Por Abdon Marinho
Já falamos diversas vezes sobre a violência que sofre as mulheres no Brasil. A violência manifestada sobre as mais diversas formas no nosso dia a dia ganham ares dramáticos quando examinamos os números. Acabo que ver no JN os dados do IPEA, a cada 1h30min uma mulher é assassinada, mata-se 5,22/100 mil no Brasil. O pior de tudo isso é que a violência continua se dando, praticamente, da mesma forma quase dava antessala Lei Maria da Penha, o que corrobora o nosso entendimento de que não basta a lei para reduzir a violência, necessário que o infrator tenha certeza que será punido, o que não vem acontecendo no nosso país faz tempo. Vivemos um tempo em que os piores bandidos não esquentam bancos nas cadeias, traficantes são presos pela manhã e soltos a tarde, assassinos, estupradores seguem no mesmo rumo.
Entretanto no caso da violência contra a mulher e na forma como se dá é bem mais chocante. Os números revelam, infelizmente, que a maioria dos atos de violência são praticados por pessoas bem próximas, maridos, namorados, pai, irmão, tio, justamente aquelas pessoas que deveriam zelar por elas. A maioria destes crimes são passionais, frutos de relações desfeitas ou deterioradas, que as mulheres, muitas vezes por dependência econômica, permitem que avancem.
Os números divulgados hoje mostram que não avançamos na última década neste quesito, os homicídios continuam os mesmos. E se os homicídios são quantificados, não se consegue esconder mortes, as outras formas de violências, permanecem ocultas, escondidas dentro dos lares, envoltas em nuvens de vergonhas e preconceitos. Alcançam todas as esferas sociais e todos os níveis econômicos.
Em pleno século XXI as mulheres são vítimas do mesmo machismo de épocas medievais, ainda são tratadas como humanos de segunda categoria e, embora trabalhem em dobro, muitas ainda ganham menos que os homens, ainda são traficadas e usadas como escravas sexuais em diversos países, são exploradas por cafetões em nosso país. Todos conhecemos essa realidade, inclusive as autoridades.
Por mais triste que possa parecer há essa terrível desigualdade no Brasil. A sociedade tem evoluído muito pouco neste quesito. O preconceito velado, materializado nos pequenos e nos atos mais extremos. Nas piadinhas infames, na falta de solidariedade, etc. São incontáveis os gestos destinados a inferiorizar a mulher, a colocá-la numa posição de subalterna. Quantas vezes não se ouve, em todos os cantos, piadas sobre mulheres, colocando-as nas piores posições?
D. Maria vá pilotar um fogão, é a menor das piadas. Avançam pela ilação a traição, a lasciva, a traição. Quantas vezes não ouve e se admite que a mulher provocou um estupro? Quantas vezes não são olhadas com desconfiança pelos policiais quando vão as delegacias denunciar algum tipo de violência doméstica ou sexual? Quantas vezes não olhadas com desconfiança por colegas e até familiares? Quantas vezes não se reforça a ideia de que ela provocou a violência? Que direito tem alguém de bater em alguém, viola-la e ainda dizer que a culpa é dela?
A raiz da violência são os pequenos atos de preconceitos, a infâmia das piadinhas, que muitos riem e acham engraçado. Esses pequenos atos, na verdade, sevem para reforçar os estereótipos, a ideia de que uma mulher ou qualquer outra pessoa é propriedade de outrem e que por isso pode se fazer o que quiser. A inocência, acredito que na maioria é por inocência, tem o condão de reforçar a violência.
Abdon Marinho é advogado eleitoral.