“Ele entrava na sala, ele chegava para mim e dizia: ‘Henrique, você tem algum assunto que precise tratar? Porque eu tenho um assunto que preciso tratar com você, antes que o fiscal chegue’. Aí os assuntos não republicanos eram tratados nesse momento, porque depois entrava esse fiscal.”
A declaração é do ex-executivo da área de energia da Odebrecht, Henrique Serrano de Prado Valadares, em um de seus depoimentos à força-tarefa da Operação Lava Jato, sobre dinheiro repassado ao senador Edison Lobão (PMDB-MA).
Em vídeo tornado público na última semana, Valadares detalhou como eram feitos os repasses a Lobão, que à época era ministro de Minas e Energia.
“As entregas eram feitas na residência do filho que aqui no Rio. Então a entrega de pagamento, de dinheiro era feita na casa desse…” afirmou o delator.
Ex-funcionário da Odebrecht possivelmente se refere a Márcio Lobão, que é o filho do senador que mora no estado do Rio de Janeiro. Ele é presidente da Brasilcap, braço dos planos de capitalização do Banco do Brasil.
Os pagamentos de propina eram referentes as obras da Usina de Jirau, localizada no rio Madeira em Rondônia. Lobão chegou a receber cerca de R$ 5,5 milhões da Odebrecht.
“Ele sinalizava que iria nos ajudar (no projeto de Jirau) e que precisava da nossa ajuda. To falando de propina. Marcelo (Odebrecht) acreditou. E sem que ele entregasse nada, simplesmente para que ele fizesse um esforço e usando os nossos argumentos, que eram verdadeiros e absolutamente legais, criasse um contraponto com a Casa Civil. Para isso surgiu o pagamento de R$ 5,5 milhões. Com certeza era caixa 2”, garantiu Valadares.
O ex-chefe do setor de energia da construtora afirmou que conheceu o senador por intermédio do então funcionário da Odebrecht Luis Almeida, que morou por muito tempo no Maranhão e tinha uma boa relação com os grupos Sarney e Lobão.
“Luis Almeida foi o cara que morou por muitos anos no Maranhão pela Odebrecht e depois por contra própria por uma empresa dele. Muito íntimo das famílias Sarney e Lobão. Na minha cabeça deu logo ele. E não deu outra. Ele ligou para Lobão, que me recebeu. O Lobão nunca tinha me visto na vida, me recebeu, era época de fim de ano. Eu cheguei ao gabinete dele, começamos a conversar e ele me confirmou que tinha de fato um compromisso dele vir a se tornar Ministro de Minas e Energia”, explicou Henrique Valadares.
Em seguida, o ex-funcionário da Odebrecht fala que mesmo sem conhecê-lo, antes de ser empossado, Lobão mostrou-lhe uma lista de diretores de órgãos ligados ao Ministério de Minas e Energia e seus padrinhos políticos e o questionou se conhecia os mesmos. “Daí em diante, ele empossado as conversas começaram a seguir um protocolo. Era marcar reuniões, via secretária, com o fiscal”.
Henrique Valadares disse ainda que o suplente de senador Edison Lobão Filho participava das reuniões e parecia conhecer muito sobre os assuntos tratados nos encontros.
Veja o vídeo na íntegra