Da Folha
A temperatura na tribuna da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) subiu na terça-feira (5), com aliados do governador Geraldo Alckmin (PSDB) disparando ataques ao prefeito João Doria (PSDB).
“O senhor é um traidor. Vou repetir: o senhor é um traidor. E não existe nada pior no mundo do que a traição. O senhor traiu o governador vergonhosamente”, discursou o deputado estadual Campos Machado (PTB).
O governador paulista quer disputar a Presidência, mas vê seu antigo afilhado político em movimentação para tentar se credenciar para a campanha, com viagens frequentes a cidades, especialmente no Nordeste.
“A cidade não tem prefeito. O prefeito é um turista que vem de vez em quando a São Paulo. Ele dizia que era gestor. Ele nunca foi gestor, ele é político. E mais político que nós. Nós somos amadores perto de João Doria, esse é profissional.”
Também se pronunciou o tucano Carlos Bezerra Jr., marido da vereadora Patrícia Bezerra (PSDB), ex-secretária municipal que deixou a gestão Doria após sua ação na cracolândia.
“O prefeito está viajando demais. Está se ausentando demais para receber honrarias e medalhas e homenagens por todo o país”, criticou.
O prefeito disse que a tecnologia permite que se governe à distância, lembrou Bezerra.
“Eu, pessoalmente, sugiro ao prefeito que inverta a lógica. Já que a tecnologia permite essa ação virtual, que o prefeito receba as homenagens de forma virtual e que governe de forma presencial.”
Em entrevista nesta quarta-feira (6), Doria respondeu a Machado. Negou que seja candidato, mas disse que, “ainda que fosse, que tipo de crítica pode haver?”. “No dia em que alguém que desejar fazer isso [participar da vida democrática do país e apresentar suas propostas] for classificado como traidor, temos a ditadura no Brasil.”
PECHA
“Não fui duro, fui justo”, disse Machado à reportagem. “Sei a dificuldade que Geraldo passou para conseguir emplacar o Doria, assisti telefonema meio ríspido entre ele e [o senador José] Serra e ele e Aloysio [Nunes, ministro], enfrentando [o ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso, que não queria o Doria.”
O deputado estadual minimizou, porém, a chance de o prefeito inviabilizar os planos do governador em se lançar candidato a presidente. “Pode mudar para qualquer partido, vai levar com ele a pecha de traidor.”
“Não posso fazer previsão do futuro mas, a continuar desse jeito, não terá futuro político. Vai ter que voltar a ser gestor”, concluiu.