Por Milton Corrêa da Costa
No Rio de Janeiro, fica constatado, claramente, que estamos diante de um nova estratégia narcoterrorista de ataque às bases das Unidades de Polícia Pacificadora, perpetrada pela ação da criminalidade violenta com o intuito de intimidar o poder público, objetivando desacreditar, perante a sociedade, o novo projeto de ordem pública e aterrorizar novamente os que desfrutam hoje de paz social em 140 comunidades (25 UPPs) onde o importante modelo de policiamento, juntamente com um programa de ações sociais, já foi implantado.
Só que agora a resiistência das facções criminosas ao diferenciado projeto de ordem pública tornou-se agressiva e perigosamente preocupante, diferentemente da simples fuga do reduto criminal, havendo agora, nitidamente, o emprego de táticas de guerrilha urbana ( emboscada) com a utilização do elemento surpresa, associado ao período noturno, na ação de ataque às bases das UPPs, objetivando a baixa letal nas forças de segurança, como o lamentável episódio da morte da soldado PM Fabiana Aparecida de Souza (30 anos) na UPP de Nova Brasília, no Complexo do Alemão, na noite desta segunda-feira (22/07). Ousadia extrema.
Tal lamentável fato pode, inclusive, encorajar o banditismo para ações semelhantes – é a primeira morte de um policial em UPP em confronto com o banditismo- deixando o próprio contingente policial vulnerável à nova modalidade de ação criminal. Ressalte-se que o colete de proteção balístico, portado pela vítima fatal, não resistiu à potência e à penetração do tiro de fuzil o que comprova, mais uma vez, o poderio bélico do narcoterrorismo no Rio.
Há que se repensar, mais do que nunca, a partir de agora, no planejamento e elaboração de medidas de segurança física e de proteção cada vez mais consistentes das sedes das UPPs, principalmente no período noturno, com implantação de barreiras físicas que desencorajem a ação marginal e proporcionem relativa segurança -a segurança plena é utopismo no mundo- aos policiais ali de serviço. A fração de tropa empregada nas UPPs terá também que rever a forma de guarda da unidade policial e o deslocamento em patrulhamento noturno, que a torne menos vulnerável e inferiorizada taticamente.
É preciso entender que vivencimaos uma das mais violentas e difíceis guerras dos tempos atuais, de caráter permanente, onde todo cuidado é pouco: a guerra urbana. Uma nova modalidade de guerra, mais complexa e diferenciada das guerras convencionais, onde no caso do Rio de Janeiro o teatro de operações são os morros e favelas, terrenos extremamente acidentados, de difícil progressão, antagônicos às forcas de segurança, contando ainda com a presença maciça de população ordeira e onde só se pode atuar nos limites da lei. Ainda temos muito que aprender em tal cenário de guerra diferenciada, sem dúvida.
Quem imaginava. portanto, que o narcoterrorismo sucumbiu, com a implantação do projeto UPPs, com o isolamento de suas lideranças em penitenciárias de segurança máxima fora do Estado e com o enfraquecimento lhe imposto pela dura ação ofensiva das forças de segurança, terá que rever seus conceitos. O recente e ousado ataque de 15 bandidos à 25a Delegacia Policial, na Zona Norte do Rio, com o resgate do traficante DG, mostrou claramente que o narcoterrorismo não morreu em sua essência. Pelo contrário, está mais atuante do que nunca e permance ousado. Para derrotá-lo fragorosamente tornou-se mais difícil uma vez que, de tempos para cá, passou a atuar de forma descentralizada e em redes (em grupos) onde não há mais traficantes ditos inimigos número um da polícia, o que torna a ação policial mais complexa, precisando estar centrada, mais do que nunca, em dados da inteligência policial. Só se obtêm sucesso nesta guerra com a utilização do binômio inteligência e ação proativa. Não há dúvida.
Precisamos, pois, calçar as sandálias da humildade e desenvolver, contra a criminalidade atípica e ousada do Rio, ações proativas permanentes de busca e vasculhamento nos redutos da criminalidade em morros e favelas. A ofensiva tem que partir das forças legais de segurança.Tudo pode se esperar do banditismo do Rio e o nosso aparelho policial necessita, portanto, tornar-se menos vulnerável
Se o ataque às bases dAS UPPs virar moda, a relativa sensação de segurança até aqui vivenciada pode novamente transformar-se numa ambiênca de temor generalizado ao crime, tal e qual os episódios de novembro de 2010, com o toque de recolher imposto implicitamente por traficantes à população do Rio, culminando com incêndios constantes a coletivos, levando o terror ao seio populacional, dando causa à urgente e necessária ocupação, pelas forças de segurança, da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão, sendo este, até então, o quartel general do narcotráfico no Rio.
O preço da paz social é a eterna vigilância. O narcoterrorismo não morreu em sua essência. É preciso ter ciência e consciência plena disso e enfraquecê-lo no grau máximo. À destemida soldado PM Fabiana que bravamente, na defesa da sociedade, lutou contra mais de dez perigosos meliantes, os nossos aplausos pelo exemplo de heroísmo deixado, tendo derramado o seu sangue e infelizmente perdido a própria vida na defesa do bem. Aos covardes assassinos o repúdio da sociedade e o máximo rigor da lei. A sociedade organizada jamais poderá render-se ao banditismo.
Milton Corrêa da Costa é tenente coronel da reserva da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro
Obs. Volto a assinar como tenente-coronel pelo fato da Lei Estadual 4848/06, que me promoveu ao posto imediatamente superior, já na reserva da corporação, ter sido julgada recentemente inconstitucional.