Por Abdon Marinho
Agosto encerrou, segundo os dados oficiais com os seguintes números: homicídios dolosos (quando há a intenção de matar) 65, em São Luís, 10, em São José de Ribamar; Tentativas de homicídio: 45, São Luís, 8, São José de Ribamar. Já disse aqui, e mais de uma vez, que em termos proporcionais se mata mais na grande São Luís do em muitos outros centros maiores do país e até do mundo. Se brincar, mata-se mais do que em alguns países em guerra. Apesar disso, não faz muito tempo, o secretário de segurança declarou que essa sensação de insegurança que sentimos é ARTIFICIAL. Não volto a discussão deste termo.
Setembro começa e os primeiros números só aumenta nossa “artificial” sensação de insegurança. O assassinato do empresário Daniel Smith é mais um para engordar as estatísticas, inclusive aquelas que se referem à impunidade. O “de menor”, que toda quadrilha faz questão de ter mais de um, já se apressou em confessar o crime, logo, logo, estará solto para cometer outras atrocidades. Será tido, como são todos, mais uma vítima da sociedade, da miséria da falta de oportunidades. Dirão a pobre criança foi compelida ao crime, ela não queria. E aquelas velhas ladainhas de sempre.
O único alento que temos neste último crime é que diferente das outras vezes, na incompetência do estado e da sociedade em conter a violência, até onde tenho acompanhado, não estão colocando a culpa na vítima. Pelo menos até onde sei e ao menos por enquanto. Ao menos isso.
A partir de meados dos anos oitenta e noventa, tornou-se comum, atribuir à vítima a responsabilidade por sua própria morte. Era mais fácil, o cidadão não estava aqui para se defender, colocava-se a culpa nele. Matava-se a pessoal fisicamente e depois moralmente. Depois, ninguém mais falava no assunto, aqui se tem o hábito de se esquecer até o que se jantou na noite anterior, e ficava o dito pelo não dito. Quantas vezes não vimos isso acontecer? Na verdade, ainda acontece, só que com menos freqüência e com mais desfaçatez.
O que temos de certo é que estado não se mostra capaz de enfrentar a criminalidade que assombra todos nós. Bairros tradicionais da cidade, onde comumente, os jovens e suas famílias ficavam nas portas ou nas pontas de rua batendo papo, basta dá sete horas da noite e ficam iguais a cidades fantasma, não se ver mais quase ninguém nas ruas. Estão todos trancados dentro de casa. Os poucos que se arriscam, ainda que por necessidade é correndo o palpável risco de ser assaltado ou de sofrer uma violência ainda maior. O risco é até de se entrar em casa. O cidadão para o veículo para abrir o portão e já sabe que se “vacilar” os bandidos entram junto ou tomam seu carro, sua moto. Isso não acontece num mundo distante, é aqui mesmo. Todo dia ouço essas histórias. Basta acompanhar o balanço dos programas matutinos de rádio. Não lembro um dia em que não ouvi as notícias desses sinais artificiais de violência.
O pior de tudo não é sabermos que a violência está presente e batendo à porta, é sabermos que não uma política de enfrentamento das causas ou ostensivas de patrulhamento e segurança. É como se ninguém tivesse nada isso.
Ora, se é certo, como diz o senhor secretário que a sensação de insegurança é ARTIFICIAL, não é menos certo que a política de segurança seja virtual.