Daniel Romero e Raíza Rocha, de Salvador (BA) – Do PSTU
No momento em que escrevemos este texto, a greve da PM na Bahia completa oito dias. No dia 31 de janeiro, a greve foi deflagrada em assembléia organizada pela ASPRA (Associação dos Policiais, Bombeiros e de seus Familiares do Estado). Os policiais reivindicam a reintegração dos exonerados depois da histórica greve de 2001, a incorporação de gratificações, o pagamento do adicional de periculosidade, reajuste linear de 17,28% retroativo a abril de 2007 e a revisão no valor do auxílio alimentação. Segundo os grevistas, bandeiras reivindicadas há quase 15 anos.
Desde a paralisação, a média de assassinatos e roubos a carros na região de Salvador dobrou. Além disso, também ocorreram saques a lojas e alguns arrastões em bairros mais populosos da capital baiana. Quem não vive em Salvador e toma conhecimento das informações acima, talvez a imagine como uma cidade fantasma, com as pessoas trancadas em suas casas e as ruas desertas, tipo filme de faroeste americano quando chega um bandido perigoso na cidade. Não é bem assim.
Ao menos durante o dia, a vida em Salvador seguiu algo próximo do “normal”. Ou seja, a população sai para trabalhar com a mesma insegurança, o mesmo medo e a mesma violência de sempre. Tragicamente, como a exposição da população à violência é tão grande e já faz parte da rotina, ela tenta cumprir seus compromissos mesmo sem policiamento em uma das capitais mais violentas do país.
O que a greve acrescentou à rotina de medo da população foi algo como um “toque de recolher” ao final da tarde. À noite, a violência aumenta, além dos bairros mais periféricos viverem momentos de “acerto de contas”.
É importante começarmos analisando a greve da PM na Bahia a partir de como ela alterou a rotina da população, porque pode parecer que foi a greve que inventou a violência no estado. Embora os crimes tenham aumentado com a greve, não foi ela que inventou a violência, a sensação de insegurança e o medo da população. Esse mérito é dos últimos governos, desde os carlistas até o do PT.
Cuidado, você está na Bahia
Se a Bahia fosse um país, seria um dos mais violentos da América Latina, ficando atrás apenas da Colômbia e do México. Segundo o Mapa da Violência 2011, do Instituto Sangari e Ministério da Justiça, a Região Metropolitana de Salvador, que ocupava a décima e última posição em 1998 entre as Regiões Metropolitanas do país no que diz respeito às taxas de homicídio, em apenas 10 anos passou para a terceira posição.
Na média das Regiões Metropolitanas do Brasil, as taxas de homicídios caíram 24,5% entre 1998 e 2008, enquanto a região que ostenta o título de “Terra da Alegria” viu estas taxas aumentaram 308,3% no mesmo período. Estes dados, é bom frisar, são com a polícia trabalhando, ou seja, esta é a “normalidade”.
É por isso que a população sabe que, quando a greve da PM chegar ao fim, independente do seu desfecho, não acabará o medo que acompanha todos os trabalhadores e jovens no seu dia a dia, principalmente aqueles que vivem nos bairros periféricos das cidades.
O Jeito Carlista do PT governar
É neste quadro de violência rotineira que se instalou a greve da PM na Bahia. Com o argumento de garantir a segurança pública, o governador Wagner, do PT, anunciou, de forma truculenta e irresponsável que não negociava com trabalhadores em greve. Na TV, a declaração do governo foi num tom de “prendo e arrebento”. Declarou que considerava a greve ilegal, que atentava contra o Estado democrático de direito e evocou a necessidade de se preservar a “ordem e o império da lei”.
No discurso e na prática, Wagner repete o mesmo modus operandi do partido carlista, antigo PFL e atual DEM. A truculência e intransigência do carlismo com os movimentos sociais, antes duramente criticada pelo PT, é reproduzida ao pé da letra. Continue lendo aqui