Por Abdon Marinho
Muitos de nós, se puxarmos pela memória, vai se deparar com a seguinte cena: Alguém conta uma piada sem graça e, por educação, um ou outro acaba rindo da mesma. Risos sem graças diga-se de passagem. Normal podia se dizer que estava rindo do contador da piada e não da piada em si.
Eram tempos lúdicos.
Hoje, o que era lúdico, tornou-se tétrico. Vejam uma cena, o político, qualquer um, de vereador a presidente, se em ascensão melhor, conta uma piada completamente sem graça, com conteúdo racista ou intolerante contra quaisquer minorias e o que vemos é uma corja de puxa-sacos a dobrar da rir da piada sem graça.
O Brasil tem se tornado isso, uma terra onde as pessoas riem de piadas sem graça, onde o hábito da adulação tornou-se mais prestigiado que a correção de caráter. As eleições se aproximam e muitos que não se sabe de onde saíram, de repente se tornaram aliadas de primeira hora, deste ou daquele político, de preferência e com mais ênfase aos que despontam com alguma possibilidade de vitória, riem de suas piadas, não conseguem enxergar nada sob os céus senão as qualidades dos seus eleitos.
Aos poucos mas sempre de forma continuada o país vai se tornando uma terra de pessoas sem o senso crítico algum. Se é o meu escolhido não possui defeito algum, é honesto, competente, o sábio de todos já postos na terra e até seus flatos são cheirosos como as flores do jardim do éden.
Como se igualam por baixo, bem baixo mesmo, qualquer pessoa que ousa manifestar qualquer posição crítica é tida como inimiga. Vão logo dizendo: “Fulano, em mil novecentos e carne de porco, esse Sicrano disse que seus flatos não eram cheirosos”. Como um povo que se deixa escravizar só vai produzindo políticos cada vez mais medíocres, o adulado já vai logo tomando uma decisão: “inscreva o desafortunado que ousou dizer que meus flatos não são cheirosos no índex dos malditos”. Rsrsrs. Essa é uma dura verdade, as pessoas, cada vez mais estão desaprendendo a serem críticas. A verdade tem lado. Se o dito é benéfico ao meu lado é verdade, se não é, não passa de deslavada mentira.
Não precisamos ir muito longe para testemunhar essas coisas. Criamos os “estadistas da mediocridade”. Outro dia, de um determinado político, um amigo me falou: “Abdon, Fulano de Tal é muito trabalhador, mas tem um defeito, não consegue trabalhar com nenhum subordinado que conheça qualquer assunto melhor que ele”. Como conhece muito pouco de tudo, já se imagina a qualidade dos assessores. Pior que isso, os que sabem mais e não são poucos, fingem que são ignorantes para não desagradar o chefe. Isso não é uma piada, é a mais pura verdade. Vejam a que grau chegou o ser humano em matéria de degradação.
Os donos do poder, cegos por uma vaidade sem fim, cada vez mais se cercam de incompetentes e bajuladores em detrimento do serviço público que clama por pessoas capacitadas. Esses aduladores, dispostos a tudo, cada vez mais galgam espaços e lá chegando farão toda sorte de serviço sujo para agradar aos donos de suas nomeações e indicações.
Com isso, cada vez mais, temos um Estado (país, estado, município) funcionando na base da propina, do agrado, da cervejinha. Com isso, temos uma educação que deseduca , uma saúde que
mata, uma assistência que não assiste. O que funciona é a política da esmola, o esgotamento da classe média, sobre todos eles uma elite burra, medíocre e subserviente, aqui e ali, e cada vez menos, se salva um. A exceção serve unicamente para justificar a regra.
As pessoas apenas enxergam os problemas, mas parecem ignorar que na origem de tudo estão os homens que riem das piadas sem graça.
Em tempos imemoriais, cada corte tinha o seu bobo. O chamado “bobo da corte”, indivíduos que tinham o papel de se degradar para fazer rir o seus senhores. Eram capazes de tudo no desempenho da missão. Olhando para os nossos dias ficamos com a impressão que as cortes até que diminuíram de tamanho, por sua vez o séquito bobos, só aumenta a cada dia.
As pessoas de bem precisam ficar atentas e não rirem, nem por educação, de piadas sem graça, pois no riso da piada sem graça encontra-se a degeneração da sociedade. Se acharmos normal que os aduladores e puxa-sacos passem a comandar a nação, mais ainda do que já vem fazendo que futuro reservaremos a nossa descendência?
Um bom dia a todos.
Abdon Marinho é advogado eleitoral.