Por Abdon Marinho.
O que é o amor? De uma hora para outra leio declarações de amor para o maranhão. Todos amam o estado. E amam tanto e com tal intensidade que sentem a necessidade de externar. Não amam com ações, com palavras. E amor que dizem sentir é amor cego, aquele não enxerga os defeitos, o amor pernicioso da posse e da dominação.
Dizer que ama sem enxergar os defeitos não é amor. Não se pode amar o que não se conhece. Quando não se conhece os defeitos, quando se tenta a todo custo negar a sua existência está a negar-se o próprio amor.
Muitos são os declaram o amor pelo Maranhão. Poucos são os que conhece o estado e seu povo. É possível amar sem conhecer?
Uma vez um jornalista amigo me perguntou se eu achava que o Maranhão iria avançar – isso já tem uns dois anos –, disse-lhe mais, o estado não tem como não crescer, ainda que os nossos governantes tudo façam para que isso não ocorra, o crescimento virá. Cheguei a escrever sobre isso entre 2011 e 2012. Não é que eu seja um sábio, não, muito pelo contrário, é que o Maranhão reunia e reúne as condições para um crescimento acima da média. Esse crescimento não vem no volume que se espera e anseia devido a incompetência das autoridades, a falta de visão dos administradores, o interesse em manter a miséria. Ano passado o estado cresceu 15% (quinze por cento) e eu digo: só? As nossas condições para o crescimento sempre foram bem superiores as taxas que se apresentam. E, como digo sempre é um crescimento torto, um crescimento fundado na concentração de renda. Temos uma elite muito rica falando em milhões, lagosta e caviar e na outra ponta temos a maioria da população falando em bolsa-família, sururu e calango.
Isso quando tem o que comer. Quando olhamos o Maranhão sabemos que o crescimento que é real (eu não brigo com os números), não chega para o grosso da sociedade. Aqui na capital temos um dos metros quadrados mais caros do Brasil, apartamentos que custam milhões de reais, parte da elite falando em imóveis no Rio de Janeiro, São Paulo ou em Miami (USA), como se fala em ir a Barreirinhas, enquanto no interior ainda impera as casas de pau-a-pique, cobertas de palhas, enquanto a maioria das famílias sobrevivem graças aos programas sociais de transferencia de renda, bolsa disso, daquilo e daquilo mais enquanto ninguém se fala numa política de geração de renda que retire as pessoas da miséria e do abandono. A miséria funciona como uma espécie de indústria a gerar dia a pós dia eleitores dispostos a trocar seu voto por um prato de comida.
Muitos dos que dizem que amam o estado apresentam esse crescimento como prova de amor. Se é assim, poder-se-ia apresentar os demais indicadores como prova de ódio. Já estamos cansados de saber que somos quase o último em quase tudo que é indicador, quando não estamos em últimos estamos em penúltimo, rivalizando com o paupérrimo Estado de Alagoas. Vejam essa equação: O Maranhão que cresceu mais de 15% (quinze por cento) ano passado, rivaliza e alterna com Alagoas os últimos lugares nos indicadores sociais. Me respondam: Isso está certo? Um estado com tanto potencial rivalizar em quase tudo com o Estado de Alagoas que não possui riqueza nenhuma? É esse o amor que os nossos governantes tem pelo estado?
Sempre que falo sobre o crescimento do Maranhão uma ideia em sentido contrário me vem a cabeça. Estávamos no período de racionamento de energia. Todos os cidadãos, tendo que desligar suas coisas, etc. Quando foi feito a avaliação das regiões que mais economizaram energia o norte e o nordeste ficaram por último. Um julgamento apresado levaria a imaginar que o povo destas duas regiões não teriam comprometimento com o país pois não poupavam energia, não contribuíam com o esforço nacional. A realidade é que em ambas as regiões as pessoas já não tinham mais o que economizar, pois o consumo normal já era o maior exemplo de economia. Era como uma pessoa cujo o regime não permitia mais nenhum aperto no cinto.
O crescimento do Maranhão era assim. Chegamos ao ponto em que os governantes, a elite que sempre esteve no poder não tinha e não tem mais como conter o avanço, daí as razões do crescimento. Entretanto, o que podem e o que tem feito é impedir que esse crescimento chegue para as pessoas. Na verdade chegam para bem poucos. Convivemos num estado em que a educação está na rabeira da rabeira, a saúde pede socorro para o Estado do Piauí, o saneamento básico não chega para 96% (noventa e seis por cento) da população. Sobre isso as mesmas desculpas de sempre. Será que ninguém tem vergonha de termos que conviver com números como estes?
Assim como vivemos na nossa vida pessoal, as declarações de amor não correspondem a práticas do dia a dia. Mais parece com a prática daquele cidadão que todo dia e para todos diz que ama a esposa e dentro de casa a espanca dia sim e no outro também até quase levar o seu objeto do amor à morte. Como nestes casos, não duvido do amor, que deve ser do tipo doentio, que é confundido com posse, com propriedade, com o “eu sou o seu dono”. O tipo de amor que não serve. É o amor dos covardes, o amor mil vezes declarado mas que não se materializa no afeto ou no carinho e que apenas é declarado com receio da perda. Não perda por amar, mas a perda da posse.
Em sentido reverso não duvido do amor que tem o nosso estado pelos seus governantes, pela sua elite. Foi o estado que lhes deu tudo que têm. Toda sua fortuna, toda sua riqueza foi retirada do nosso pobre Maranhão. Riqueza que não é partilhada pelo conjunto da sociedade. Muitos possuíam uma coleira que carregavam na mão – a cachorrinha, já tinham comido tempos atrás –, e aqui fizeram fortunas.
O Maranhão sim, tem amado muito essa elite. Entretanto não tem recebido o mesmo amor de volta. É um amor que não é correspondido. Na verdade é um amor que muito se assemelha aquele amor de uma música que ouvi que dizia mais ou menos assim: “Ex my love ô, ô, ô, ex my love, se botar teu amor na vitrine ele não vai valer 1 e 99.”
O amor que muitos dizem sentir pelo Maranhão é assim, tal qual a música, se colocarmos na vitrine não vai valer R$ 1,99.
É o que penso. É o que testemunho. E ainda, sobre o amor, indago: Quem ama maltrata?