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O fim da 'era dos mitos do tráfico' e a glamourização

Por Milton Corrêa da Costa

Com a recente morte do traficante Matemático (‘chefão’ da Vila Aliança e adjacências), há anos procurado pela polícia, e após as prisões, tempos atrás, dos bandidos Polegar da Mangueira, FB da Vila Cruzeiro, Mica do Complexo da Penha, além do lendário Nem da Rocinha, chega ao fim, no Rio de Janeiro, a ‘Era dos Mitos do Tráfico’. Falsos “Hobin Hoods” -alguns de menor fama continuam ainda em plena atividade criminosa- que pelo poder das armas de guerra oprimem e aterrorizam, nos redutos do tráfico, em morros e favelas, pessoas ordeiras. Paradoxalmente acabam, como Matemático, tendo enterro de ‘herói’. Resta saber se as 250 pessoas que compareceram à cerimônia fúnebre do fora-da-lei, neste domingo, 13/05, o fizeram expontaneamente, pela idolatria ao bandido, ou se obrigados pelos ‘soldados’ do falecido. A segunda hipótese é mais provável.

A verdade é que, muitos desses lendários ‘mitos’, que morreram ou se encontram cumprindo pena em penitenciárias de segurança máxima fora do Estado, foram glamourizados, num passado recente, pela própria mídia, acabando endeusados e transformados em autênticos ‘bandidos sociais’, a exemplo dos traficantes Uê e Fernandinho Beira-Mar, tidos como verdadeiras lendas no mundo do tráfico. Recorde-se que ao ser morto no cárcere, pelo próprio inimigo Beira-Mar, em 2002, Uê fez jus a cadernos especiais de alguns jornais como se fosse um grande herói nacional. Mais recentemente Nem da Rocinha, dias antes de ser preso, mereceu, numa entrevista exclusiva concedida em seu próprio reduto (louve-se a coragem da jornalista na obtenção do furo) algumas páginas de uma importante revista semanal.

É preciso, pois, repensar sempre o papel da mídia na obtenção do furo jornalísticvo -a bem da verdade a imprensa do Rio de há muito não mais cita em matérias específicas nomes de facções do tráfico- face ao indesejável efeito colateral da glamourização de frios e sanguinários marginais da lei, que desprezam vidas humanas incinerando-as em ‘micro-ondas’, a exemplo da covarde e cruel morte do jornalista Tim Lopes, julgado e setenciado com a pena capital pelo’tribunal do tráfico’. Louve-se, neste contexto de violenta e permanente guerra urbana, a implantação do projeto das UPPs, decisivo para o enfraquecimento do narcoterrorismo, e a firme ação proativa da polícia do Rio, na estratégia atual, por demais necessária, de dura repressão ao tráfico de drogas.

Matemático, o último ‘mito do tráfico’ morreu durante uma ação policial na última sexta-feira (11/05), abatido por um atirador de precisão (sniper) . Um fim previsível para quem trilha pelo tortuoso caminho do tráfico. Matemático, com toda a certeza, ainda que não se deva comemorar a morte de um ser humano, não fará nenhuma falta à sociedade como um todo. Só a seus familiares, soldados e admiradores.. A vida humana, para perigosos e frios marginais da lei, nada vale. Como bem disse o Secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, “A morte de Matemático não é um troféu, nem um emblema”. Ou seja, acertadamente, deu muito mais valor ao trabalho policial, na luta contínua contra o tráfico, do que a importância do bandido.

A ‘Era dos Mitos do Tráfico’está finda, mas a guerra suja do narcotráfico não. Para os marginais da lei, como diz a mensagem em alusão ao ‘De cujus’, numa coroa de flores: “O certo prevalece. Quem traiu vai pagar”.

Milton Corrêa da Costa é coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro.

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