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O ontem não foi há uma eternidade

Por Abdon Marinho

Abdon Marinho.
Abdon Marinho.

Como disse anteriormente causou-me surpresa o apoio do Partido dos Trabalhadores – PT, ao candidato do Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB, senador Edison Lobão Filho. Não que tivesse dúvida de que isso viria a acontecer.

Se alguém acreditou que fosse acontecer algo diferente disso ou que o partido lançaria candidatura própria é por que foi excessivamente crédulo ou não fez a leitura correta do cenário, levando em conta os interesses dos donos do partido. Estava escrito nas estrelas ou melhor, na estrela, que o partido continuaria no seu papel de sublegenda do partido que se encontra do governo do Maranhão desde sempre.

Diferente do que ocorre no Amapá, onde o partido a nível local reluta bravamente e aceitar uma aliança que apoie a reeleição do senador Sarney, grande parte dos integrantes do partido aqui, na terra de Gonçalves Dias, não ver problema nenhum em apoiar em apoiar qualquer nome do grupo dominante.

Se o senador imaginasse que por aqui as coisas estariam tão fáceis ele teria repatriado o seu domicilio eleitoral para o seu torrão natal. Será que não fez isso sem que soubéssemos e só espera o momento certo para dizer?

Entretanto causou-me surpresa o desenrolar do encontro partidário. O que me surpreendeu no colóquio partidário, que homologou a aliança entre o PMDB/PT e as demais legendas que integrarão o arco de apoio ao candidato governista, inclusive o satanizado (por eles DEM), foi a euforia, o clima de gol em final de copa com que o companheiros festejaram a aliança. Será que acham que fizeram um gol de placa com o apoio ao notório senador? Será que estão firmemente convencidos que é este o melhor candidato para o Maranhão a ponto de justificarem aquela alegria toda? Se estão tão convencidos disso, junto com a decisão de coligação partidária entre as duas legendas em torno do ilustre senador, deveriam ter aprovado também, junto a tal decisão, uma moção de desculpas públicas a senador. Mais do que isso, ao invés do senador ter comparecido ao encontro para pedir apoio, para dizer que encampava propostas do partido, etc., deveriam os dirigentes e militantes partidários terem ido à procura do senador, de preferência que ele estivesse num distante lugar e fossem a sua procura de joelhos, todos de joelhos, em penitência, numa procissão, pelo tanto que falaram mal dele ao longo dos anos e que agora o reconhecem como o nome ideal para conduzir o estado.

Não só reconhecem, fazem isso com despudorada alegria, com despudorada satisfação. Ora, se não tinha o senador ou seu pai todos os defeitos que apontaram durante anos de forma tão dura e por vezes grosseira, o mínimo que se espera é um pedido de desculpas pela leviandade. Mas se estavam certos durante todos esses anos, não tem conjuntura alguma, motivação alguma capaz de justificar a aliança. Muito menos que façam isso em clima de quem acabou de fazer o gol que garantiu a taça do mundo ao país.

Os dias em que apontavam nas ruas, nos parlamentos, praças os defeitos do senador, não vão longe, foi ainda ontem, em termos históricos, e não há uma eternidade como querem fazer crer. Todos que convivemos neste mundo ou que temos alguma informação sobre o que se passa, em termos políticos, neste estado sabe do que estou falando.
Os partidos têm o direito, como já disse de fazer suas alianças como lhe aprouver, mas têm o dever de explicar à população a razão de assim decidir. Se passaram a vida inteira dizendo algo e agora dizem diferente, devem dizer o que estavam errado.
O que sinalizam é que vivemos uma nova ética política em que todos são iguais? Todos igualmente anjos? Todos igualmente demônios? Todos igualmente crápulas?

Se vejo alguém chamando outra pessoa de ladrão, bandido, salafrário e no dia seguinte vejo essa mesma pessoa de braços dados com o ladrão, o bandido, o salafrário o que posso imaginar é que aquela pessoa não era nada daquilo que esta pessoa o acusava ou posso pensar que ambos que não valem nada, que são igualmente bandidos, salafrários, canalhas. Que as acusações assacadas eram na verdade fruto da inveja que sentiam por não estarem junto na partilha dos butins públicos.

O padre Antonio Vieira que tantos ensinamentos nos legou conta-nos que na Grécia tinha um filosofo de chamado ‘Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu

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que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: – Lá vão os ladrões grandes enforcar os pequenos. – Ditosa Grécia, que tinha tal pregador! E mais ditosas as outras nações, se nelas não padecera a justiça as mesmas afrontas! Quantas vezes se viu Roma ir a enforcar um ladrão por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul, ou um ditador, por ter roubado uma província. E quantos ladrões teriam enforcado estes mesmos ladrões triunfantes? De um, chamado Seronato, disse com discreta contraposição Sidônio Apolinar: Seronato está sempre ocupado em duas coisas: em castigar furtos, e em os fazer. – Isso não era zelo de justiça, senão inveja.

Queria tirar os ladrões do mundo, para roubar ele só”. Encerro com Vieira.

Vendo o festejo da adesão do partido a quem outrora só enxergavam coisas impublicáveis fiquei a imaginar se não seria a agremiação a re-encarnação de Seronato. Se as críticas, mais que zelo pelo bem está público não fosse tão somente inveja e que agora estando todos de acordo não os defeitos viraram qualidades.

Mas talvez só estivessem errados a respeito da pessoa. Neste caso, a boa ética recomendaria um pedido formal de desculpas. Uma penitência à vista de todos pelo tanto que erraram, por tanto tempo que permaneceram no cultivo da patente injustiça. Seria mais digno se assim agissem ao invés de festejarem como festejaram como se nós, o passássemos de idiotas que acreditaram nas suas palavras por tanto tempo.

O mínimo que se exige de homens públicos é coerência, seja com as palavras, sejam com as ações. Junto com o apoio que se hipoteca a alguém vai junto o atestado de boa conduta passado por quem empresta o apoio e que detém a confiança de parcela da população.

Deviam pensar sobre isso.

Abdon Marinho é advogado eleitoral.

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