Blog do Ribamar Corrêa
A prisão do empresário e ex-chefe da Casa Civil João Abreu, acusado de ter recebido propina para facilitar o pagamento de precatório à empreiteira Constran durante o último governo de Roseana Sarney (PMDB) – um caso sobre o qual paira um denso nevoeiro de dúvidas – mexeu com a classe política do Maranhão, tanto no campo da oposição quanto no da situação. Poucas foram as manifestações de apoio e solidariedade ao preso que vieram a público, como também não se tem conhecimento de alguma declaração aplaudindo a ação policial, embora o assunto tenha dominado todas as rodas de conversa. As poucas opiniões expressadas em público revelaram que existem coerência e sentimento de solidariedade no pragmático universo político, onde o que prevalece é o jogo bruto da defesa de interesses.
Quatro exemplos – protagonizados pela ex-governadora Roseana Sarney, pelos deputados estaduais pemedebistas Max Barros e Roberto Costa, pelos líderes da base parlamentar governista e pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado Humberto Coutinho (PDT) – mostraram diferentes visões políticas e posturas que só se revelam em situações complexas como essa, em relação à qual a regra é o quanto mais distante, melhor.
Inteiramente envolvida com o episódio, a ex-governadora Roseana Sarney fez o seu papel de ex-chefe e de amiga divulgando uma nota em que protestou veementemente contra a prisão do ex-auxiliar e amigo, e acusou o governador Flávio Dino (PCdoB) de estar por trás da ação e de usar a polícia e a justiça para atingir e intimidar adversários, criando um clima de perseguição e intolerância. Menos agressivos, mas com alguma contundência, os deputados Max Barros e Roberto Costa, ambos do PMDB, se manifestaram na Assembleia Legislativa com correção criticando a prisão, que classificaram de “desnecessária”, e externaram solidariedade ao ex-colega de secretariado. Por sua vez, os líderes governistas preferiram silenciar sobre o caso, numa atitude que pode ser interpretada como prudência política.
Em meio a todo esse cenário de surpresa, perplexidade e cautela, um gesto pessoal, mas com expressiva dimensão política, foi praticado na manhã de domingo. Desafiando todas as possibilidades de interpretação, tanto por parte de aliados quanto na seara dos adversários, o deputado Humberto Coutinho, presidente do Poder Legislativo, dirigiu-se ao local da prisão e ali, com a anuência do delegado Augusto Bastos, fez uma visita ao ex-chefe da Casa Civil do Governo Roseana Sarney, a quem manifestou sua solidariedade. A amigos e aliados surpresos com o movimento, Coutinho deu uma explicação simples e definitiva: João Abreu é seu amigo, encontra-se numa situação delicada e ele não poderia deixar de manifestar-lhe a sua solidariedade pessoalmente. Antes, comunicou sua decisão ao governador Flávio Dino, de quem é o principal articulador político.
A visita, tudo indica, não levou em conta o motivo da prisão e não significou a expressão de um juízo relacionado com culpa ou inocência de João Abreu. Foi somente um gesto solidário, que, dado o seu caráter inusitado, o expôs a todos os riscos de ser mal interpretado, inclusive no viés mais sensível, o político.
Para dois atentos observadores do cenário político maranhense, a iniciativa do deputado Humberto Coutinho contribuiu ainda mais para consolidar um estilo de ação política diferenciado, discreto, eficiente e, principalmente, agregador. É nessa linha que vem comandando a Assembleia Legislativa, reconhecido até pelos adversários mais zangados. É a costura política feita com a conversa desarmada e a negociação franca, que não dá lugar para o confronto em estado bruto, não dá corda para embates desnecessários nem deixa espaços para ataques e xingamentos.
É esse modus operandi discreto, no qual um gesto às vezes diz muito mais que um discurso, e que é revelador de uma sólida experiência que teve seus altos e baixos, que o presidente da Assembleia Legislativa vem, aos poucos, imprimindo no cenário político estadual. É o que lhe confere autoridade para ser hoje o principal interlocutor político do governador Flávio Dino, em nome de quem atua para desarmar bombas como negociador confiável.