Por Abdon Marinho
O jornal anuncia em matéria de capa com letras garrafais: “PIB cresce e Maranhão não é o estado ‘mais pobre’ do Brasil”. Viva! Viva! Viva! Soltemos rojões. Essa “cantiga” é basicamente a mesma da semana passada, a mesma que os governantes vem dizendo já faz um bom tempo. Parece um discurso orquestrado no propósito de inibir as críticas que se faz as condições do Maranhão.
Quem me conhece sabe que nunca fui muito bom de matemática, por isso mesmo não brigo com os números, pelo contrário, tento entendê-los. Nunca questionei, até mesmo porque não possuo elementos para contestar dados estatísticos do IBGE. A matéria diz ainda na sua capa que o o PIB saltou de R$ 45,2 bilhões para R$ 52,1 bilhões em entre 2010 e 2011, representando um crescimento de 10,3%, levando o Maranhão para a 16ª economia do país e que o PIB per capita ultrapassou o do Piauí. Viva! Viva! Passamos o Piauí que até pouco tempo atrás era sinônimo de pobreza.
Sendo os números verdadeiros, e como disse, não tenho nenhum motivo para duvidar que não sejam, pelo contrário, acho que são, fica a indagação das razões pelas quais não vemos a alteração nos nossos municípios. O que entendo, e não é de hoje, é que está errado o modelo de crescimento. O Maranhão é, e sempre foi, rico, entretanto toda essa riqueza não é compartilhada com sua população. Não adianta você falar que houve um aumento na renda “per capita” pois essa renda é ilusória, não chega, de fato, ao conjunto da população. Constroem um crescimento que favorecem a concentração de renda, seja de uma elite cada vez mais restrita, seja da banca do capitalismo internacional, dos investidores que sequer devem saber onde fica o Maranhão.
O crescimento que o governo canta em prosa e verso é fruto destes “enclaves econômicos” instalados no estado desde os fins dos anos setenta. Estes “enclaves” elevam o PIB, por conseqüência, a renda “per capita”, mas a riqueza não é experimentada pela população. Trata-se uma riqueza que entra na conta mas que não fica aqui, não nos ajuda em quase nada. Se há alguma melhoria e é possível que elas existam tratam-se melhorias estanques e pessoais decorrentes do fornecimento de alguns empregos. Nem mesmo nos municípios onde os empreendimentos estão instalados se verifica uma melhora substancial na vida das pessoas ou o crescimento econômico destas povoações. Se retirarmos a contribuição econômicas destes “enclaves” verificaremos que o Maranhão vem crescendo como rabo de cavalo, para baixo.
Como dizíamos outrora, trata-se um modelo de crescimento perverso, que explora as riquezas do Maranhão, enrica uma meia dúzia de pessoas e deixa o grosso da população na miséria.
Outro dia um amigo chamou atenção para uma coisa que já disse aqui algumas vezes. Quem anda pela interior, mesmo pelo interior da ilha já deve se dado conta do aumento do número de bares, de mesas de sinucas e caça-níqueis, que as autoridades fingem não ver. Qualquer dia da semana e em qualquer horário o que vemos é as pessoas entretidas nestes vícios. Isso vem acontecendo de segunda a segunda. Gastam os poucos recursos que possuem, quase sempre originados das políticas de transferências de renda, aposento dos mais idosos, seguros tipo defesos e outros nisso.
Se os números apontam para algum tipo de crescimento na área do agricultura, tenham certeza que se referem ao agronegócio, as monoculturas. A pequena produção que alimenta é gera renda as famílias é praticamente inexistente no Maranhão.
Vivemos num estado com solo rico, com recursos hídricos em abundância e praticamente tudo que se consome vem de outros estados. Não precisamos ir muito longe, basta ir a CEASA de São Luís e verificar a origem dos produtos que a abastece ou perguntar as grandes redes de supermercados e atacadistas. Antigamente víamos esse fenômeno só em São Luís, atualmente, o interior do estado também é abastecido desta forma, com caminhões com produtos vindo do Piauí, Pará e até da Bahia.
Os nossos municípios, talvez exista alguma exceção, não se sustentam sozinhos, suas receitas são oriundas unicamente do FPM, das aposentadorias e dos programas sociais. Se cessassem com essas receitas por um ou dois meses veríamos o ‘desmantelo’ que seria. São receitas que mal garantem o pagamento das obrigações mensais destes entes e a sobrevivência dos que delas dependem. A capacidade de investimento é praticamente nula. Como podemos dizer que o Maranhão está crescendo se nós não vemos esse crescimento nos nossos municípios? Se esse crescimento não é traduzido em melhores condições de vida para o povo?
A informação que nos trás a mídia faz-nos crer que os números do IBGE, embora verdadeiros, não traduzem a realidade do que efetivamente vem acontecendo com o Maranhão. Trata-se de um crescimento artificial.
O crescimento real que assistimos em todos os cantos do estado é o do consumo de drogas, dos roubos, dos assassinatos, da violência de uma maneira geral. Esse sim é um crescimento palpável, perguntem aleatoriamente a qualquer pessoa em qualquer dos nossos municípios sobre esse crescimento que saberão responder. Esse crescimento real deve ser fruto deste outro crescimento, o artificial.
Abdon Marinho é advogado eleitoral.