Por Abdon Marinho
Durante muito tempo pensei nesta frase como se fosse um mantra. As vezes, quando menos esperava lá estava ela lembrando: “o amor verdadeiro não acaba”. Não lembro onde a ouvi ou li, apenas lembro. Lembro que tem ou tinha um complemento que dizia: “se acabou, não era verdadeiro”. Conceitos de brincadeiras adolescentes. Talvez para contrapor-se a Vinicius que dizia do amor no seu soneto: “…que não seja eterno, posto que é chama, mas infinito enquanto dure”. Como troça, substituíamos o dure por duro. Rsrs. Ou ainda para contrapor-se à crueza de Nelson Rodrigues(?) que asseverou: “o dinheiro compra tudo, até o amor verdadeiro”.
Contrariando tudo isso dizíamos: “o amor verdadeiro não acaba, se acabou não era verdadeiro. Parte, busca o amor verdadeiro que ainda deve está por ai, vagando também, à sua procura”.
Tudo passa sobre a terra, diz a Bíblia. Passados os anos nos perguntamos: sobre o amor quem estava certo? Vinicius, Rodrigues ou o mantra juvenil? Existirá um amor verdadeiro eterno e infinito à espera de nossas almas desvalidas? Se existe onde estará? Será que está perto, longe? Neste tempo, noutro tempo? Neste país ou numa terra distante? Teremos a graça de alcançar? Para estas questões sempre temos mais perguntas que respostas.
Num filme que não lembro mais, a sentença: “amar é jamais ter que pedir perdão”, será isso verdade? Será que quem ama conhece de tal forma a pessoa amada que já conta com o seu perdão antecipado? Por isso que não é necessário pedir perdão?
Numa música, a assertiva: “…quantos idiotas vivem só, sem ter alguém…”
Como dizia, recordava destes conceitos. Destas questões juvenis. Acho que naqueles tempos em que éramos adolescentes e estávamos mais preocupados com estas “grandes questões”, tínhamos uma sociedade mais feliz. A preocupação era ser correspondido. Era o bom conceito que o objeto do nosso amor teria de nós. Hoje, com as exceções que sempre há, não se ver a chama da paixão nos olhos dos mais jovens, resta um certo vazio. As vezes fico com a impressão que desistiram de encontrar o “amor verdadeiro”, aquele que é infinito, eterno. Aliás, sinto não acreditam que ele possa existir.
Diante disso fico pensando no quanto deve ser difícil a existência das pessoas que desistiram de encontrar o “amor verdadeiro” ou que desistiram de acreditar na possibilidade de sua existência. Se desistirmos do amor o que nos restará? Se desistirmos de acreditar que em algum lugar há alguém a nossa espera é que completará em definitivo o que nos restará? Qual o sentido da vida das pessoas que não amam? Será que são felizes ou será não conhecem mais o conceito de felicidade? Este ficou perdido e oculto por uma sociedade plastificada. Terá vencido o conceito rodriguiano de que o dinheiro a tudo compra, inclusive o amor verdadeiro?
Muitos pensam que amam, entretanto amar não é posse, amar é complemento. Amar não é está junto é sentir-se junto.
Dirão muitos, estes são conceitos ultrapassados, cafonas, caretas. Importante mesmo é ficar, é o sexo fácil que sacia o corpo. É a permanente disponibilidade. Será? E a alma, como será saciada? Como será o vazio das pessoas que se tornaram vazias de sentimentos?
Costumo dizer que o importante na vida é a felicidade. O que importa, verdadeiramente, é sermos felizes. É acreditarmos que existe um amor verdadeiro a ser alcançado ou manter o amor verdadeiro que já encontramos. O que importa é jamais desistir da busca desta felicidade. Desistir de ser feliz é desistir da própria vida. Não encontrar o amor talvez não seja tão triste quando desistir desta busca.
E se me perguntarem: você já encontrou o amor verdadeiro? Não. Mas continuo buscando. Inclusive buscando forças para nunca desistir desta procura.
Bom dia a todos e não desistam do amor. Nem de buscá-lo.
Abdon Marinho é advogado eleitoral.