enquanto seus representantes dormiam e dormem pobres para acordarem ricos. Será que não acharam ser tempo demais?
Antes dos partidos e dos políticos virem com sua afetada indignação e ar de espanto, devem olhar para dentro de si e de suas organizações partidárias e verem o que se tornaram. O povo não se sente representado por que nos cargos públicos só tem espaço para íntimos, os parentes, aduladores. O povo não se sente representado por que constituíram uma casta que pode tudo enquanto o povo tem que festejar por haver conseguido uma cirurgia de catarata. O povo não se sente representado porque muitos agentes públicos usam os cargos de assessores e de serviços prestados para fazerem uma renda extra. O povo não se sente representado porque não agüentam mais tanto silêncio diante dos escândalos que brotam todos os dias. O povo não se sente representado ao ver o dinheiro público descendo o ralo, como no caso de dezenas de obras iniciadas com propósitos meramente eleitoreiros e que estão abandonadas ou com o assalto puro simples como no caso da refinaria do Texas que comprada por mais de um bilhão não acha quem pague por ela nem décimo do valor. O povo não se sente presenteado por isso, por muito mais, como por exemplo por estado perdulário mastodôntico e aparelhado por siglas partidárias. Como é possível uma nação ter mais de vinte mil cargos comissionados para serem manobrados ao sabor das conveniências políticas?
Senhores políticos, antes de se sentirem perplexos façam um exame de suas consciência vejam o que fizeram nos últimos
anos. Isso se ainda tiverem alguma consciência, claro.
O povo não se sente representado por uma singela razão, está cansando do papel que lhe foi reservado: o papel de trouxa.
Abdon Marinho é advogado eleitoral.