O senador Edison Lobão (PMDB-MA), patriarca do clã que leva seu sobrenome, é um sobrevivente dentro cenário político nacional. Foi acusado de envolvimento em ao menos três grandes escândalos e, pelo menos até o momento, escapou ileso, sem condenações, de todos eles. O nome do parlamentar e de seus filhos voltou à tona esta semana com a divulgação dos Panama Papers, um conjunto de documentos referentes a empresas offshore obtido pelo Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo. Lobão e Luciano, um de seus filhos que não está na política, são citados na lista de clientes da companhia panamenha Mossack Fonseca, responsável por estruturar (e ocultar) empresas no exterior. Não se sabe se as offshores da família são irregulares ou não, caberá à Receita Federal apurar o fato. O advogado do parlamentar negou a acusação. Mas essa foi apenas o último enrosco do senador.
Lobão, que foi governador de seu Estado natal de 1991 a 1994, é considerado um representante da oligarquia maranhense ao lado dos Sarney, de quem o parlamentar é próximo. Ele é investigado pela Operação Lava Jato pelo recebimento de propina para a construção da usina de Angra 3.
Além disso, delatores do esquema de corrupção na Petrobras afirmaram que, quando esteve à frente do ministério de Minas e Energia (2008-2015, Governos de Lula e Dilma), ele arquitetou a entrega de 2 milhões de reais a Roseana Sarney para sua campanha ao Governo do Maranhão em 2010. Em dezembro do ano passado a Polícia Federal chegou a realizar buscas na mansão de dois andares do parlamentar em Brasília. O advogado do senador, Carlos de Almeida Castro, o Kakay, diz que até o momento “várias pessoas falam do senador Lobão (…) no sentido de que ele teria solicitado dinheiro para campanhas, mas não há nenhuma imputação direta a ele”.
Mas o senador não é o único Lobão na mira da Lava Jato. Seu filho Edison Lobão Filho, que chegou a ser suplente do pai no Senado quando este assumiu o ministério de Minas, é investigado por supostamente ter recebido pagamentos irregulares feitos pelo Grupo Bertin – ligado ao pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula. Ele teria recebido repasses de ao menos 8 milhões de reais. Lobão Filho afirmou que o valor se refere a uma “intenção de vender uma participação societária para o grupo”, mas a operação “acabou sendo cancelada”. “Não houve, de forma alguma, recursos transferidos entre as partes, ou seja, foi simplesmente um negócio anulado”, afirmou.
O processo da Lava Jato não é o único a atingir Lobão. Ele também é investigado desde 2015 por suspeita de ser sócio oculto de um grupo de companhias sediado nas Ilhas Cayman, um conhecido paraíso fiscal caribenho. O grupo empresarial Diamond Mountain se encarregaria de captar recursos de fundos de pensão de estatais e empresas privadas que estivessem sob influência do PMDB. O senador nega ter qualquer participação na offshore, mas ex-sócios do empreendimento disseram operar em nome de Lobão. O processo está atualmente com o STF.
Em 2014 o patriarca do clã Lobão teve seu nome relacionado a outro escândalo, envolvendo, desta vez, o fundo de pensão dos funcionários dos Correios, o Postalis, que há 12 anos é controlado por aliados dos peemedebistas. As fraudes, ocorridas entre 2006 e 2011, teriam aberto um rombo de 5,6 no plano de benefício dos participantes do fundo.
Entre os investigados estão o ex-presidente do Postalis Alexej Predtechensky, conhecido como Russo, e o ex-diretor Adilson Florencio da Costa. Os dois eram ligados a Lobão. Segundo a revista Época, um outro filho de Lobão, Márcio, foi sócio de Predtechensky. À época do escândalo, o então ministro de Minas e Energia admitiu ter relação e amizade com Russo, mas negou ter tido qualquer participação na sua indicação para o cargo.
Por fim, Edison Lobão teria arquitetado a retomada das operações no garimpo de Serra Pelada, no sul do Pará. Uma reportagem do jornal O Estado de São Paulo de 2010 afirma que “Lobão lançou outra ofensiva (…) desta vez, para tomar o controle da cooperativa [de mineradores com direito a explorar Serra Pelada].
Num processo conturbado, marcado por ações judiciais e violência, garimpeiros do Maranhão ligados ao ex-ministro conseguiram assumir a Cooperativa dos Garimpeiros de Serra Pelada”. O ex-ministro se defendeu, e negou estar por trás do esquema que beneficiou a cooperativa: “Defendo os garimpeiros há mais de 20 anos, fui lá inúmeras vezes, defender os garimpeiros, a maioria do meu Estado, o Maranhão”. Posteriormente, o Ministério Público investigou, sem sucesso, o desaparecimento de parte dos 50 milhões de reais que teriam sido repassados pela mineradora canadense Colossus à cooperativa pelos direitos de exploração do local. O destino do dinheiro ainda é uma incógnita.