Por Abdon Marinho
Como já disse aqui nos dois textos anteriores sobre o nosso propalado crescimento, não discuto com os números. Disse também não duvidar que o Maranhão está crescendo, só que o crescimento que assistimos é um crescimento desigual. Um crescimento que privilegia a concentração de renda.
Fiz um levantamento só da renda per capita mensal das cidades do Maranhão. O Brasil possui 5566. Se quisermos encontrar os municípios maranhenses temos devemos começar de baixo para cima, até porque a cidade com a menor renda per capita mensal é Marajá do Sena, com uma renda mensal de R$ 96,25 (noventa e seis reais e vinte e condo centavos), como vimos anteriormente. Ainda neste quesito, com um simples exame verificamos que a maioria dos municípios do Maranhão se encontram entre os mil mais pobres do Brasil. Apenas 11 (onze) dos nossos municípios apresentam uma renda per capita mensal superior a R$ 400,00 (quatrocentos reais), são eles: 585 São Luís 805,36; 1680 Imperatriz 613,87; 2090 Alto Parnaíba 559,61; 2323 Balsas 531,60; 2534 Estreito 503,29; 2585 Porto Franco 497,56; 2922 Paço do Lumiar 444,50;
2954 Pedreiras 441,42; 2973 Açailândia 448,56; 2987 São José de Ribamar 435,40; 3131 Santa Inês 411,04; Entre R$ 300,00 (trezentos reais) e R$ 400,00 (quatrocentos reais), apenas 17 (dezessete), são eles: 3214 Presidente Dutra 398,15; 3227 São Mateus do MA 396,29; 3354 Bacabal 375,57; 3429 TIMON 365,26; 3452 São João dos Patos 362,47; 3473 Campestre do Maranhão 358; 3588 Grajaú 340,10; 3615 Itinga do Maranhão 336,91; 3632 Carolina 334,51;
3705 Caxias 324,90; 3763 Ribamar Fiquene 317,75; 3806 Governador Edison Lobão 312,56;
3845 Arari 308,83; 3878 Barra do Corda 305,61; 3893 João Lisboa 303,91; 3916 Santa Luzia do Paruá 301,39; 3918 São Raimundo das Mangabeiras 301,25; o resto mesmo, 189 municípios possuem renda per capita mensal inferior a R$ 300,00 (trezentos reais), o que dá algo em torno de R$ 10,00 (dez reais)/dia para o cidadão sobreviver. Se dividirmos os 5566 por 2, verificamos que mais de 90% (noventa por cento) dos municípios maranhenses estão na parte de baixo da tabela.
Como podemos falar em crescimento deste jeito, com a população de 90% (noventa por cento) tendo apenas R$ 10,00/dia para viver?
Se formos mais a fundo neste exame iremos descobrir que esses 90% (noventa por cento) do municípios têm essa renda per capita mensal devido aos programas de distribuição de renda do governo federal. Se abstraíssemos essa participação, essa renda seria bem menor.
Não tenho dúvida que o Maranhão é rico. Acontece que essa riqueza toda não tem chegado ao povo. Vejamos um exemplo: Alguém dúvida da potencialidade turística de Barreirinhas? Não. Entretanto Barreirinhas com todo seu potencial, no ranking da renda per capita mensal ocupa apenas a 5304ª posição, com R$ 197,08, menos de R$ 200,00 (duzentos reais) de renda para sua população. Vejamos um outro exemplo, todos já ouviram falar do grande desenvolvimento que alcançou a região do médio mearim, com a exploração do gás, pois bem a posição de Santo Antonio dos Lopes e Capinzal do Norte é 4756ª e 5273ª, com renda de R$ 240,20 e R$ 200,15, respectivamente.
Poderíamos citar diversos outros exemplos ou examinar a situação dos municípios que apresentaram alguma melhora como é o caso daqueles que aparecem na primeira metade da tabela, entretanto esses casos são suficientes.
Não adianta virem dizer o Maranhão é o estado que mais cresce, que é rico e etc., e que a responsabilidade por esses indicadores africanos dos nossos municípios é dos seus gestores. Não que não seja, pois é. Não que os nossos gestores sejam comprometidos com o desenvolvimento, a grande parte deles não é comprometida. Grande parte candidatou-se a prefeito para se dá bem, enxergaram no mandato eletivo uma chance de enricar sem muito esforço. Não duvido que tudo isso que dizem seja verdade. Entretanto o problema do subdesenvolvimento dos municípios maranhenses vai muito além disso. E olha que não desprezo o potencial nocivo da nossa corrupção para o atraso do estado.
Entretanto, ainda que todos fossem honestos, probos, comprometidos com o desenvolvimento de seus municípios, ainda assim não conseguiriam tirá-los sozinhos da situação em que se encontram. O problema é estrutural.
O que quero dizer é que o Maranhão se apresenta, em face aos números mostrados, como um paciente que precisa de uma intervenção agressiva externa, um programa de desenvolvimento calcado em medidas que potencializem as vocações naturais de cada região e que saiba aproveitar suas riquezas. Ao lado disso um pacto social que envolva gestores e sociedade no projeto cobrando de cada um transparência e rigor no investimento dos recursos públicos.
Acredito que soluções coletivas, consorciadas, envolvendo não apenas as gestões mas as populações destes municípios terão como trazer melhorias e retirar esses municípios da situação vexatória em que se encontram.
Todos os indicadores sociais apontam isso. No ENEM já demonstrei aqui no texto “DE mal a pior”, que as nossas escolas estão no mesmo passo do estado, lá atrás. Ainda que alardeei uma possível melhora, ainda é muito incipiente para que seja motriz de qualquer desenvolvimento.
Urge que se mude esse modelo de desenvolvimento em que o sucesso e a prosperidade fiquem concentrados nas mãos de poucos enquanto mais de noventa por cento da população amarga as maiores privações. São Luís é das capitais brasileiras, em termos proporcionais a que possui a maior frota de veículos novos e importados de luxo ao lado disso temos o município de marajá do Sena com uma população que possui renda per capita de pouco mais de de R$ 3,00/dia.
Essa desigualdade não pode ser atribuída unicamente à corrupção, que dizem existir. Ela também é fruto de um modelo de desenvolvimento equivocado, que aposta no subdesenvolvimento como forma de manter a dominação política.
Tem algo errado e não adianta por a culpa no mordomo.
*Obs. Antes do nome dos municípios vem a posição dele no ranking.
**Obs. No próximo post a relação completa dos municípios, sua posição no ranking e valor da renda em real. Caso apresente alguma falha, favor ajudar a corrigir.
Abdon Marinho é advogado eleitoral.