Por Milton Corrêa da Costa
Neste 05 de julho de 2012, faz -o verbo fazer quando indica tempo é impessoal- exatamente 30 anos da segunda maior tragédia do futebol brasileiro: a derrota da seleção para a Itália (3×2) na Copa da Espanha, no Estádio Sarriá. Com os meus quase sessenta e quatro anos de vida e mais de cinquenta de torcedor de futebol, integrante da nação rubro-negra -o time da Gávea pratica hoje o anti-futebol- não tendo, portanto, recordação da tragédia na derrota para o Uruguai (2×1), que calou o Maracanã, na Copa de 50, fui, no entanto, com os olhos incrédulos na TV, como milhões de brasileiros, testemunha ocular da tragédia de Sarriá onde, injustamente, o futebol-arte deu lugar ao futebol defensivista dos brucutus e dos cabeças-de-bagre onde, contrariando a lógica do futebol, defender é mais importante do que marcar gol no adversário.
Zico, Sócrates, Falcão, Cerezo, Leandro, Junior, integrantes daquele timaço ( que saudades..), discípulos da célebre geração da Copa de 70 e representantes de uma inesquecível geração do futebol-arte, que praticava, sob a batuta do técnico Telê Santana, o mais refinado estilo do futebol ofensivo, foram castigados naquela fatídica tarde de 05 de julho. Quiseram os “Deuses do Futebol” que o futebol-eficiência, a garra do time italiano e sobretudo a sorte do atacante Paolo Rossi (três gols) falassem mais alto. Nem o “Sobrenatural de Almeida”, personagem criado pelo saudoso Nelson Rodrigues, talvez seja capaz de explicar até hoje tamanha tragédia. Jamais havia sentido tanto o dissabor de uma derrota no futebol, nem nos 3×0 do Botafogo sobre o meu Mengão, na decisão do campeonato carioca de 1962, onde o endiabrado Garrincha,como em tantas vezes, brilhou intensamente.
Se alguns de nossos talentosos jogadores falharam naquele 05 de julho, onde na manhã do dia seguinte o país, de luto, permanecia mudo e incrédulo, não é digno e ético que se procurem eternamente os culpados. No futebol association todos perdem, empatam ou ganham juntos. Ainda que um ou outro jogador se destaque mais numa equipe ou durante uma partida, ele sozinho não ganha o jogo. Tampouco perde. Falhas nas quatro linhas são próprias de seres humanos que não são infalíveis e são partes integrantes de uma equipe.
O mais importante é que a história da justiça com o futebol-arte tarda mais não falha. Quiseram os “Deuses do Futebol” que o futebol-talento, hoje mais aperfeiçoado (técnica e competitividade), ressurgisse novamente com a seleção da Espanha e com o time do Barcelona, justamente no país onde o futebol-talento havia sido enterrado há 30 anos. Dá gosto ver Xavi, Iniesta, o genial Messi, Xabi Alonso e outros talentosos craques mostrarem ao mundo e aos adeptos do futebol-retranca, a maravilha de uma nova escola de futebol, praticado numa época em que os espaços nos gramados foram encurtados pelo avanço da preparação tática e física, provando que a tarde de 05 de julho de 1982 não quebrou paradigmas do futebol bem jogado.
Não há dúvida que o futebol ofensivo e talentoso, tão berm defendido por Telê Santana, tem um indiscutível favorito para a Copa de 2014 no Brasil e candidata ao bi-campeonato: a seleção espanhola. O futebol-arte jamais morrerá e o Brasil corre o sério risco, mesmo com o talento de Neymar, de preparar uma Copa para que a taça e a festa sejam entregues as espanhóis. Tomem conhecimento os técnicos retranqueiros do futebol brasileiro.
Parabéns ao Corinthians pela Copa Libertadores da América. A técnica e a competividade do meia Alex e a modernidade do técnico Tite me enchem os olhos. Os talentos e a competência na arte do futebol jamais morrerão.
Milton Corrêa da Costa é torcedor do Flamengo e admirador do futebol-arte